O Carnaval de Veneza é uma das celebrações mais icônicas e encantadoras da Itália e do mundo. Neste ano, acontecerá de 09 a 13 fevereiro. Esta festa extravagante, conhecida por suas elegantes máscaras e trajes elaborados, tem raízes profundas na história veneziana e atrai visitantes de todo o planeta. Vamos explorar a fascinante história e as tradições que tornam o Carnevale di Venezia uma experiência única.
Origens do Carnaval de Veneza
As origens do Carnaval de Veneza remontam ao século XI, quando a República de Veneza era um dos principais centros comerciais e culturais da Europa. A festa originalmente marcava o início da Quaresma, um período de jejum e abstinência antes da Páscoa. Durante o Carnaval, como é comum em todas as festividades carnavalescas desde a Idade Média, as restrições sociais eram suspensas, permitindo que as pessoas de todas as classes sociais se misturassem anonimamente. Esse é um elemento importante que descreve os movimentos de carnavalização, a superação das classes por meio da fantasia, da máscara e das variadas inversões de papéis que colocam os indivíduos diante da possibilidade de serem outras pessoas durante a festa. É então no espaço público que essas pessoas descobrem outras maneiras de ser e de pensar.
Máscaras e disfarces
Uma das características mais distintas do Carnaval de Veneza é o uso de máscaras e trajes elaborados. As máscaras venezianas variam de simples meias-máscaras até criações que cobrem o rosto inteiro. Surgiram nessa época profissões e famílias como os “mascareri”, artesãos que produziam as máscaras para os foliões. As mais famosas são as máscaras da Commedia dell’Arte, inspiradas nos personagens da comédia italiana do século XVI. Usar uma máscara permitia que as pessoas se expressassem livremente e se envolvessem em comportamentos que, de outra forma, seriam socialmente inaceitáveis.
E não apenas as ruas de Veneza também ganham as cores das fantasias com desfiles extravagantes e competições, também as águas ficam tomadas de gôndolas coloridas, carregando pessoas fantasiadas. Os desfiles são uma verdadeira festa para os olhos, com participantes vestidos com trajes espetaculares e máscaras ornamentadas. E os concursos de fantasias destacam a criatividade e a habilidade dos venezianos em criar trajes deslumbrantes.
No início do século XVII, com o aumento do número e da qualidade das companhias de teatro, desenvolveram-se verdadeiras atividades ligadas ao mundo da comédia teatral, das artes cênicas e do artesanato de figurinos e máscaras.
Inúmeros dramaturgos talentosos surgiram nesse período, tornando-se famosos por realizarem obras cada vez mais refinadas e complexas. A definição de commedia dell’arte nasceu em Veneza, e remonta a 1750, quando o dramaturgo Carlo Goldoni a introduziu em sua comédia Il Teatro Comico.
Carnaval de Veneza: bailes de Máscaras e Festas
Os bailes de máscaras são uma parte essencial do Carnaval de Veneza. Durante os dias de festa, muitos palácios históricos de Veneza abrem suas portas para festas extravagantes. Nestes bailes, os participantes dançam ao som de música clássica e usam trajes elegantes, criando uma atmosfera nostálgica de luxo e romance. Uma verdadeira viagem no tempo. O baile mais famoso é o “Baile do Ridotto”, que teve sua origem no século XVIII e é considerado um dos eventos mais prestigiados do Carnaval.
O declínio e o renascimento
O Carnaval de Veneza experimentou um declínio no século XVIII, com a queda da República de Veneza e a ascensão de Napoleão Bonaparte. Em 1797, com o levante do imperador francês, o carnaval deixou de ser comemorado. Durante muitos anos, a celebração foi proibida sob o domínio austríaco. No entanto, o espírito do Carnaval nunca foi esquecido, e ele ressurgiu no século XX.
La Festa delle Marie: o carnaval hoje em dia
Hoje, o Carnaval de Veneza é uma celebração internacionalmente reconhecida que atrai visitantes de todo o mundo. A festa começa cerca de duas semanas antes da Terça-feira de Carnaval e culmina nesse dia, quando ocorre o famoso Il Volo dell’Angelo (Voo do Anjo). Durante essa cerimônia, uma jovem desce do Campanário de São Marcos até a Praça de São Marcos, simbolizando o início das festividades.
Il Volo dell’Angelo
É incrível pensar que uma festa tão antiga passou tanto tempo sem realizações. Foi tanto tempo que é possível entender a reconstrução da arte desse evento como uma arqueologia. Somente em 1999 a antiga Festa delle Marie (Festa das Marias) foi finalmente restaurada – ressurgindo feito fóssil, cerca de seiscentos anos depois! A ambientação da Festa delle Marie combina a reconstituição histórica da antiga procissão com um concurso de fantasias mais moderno.
Durante as semanas que antecedem a Terça-feira de Carnaval, Veneza se enche de festas, desfiles, competições de fantasias e eventos culturais que atraem visitantes de todo o mundo. A cidade se transforma em um palco de luxo e mistério, e as tradições centenárias do Carnaval são honradas a cada ano.
Carnaval de Veneza: preservando a tradição
O Carnaval de Veneza é uma celebração que preserva a rica herança cultural e histórica da cidade. As tradições de máscaras e trajes suntuosos continuam a ser honradas, e os venezianos trabalham arduamente para manter viva essa parte importante de sua identidade cultural. Trata-se, portanto, de uma reconstrução histórica que é muito mais do que uma simples festa. É uma celebração do ressurgimento de uma antiga Veneza, de sua cultura original e da criatividade de gerações e gerações de séculos distantes.
As raízes profundas e tradições encantadoras cativam aqueles que têm a sorte de participar. Ao visitar Veneza durante o Carnaval, você terá a oportunidade de mergulhar em um outro mundo, onde o passado e o presente se entrelaçam de maneira única. É uma experiência que deixa uma impressão duradoura na memória.
Aproveite para assistir o momento em que o Prof. Darius experimentou a sensação de uma viagem no tempo em Veneza, quando passeou pela cidade com a Profa. Paola Baccin, conhecendo mais sobre a máscara usada no período da Peste e também entendendo a data comemorativa que é festejada no dia 21 de novembro. Tudo isso à bordo de um trabaccolo, um verdadeiro barco da época mantido até hoje em Veneza!
A Itália não é conhecida apenas como uma nação rica em herança cultural e histórica, recentemente as notícias têm aumentado sobre os dados que apontam que o Bel Paese enfrenta um desafio demográfico que moldará significativamente seu futuro. Entra ano, sai ano, lemos estudos afirmando que a população da Itália está cada vez mais idosa, e que na União Europeia, a Itália é o país que envelhece mais rápido! Portanto, é fato: nas últimas décadas, a população idosa na Itália tem crescido de forma constante, levando a uma mudança fundamental na estrutura etária do país. Esse aumento no número de idosos apresenta desafios significativos, mas também oportunidades únicas para a sociedade italiana.
A Itália apresenta uma das expectativas de vida mais altas do mundo, com uma taxa de fertilidade relativamente baixa. Isso resulta em uma população mais idosa, com um número crescente de pessoas com 65 anos ou mais. Atualmente, 23% da população tem 65 anos ou mais, e esse número deve aumentar para 33% até 2050. Esse envelhecimento traz, por exemplo, desafios econômicos, pois significa que há uma diminuição da força de trabalho, que, quando entra em declínio, aponta a necessidade de se ajustar o sistema de previdência social para atender a essa população crescente.
Também o sistema de saúde começa a passar por uma nova fase de adaptação, para se ajustar às necessidades de saúde específicas dos idosos.
Nos últimos anos, o sistema de saúde italiano está se adaptando para oferecer cuidados de saúde de alta qualidade aos idosos. Programas de prevenção e tratamento de doenças crônicas, bem como cuidados paliativos, estão se tornando cada vez mais relevantes. Além disso, muitos idosos italianos desfrutam de uma vida ativa e saudável, com uma dieta mediterrânea e um estilo de vida que valoriza o convívio e o exercício físico. Aliás, você sabia que algumas cidades italianas entraram para o livro dos recordes com as maiores expectativas de vida do planeta?
Clique aqui para ler nosso artigo sobre O segredo dos italianos para viverem até os 100 anos.
Idosos na Itália
Apesar dos desafios, o envelhecimento da população também traz oportunidades. A sabedoria e a experiência dos idosos são muito valorizadas na sociedade italiana. Muitos idosos desempenham papéis ativos na família, na comunidade e na política, proporcionando uma rica fonte de conhecimento e liderança.
Além disso, a Itália tem uma rica tradição de solidariedade intergeracional, em que as gerações mais jovens têm a responsabilidade de cuidar e apoiar os idosos. Isso cria laços fortes dentro das famílias e comunidades. Um ótimo exemplo disso é a tradição da Festa dei Nonni na Itália. Aproveite para ler aqui nosso artigo sobre essa importante data, que celebra a sabedoria e o amor dos avós!
Embora o envelhecimento da população na Itália seja um desafio complexo, podem descobrir oportunidades únicas em uma sociedade que saiba repensar a maneira como valoriza e apoia seus idosos. A Itália poderá, cada vez mais, capitalizar a sabedoria e a experiência de sua população mais velha, reforçando os laços familiares e comunitários. A adaptação a essa mudança demográfica, em qualquer sociedade, é fundamental para garantir um futuro próspero e sustentável ao país e aos seus cidadãos de todas as idades.
Viva a Itália e o legado dos mais velhos!
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Burgos italianos são cidades fortificadas, tesouros da civilização medieval que a Itália abriga nos topos das colinas, feito miniaturas saídas dos sonhos. Essas cidades estão localizadas nos topos das montanhas por uma boa razão, como veremos ao longo do texto de hoje. Nos burgos, encontramos ruas estreitas e uma arquitetura encantadora, com edificações que há séculos são testemunhas silenciosas do florescimento da cultura e da sobrevivência de uma sociedade que enfrentou desafios do período das invasões dos bárbaros.
Burgos medievais: vimos de perto!
Em uma de nossas viagens, descobrimos uma Cidade Fantasma, localizada no Monte Antuni, que nos ensinou muito sobre o período de formação dos burgos.
Aprendemos com o nosso guia Giovanni Giovanelli que os burgos foram vilarejos medievais construídos geralmente no topo das colinas, por conta de sua posição estratégica na defesa contra invasões, que eram constantes na Idade Média. Foi um período da história chamado de “encastelamento”. Era um tempo em que os castelos não eram necessariamente luxuosos, como aqueles que imaginamos quando pensamos na aristocracia: eram construções que prestavam apenas ao objetivo de defender o povo nos momentos de perigo.
Uma era de fragmentação
Durante a Idade Média, a Itália não era uma nação unificada, como a conhecemos hoje. Era uma terra fragmentada, dividida em pequenos reinos e cidades-estado. Foi nesse cenário que os burgos medievais começaram a surgir. Essas cidades fortificadas eram construídas em colinas e montanhas, estrategicamente posicionadas para defesa contra invasões. Suas muralhas imponentes e portões maciços eram testemunhas de uma época de incerteza e conflito.
Por isso, caminhar pelas ruas de um burgo medieval é como fazer uma jornada no tempo. Ruas de paralelepípedos, casas de pedra e praças pitorescas criam uma atmosfera encantadora. Muitos desses burgos são notáveis também por suas igrejas ornamentadas, cujas fachadas e interiores são testemunhos da devoção religiosa e do talento artístico da época, que resistiam a um período de sobrevivência, muitas vezes graças às contribuições dos cidadãos do burgo, que se juntavam em doações para garantir que o espaço público contasse com a construção de uma área de comunhão. Nesse caso, a fé se provava mais uma aliada, tanto do ponto de vista da fé, como nas questões práticas da defesa física do espaço. As igrejas antigas faziam parte da fortificação, como um complexo defensivo que podia se unir às torres de um burgo, criando um único corpo de abrigo e defesa. Um bom exemplo disso é a Igreja de San Giovanni Evangelista que pudemos ver de perto, em Castel di Tora.
Comércio, cultura e os riscos das construções no topo das colinas
Os burgos medievais não eram apenas fortalezas defensivas, mas também centros de comércio e cultura. Suas localizações estratégicas ao longo de rotas comerciais importantes permitiam o florescimento do comércio. Os artesãos locais produziam artigos de luxo, como jóias, tapeçarias e cerâmica, que eram exportados para outras regiões da Europa.
Além disso, essas cidades fortificadas eram frequentemente centros de aprendizado e cultura. Mosteiros e escolas desempenhavam um papel fundamental na preservação do conhecimento e na educação. Os manuscritos iluminados e os tratados filosóficos produzidos nesses burgos medievais ainda são estudados e admirados hoje em dia.
Civita di Bagnoregio
Outro burgo impressionante que pudemos conhecer de perto é o da Civita di Bagnoregio.
Imagine uma cidade medieval nas nuvens, correndo o risco de desaparecer porque foi construída no topo de uma montanha que está se desfazendo devido à erosão. Ela existe, está na Itália e nós tivemos a chance de aprender muito com as pessoas que encontramos no local, como um geólogo, com quem cruzamos por acaso, e que pôde nos explicar em detalhes sobre o processo de erosão que ameaça a existência desse burgo.
Bagnoregio é uma comuna italiana de apenas 3 mil habitantes, que está ligada ao topo de uma montanha por uma ponte. Do outro lado da ponte existe uma outra cidade, Civita di Bagnoregio, uma espécie de cidadezinha-satélite, localizada no topo de uma elevação montanhosa que os geólogos chamam de “sperone tufaceo” (esporão tufáceo). Para entrarmos, só mesmo atravessando a pé a ponte, sabendo que do outro lado nos espera uma história sem igual em todo o mundo!
Civita di Bagnoregio foi onde nasceu São Boaventura, em 1274. O local onde existia sua casa de infância já caiu à beira do precipício há muito tempo, em função do ritmo acelerado da erosão, que faz as camadas de barro e pedra deslizarem. Aos poucos, a cidade se torna uma ilha. Por tudo isso, é claro que poucas pessoas iriam querer continuar vivendo ali. A população hoje varia entre apenas cerca de 12 pessoas no inverno, e aproximadamente 100 no verão!
Para assistir nossa visita a esse lugar incrível, é só clicar aqui!
A música “Funiculì, Funiculà” é uma das canções mais icônicas e alegres da Itália, conhecida por seu ritmo cativante e letras animadas. Difícil encontrar quem já não tenha escutado em algum momento da vida. Geralmente é associada à culinária italiana, muito ouvida em momentos de demonstração do que a Itália exportou para o mundo. Hoje poderemos ir além dessas impressões gerais, para conhecer a origem e os significados. Esta canção, que se tornou um hino não oficial de Nápoles e uma parte importante da cultura musical italiana, tem uma história fascinante de composição, um autor talentoso e significados profundos em sua letra.
A história de “Funiculì, Funiculà”
A história remonta ao final do século XIX, mais precisamente ao ano de 1880. Ela foi escrita como um hino para celebrar a inauguração de um novo funicular (um tipo de transporte ferroviário inclinado) que conectava a cidade costeira de Nápoles ao topo do Monte Vesúvio, um vulcão ativo famoso em todo o mundo.
Giuseppe Turco
O autor desta alegre composição é Giuseppe Turco, um jornalista e poeta napolitano, conhecido também como Peppino Turco. Turco foi encarregado de criar uma música festiva para a cerimônia de inauguração do funicular. Em parceria com o talentoso compositor Luigi Denza (foto ao lado), a dupla criou a melodia e as letras que logo se tornaram um sucesso.
Ela foi cantada pela primeira vez em Castellammare di Stabia, no Hotel Quisisana no dia 6 de junho de 1880. E no mesmo ano, foi apresentada por Turco e Denza no Festival de Piedigrotta.
A letra da música descreve vividamente a empolgante experiência de subir o Monte Vesúvio no novo funicular, uma aventura emocionante para os moradores e visitantes de Nápoles na época. A palavra “funiculì” é uma contração que une duas palavras: “funicolare” (funicular) e “lì” (ali). Enquanto “funiculà” é a contração de “funicolare” + “là” (lá). Assim, a música transmite a ideia de movimento, o deslocamento daqueles que sobem, daqui até lá, pelo funicular que levava ao topo do Vesúvio, onde se poderia desfrutar de vistas deslumbrantes da baía de Nápoles e do Golfo de Nápoles.
A canção rapidamente se tornou popular em Nápoles e em toda a Itália, cativando o coração do público com seu ritmo vibrante e letras alegres. Ela também se espalhou por todo o mundo, tornando-se um símbolo da música italiana.
Ao longo dos anos, “Funiculì, Funiculà” foi interpretada por inúmeros artistas, tanto italianos quanto internacionais, e foi usada em diversos filmes, programas de televisão e comerciais, solidificando ainda mais sua posição como uma das músicas italianas mais reconhecíveis e queridas.
Duas das apresentações muito conhecidas são a de Luciano Pavarotti, em 1995, e a de Andrea Bocelli, em 2009, cantando dentro do Coliseu! Assistam:
Além de sua associação com o transporte até o Monte Vesúvio, “Funiculì, Funiculà” também é frequentemente executada em festas e celebrações, sendo um elemento essencial nas festividades italianas. Sua energia contagiosa e letras festivas fazem dela uma escolha perfeita para animar qualquer ocasião.
A letra da música é uma celebração da beleza da natureza, da aventura e do espírito napolitano. Ela evoca a sensação de liberdade e excitação que as pessoas sentiam ao subir o Monte Vesúvio e contemplar a paisagem deslumbrante ao redor. Mesmo após mais de um século desde sua criação, “Funiculì, Funiculà” continua a ser uma canção atemporal que encanta e emociona as pessoas.
Você percebeu que citamos o prazer que as pessoas sentiam nessa subida, mas falamos tudo no passado? É porque a história da construção do funicular deu lugar também a uma história repleta de reconstruções e desafios. Vejam só…
Não é nada simples construir um funicular que sobe o monte de um vulcão ativo. No ano de 1906, ocorreu uma erupção do Vesúvio, que causou a destruição das duas estações do funicular, a superior e a inferior. Além disso, os bondes, os equipamentos e também o restaurante construído na base do monte foram destruídos – ou melhor dizendo, engolidos pelas lavas e cobertos pelas cinzas.
O orgulho da construção e o espírito da industrialização, que tomavam a todos naquela época, logo serviram de impulso para que se pensasse numa rápida reconstrução. Os danos foram logo reparados e, já em 1909, o funicular voltou a funcionar.
Acontece que, dois anos depois, em 12 de março de 1911, uma nova erupção destruiu a estação superior novamente. E mais uma vez, ainda com maior rapidez, foram feitos os trabalhos necessários em apenas um ano, e o sistema voltou a funcionar plenamente. E mais, teve a sorte de ficar intacto quando ocorreu outra erupção, em 1929. Isso mesmo, tinham sido 3 erupções desde a inauguração, duas destruidoras, uma felizmente benevolente.
Contudo, em 1944, o Vesúvio entrou em erupção novamente. E, desta vez, o funicular não foi poupado, foi mais uma vez destruído. E, para piorar a situação, isso ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Dali em diante, o funicular nunca mais foi reconstruído.
A decisão por não serem mais feitas reconstruções, claro, é um cuidado que faz muito sentido se considerarmos que o Vesúvio já entrou em erupção outras dezenas e dezenas de vezes ao longo da história, após a destruição de Pompeia e Herculano. Ironicamente, porém, o que seria curioso para tantos italianos que trabalharam arduamente nas reconstruções ao longo do século 20, o vulcão está adormecido desde 1944, e de lá pra cá não tivemos nenhuma erupção nova.
Apesar de não ter sido mais reconstruído, a história do funicular italiano do Vesúvio foi uma inovação tecnológica tão grande e única na época que inspirou vários países a adotarem esse sistema de transporte como um diferencial importante no turismo local de cada região. Temos inclusive um exemplo brasileiro, o funicular de Santos, que percorre 147 metros da encosta do Monte Serrat! Quer conhecer, recomendamos assistir ao Passeio em Santos a bordo do FUNICULAR DO MONTE SERRAT
Outras versões de funiculares
Outros exemplos de funiculares que surgiram depois da criação italiana são:
Chaumont Panoramic Funicular Railway, em La Coudre, Neuchatel, Suíça.
Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal
Monte Pilatus – Suíça
Salzburg – Áustria
Polybahn – Zurique – Suíça
Montmartre – Paris, França
Voilà – Noruega
Kiev – Ucrânia
Os legados
Apesar de os funiculares terem se tornado uma atração turística em diversas cidades ao redor do mundo, a música “Funiculì, Funiculà” guarda a história e serve como um forte símbolo da alegria de viver e da ascensão apaixonada que a cultura napolitana vivenciava no período de modernização, num caminho raro de uma busca humana por uma comunhão entre indústria e o espaço definitivo da natureza. O que podemos observar nessa tentativa é o poder maior da natureza, que nos atrai até para perto de suas belezas destruidoras, mas que também nos afasta sem dificuldade, e demarca certos limites que, se bem observados, nos fazem aprender e celebrar nossos sonhos através de outras linguagens, como a da música, que se faz inabalável de geração em geração, com palavras que ecoam fora do alcance de qualquer erupção. E a canção, por sua vez, pode nos lembrar da importância de aproveitar a vida, explorar novos horizontes e celebrar a alegria de contemplarmos a natureza, enquanto subimos e subimos por onde conseguirmos. Funiculì, Funiculà!
A letra da música
Agora, aproveitem abaixo a letra da música, no dialeto napolitano e, depois, em português.
Ontem à tarde, oi Aninha, eu fui, sabes para onde, sabes para onde? Para onde este coração ingrato não pode me desprezar mais! Onde o fogo queima, mas se tu foges ele deixa estar! E não te persegue, não te consome,para que vejas o céu!… Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Vamos do sopé à montanha, Aninha! Sem (termos de) caminhar! Podes ver a França,a Prócida e a Espanha… e eu vejo a ti! Puxados por uma corda, antes de nos darmos conta, vamos para o céu… Vamos rápidos como o vento e de repente, já saímos! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Subimos, Aninha, já chegamos ao topo! (O funicular) Foi, e retornou, e voltou novamente… Está sempre aqui! O topo gira, gira, ao redor, ao redor, ao redor de ti! Este coração canta sempre e não é arrogante Vamos nos casar, Aninha! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Traduzido com ajuda do dicionário da “Storia di Napoli”
A tarantella é uma das danças mais icônicas e vibrantes da Itália, conhecida por seus movimentos rápidos, ritmo enérgico e espírito apaixonado. Essa dança cativante tem raízes profundas na história e cultura italianas, e tudo começou em Taranto, cidade localizada no sul da Itália. Hoje vamos descobrir o que impulsionou essa expressão cultural e os significados que ela tem ainda hoje, na Itália e no mundo, quando realizada em festas típicas italianas.
Como é o caso de todas as expressões culturais antigas, que datam de séculos e mais séculos, as origens mais precisas são difíceis de rastrear: por exemplo, quem terá sido a primeira pessoa a realizar a dança? Não saberíamos apontar uma data específica, nem um nome. Há uma longa história de diversas influências culturais que moldaram essa dança. No entanto, a etimologia da palavra nos permite rastrear sua origem e o que podemos descobrir é algo bastante surpreendente e pouco sabido!
Origem da Tarantella
O nome “tarantella” vem de “taranta”, que é um termo do dialeto das regiões do sul da Itália, que nomeava a tarântula Lycosa, uma aranha venenosa muito encontrada no sul da Europa, e em particular, justamente, na zona rural de Taranto, de onde leva o seu nome. Estudiosos apontam que vocábulos como tarantela, taranta e tarantismo derivam, portanto, do nome da cidade de Taranto, que viria de uma raiz linguística mais antiga.
Nessas áreas, a dança da tarantela está parcialmente ligada a algo curioso: a terapia da mordida da tarântula. A tradição atribuía ao veneno desta aranha efeitos diversos, dependendo das crenças locais: melancolia, convulsões, sofrimento mental, agitação e dor física.
Quem era picado ou acreditava ter sido picado por uma tarântula ganhava no corpo um dinamismo exagerado, por isso seria uma prática a terapia de coreografias ao som de música, especialmente eficazes durante festas, como dos Santos Pedro e Paulo. O que se sabe é que, por meio da prática da dança, seria possível a expulsão do veneno através do suor. Como forma de cura, a dança frenética da tarantella então ajudaria a acelerar a circulação sanguínea, permitindo que o veneno fosse expelido do corpo. Essa compreensão não seria necessariamente acessada dessa maneira naquela época, quando as crenças populares difundidas eram de que a dança funcionaria como uma espécie de trabalho espiritual para liberar o corpo do veneno.
No entanto, é importante considerar que toda expressão cultural dessa magnitude não é criada a partir do nada. Há muitos elementos da tarantella, como a dança em círculo que veremos mais adiante, que nos remetem a movimentos da dança praticada pelos gregos e pelos romanos. Festas pagãs e rituais dionisíacos reuniam pessoas que se expressavam através da dança de grupo e que, portanto, desenvolviam simbologias, linguagens corporais e sentidos que, assim como acontece no desenvolvimento das línguas, criaram marcas e deixaram rastros duradouros para as expressões culturais que viriam a nascer mais tarde.
A tarantella ao longo do tempo
A Tarantella evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se às mudanças culturais e sociais da Itália. Durante o Renascimento, a dança era popular nas cortes nobres e era frequentemente realizada em celebrações da alta sociedade. Ela foi incorporada em peças de teatro e óperas da época, tornando-se uma parte essencial da cultura italiana.
Com o tempo, a Tarantella também se espalhou para diferentes regiões da Itália, cada uma desenvolvendo sua própria variação da dança. As versões regionais da Tarantella são muitas vezes reconhecidas por seus trajes tradicionais distintos e variações nos passos de dança.
No século XIX, a Tarantella experimentou um ressurgimento de popularidade na Itália, quando a dança foi incorporada em festivais folclóricos e se tornou uma forma de celebrar a identidade italiana.
Hoje, a tarantella continua viva na cultura italiana, sendo realizada em festivais ao redor do mundo, em casamentos e em outras celebrações italianas. Ela também é uma atração turística popular, com muitos visitantes estrangeiros encantados pela energia e pela paixão dessa dança tradicional.
Na prática
A dança acontece formando-se um círculo, que gira e dança no sentido horário até a música se tornar rápida, quando todos trocam de direção. O ciclo de idas e vindas ocorre algumas vezes, gradualmente ganhando uma velocidade tão grande que se torna difícil manter o ritmo. O som é composto pela voz de um cantor central, acompanhado por tamborim e castanholas.
As origens podem ser misteriosas, cheias de explicações inusitadas, mas o resultado é uma expressão corporal cheia de vida, que assim representa hoje, e já há muito tempo, a alegria de viver, a celebração de um grupo que encontra harmonia e vence o desafio de não tropeçar nos erros que surgirem nos passos cada vez mais rápidos dos companheiros de dança – a vida acelerada pedindo união, e a resposta da dança: conexão com as tradições ancestrais podem nos levar de volta a nós mesmos. A tarantella é verdadeiramente uma jóia da cultura italiana que continua a encantar e inspirar pessoas em todo o mundo!
Quer assistir a uma tarantella típica? Então aproveite a gravação abaixo, de muito sucesso no YouTube, feita na Itália, uma autêntica dança da tarantella durante uma festa em um restaurante! Registros como esse nos permitem enxergar um pouco do que teria sido, há séculos, expressões culturais em círculos pequenos, com poucas pessoas assistindo, em tavernas, em lugares desconhecidos, em casamentos não registrados nos livros de história!
Também recomendamos os registros feitos há anos pelo canal Tarantolato Oficial, em que estão publicadas algumas danças realizadas na Itália, em eventos pequenos e grandes.
Agora, me diga: você gosta de aprender com música? Pois então vamos relembrar um grande sucesso dos últimos anos, Amaremare, uma canção da artista pop contemporânea, Dolcenera, que inclusive inserimos em uma das nossas aulas em formato de live, quando o Prof. Darius analisou a letra da canção.
Se você já conhece, ou se ainda não ouviu, é uma grande chance de se movimentar, dançar e estudar com alegria e reflexão, pois a letra é bela! Aproveite e clique aqui para assistir à aula com música do Prof. Darius: