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Ferdinando Scianna: o olhar distinto do fotógrafo italiano

Ferdinando Scianna: o olhar distinto do fotógrafo italiano

Ferdinando Scianna, nascido em 1943 em Bagheria, Sicília, tem um marcante legado como um dos mais proeminentes fotógrafos italianos contemporâneos. Sua carreira, que se desenrolou ao longo de décadas, foi caracterizada por um olhar aguçado para capturar a vida cotidiana, a cultura e as complexidades sociais da Itália.

Quem foi Ferdinando Scianna

Iniciando sua trajetória nos anos 1960, Scianna rapidamente se destacou por sua habilidade em contar histórias visualmente. Sua entrada na agência Magnum Photos, em 1982, solidificou seu lugar no cenário internacional da fotografia. Ao longo de sua carreira na Magnum, ele contribuiu de maneira significativa para o fotojornalismo e a documentação visual.

Retrato Ferdinando Scianna

Uma das características distintivas do trabalho de Scianna é sua capacidade de fundir elementos de tradição e de modernidade em suas imagens. Ele explora a riqueza da cultura italiana, desde suas festividades e tradições até suas complexidades sociais. Suas fotografias frequentemente capturam a essência da vida nas ruas, revelando a beleza e a efemeridade nas pequenas nuances do cotidiano.

Retrato do cotidiano

Sua história e legado

Além do olhar documental, Scianna também se aventurou no mundo da moda. Suas colaborações com designers renomados resultaram em imagens que transcendem a simples apresentação de roupas, incorporando narrativas visuais envolventes. Ele conseguiu unir sua sensibilidade artística com uma perspectiva social profunda, criando imagens que eram simultaneamente esteticamente atraentes e carregadas de significado.

Retrato com significado

A Sicília, sua terra natal, desempenhou um papel central em muitos projetos de Scianna. Ele frequentemente explorava as paisagens e as tradições da ilha, utilizando-as como cenário para suas narrativas visuais. Sua conexão pessoal com a Sicília transparecia em suas fotografias, que capturavam a complexidade e a riqueza cultural dessa região italiana.

Ao longo de sua carreira, Scianna recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos por suas contribuições à fotografia. Seu legado vai além das imagens individuais; ele ajudou a moldar a percepção visual da Itália e influenciou gerações de fotógrafos.

Foto tirada por Ferdinando Scianna
Foto por Ferdinando Scianna

Ferdinando Scianna construiu um trabalho que continua a inspirar e cativar. Sua capacidade de capturar a alma da Itália, sua habilidade em contar histórias visualmente e seu olhar perspicaz são uma valiosa contribuição para a fotografia contemporânea. O trabalho de Scianna não apenas é presente nas galerias de arte e na rememoração da vida italiana das últimas décadas, mas também na percepção coletiva da beleza e complexidade da arte da fotografia.

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Margherita con Ananas: Pecado na Itália?

Margherita con Ananas: Pecado na Itália?

Como já dissemos por aqui, o tal espaguete à bolonhesa não é uma ideia aceita na Itália. Os italianos têm pavor de algumas criações culinárias que são popularizadas em outras partes do mundo, como aqui no Brasil. E quer saber de uma que gerou uma polêmica gigante? Pizza com abacaxi. E foi justamente um italiano que requentou esse debate. O pizzaiolo Gino Sorbillo gerou revolta e apareceu até na TV italiana para comentar sobre o assunto. A razão: ele resolveu mexer nessa regra da culinária italiana e lançou em sua pizzaria, em Nápoles, a chamada Margherita con Ananas!

pizza margherita com ananas
Margherita con Ananas e, ao fundo, entrada para a famosa Via dei Tribunali

A pizzaria dele fica simplesmente na Via dei Tribunali, a rua de pizzarias mais conhecida do mundo! E ele é dono de 21 unidades ao redor do mundo, localizadas de Tóquio a Ibiza, Miami…

Fachada de uma das pizzarias de Gino Sorbillo
Fachada de uma das pizzarias de Gino Sorbillo
Pizzarias de Gino Sorbillo

E a invenção de Gino Sorbillo saiu nos noticiários de todo o mundo. Já até existe pizzaria aqui no Brasil, em Belo Horizonte, preparando o mesmo prato.

Ele contou que fez isso para combater o preconceito alimentar. Disse em entrevistas que as pessoas condenam ingredientes ou preparos só porque, no passado, muitos alimentos não eram acessíveis nem muito conhecidos, como o caso do abacaxi – antes de Cristóvão Colombo trazer de uma de suas viagens ao Novo Mundo (precisamente à Ilha de Guadalupe, no Caribe, em 1493), ninguém podia nem imaginar que essa fruta existisse!

Eis então os detalhes da inovação de Gino Sorbillo: sua pizza, que custa 7 euros, é o que chamamos de uma pizza “bianca”, ou como ele mesmo disse, una pizza bianca particolarissima. É uma pizza que não conta com a tradicional camada de tomate, e que leva três tipos de queijo como base. Por cima, são colocados pedaços de abacaxi pré-assado, para dar um toque caramelizado.

Enquanto alguns aplaudem essa audácia, outros acreditam que é uma ameaça à santidade de um prato que se tornou uma herança e um patrimônio cultural. Uma admiradora do trabalho de Gino Sorbillo o criticou nas redes sociais, dizendo:

“No, ti prego. Ti apprezzo come pizzaiolo (…) da napoletana che ama la pizza dico che tu la realizzi come fosse un’opera d’arte. Ma ti prego: la pizza a Napoli con l’ananas no. Va benissimo negli Usa e in Inghilterra ma a Napoli lasciamo la tradizione. Napoli è la capitale indiscussa della pizza nelle sue versioni storiche e con ingredienti di base semplici, come un tempo.” 

Por outro lado, a jornalista italiana, Barbara Politi, foi até Nápoles experimentar a pizza, e gostou!

Ela disse: “Un applauso alle belle trovate e, soprattutto, alle trovate-riuscite!”

(“Uma salva de palmas para as boas ideias e, sobretudo, para as ideias de sucesso!”)

E Barbara Politi lembrou justamente a curiosa história por trás da chegada dessa fruta à Europa:

“Quem sabe o que hoje diria Cristóvão Colombo sobre esta polémica, ele que, quando provou ananás pela primeira vez em Guadalupe, gostou tanto que decidiu levá-lo consigo para a Europa. Não é por acaso que estamos falando do explorador e navegador mais importante da história italiana, aquele que revelou com ousadia aos europeus a existência das Américas. Um homem inovador, cujos méritos só foram reconhecidos anos depois. No final das contas, se o abacaxi acabou na pizza de Sorbillo, a culpa é em parte dele.”

E aí, o que vocês pensam? Gostariam de provar? Acham que o pizzaiolo está certo em inovar?

Aproveite para assistir nossos conteúdos de viagem e aprenda com o Prof. Darius como pedir uma pizza na Itália!

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A presto!

Tesouros Arqueológicos da Itália

Tesouros Arqueológicos da Itália

A Itália é uma terra de incrível riqueza arqueológica, tesouros de todos os tipos remontam à grandiosidade da Roma Antiga. E ao longo dos últimos 100 anos, escavações meticulosas e descobertas fascinantes proporcionaram insights inestimáveis sobre a vida, a cultura e as realizações dos antigos romanos. Hoje vamos explorar aqui no blog alguns desses achados notáveis que moldaram a narrativa arqueológica italiana.

Pompeia e Herculano: cidades preservadas no tempo

Entre as descobertas mais impressionantes das últimas décadas estão as cidades de Pompeia e Herculano, na região Campania, incrivelmente preservadas após séculos sob as cinzas do Vesúvio.

Sol poente nas ruínas de Pompeia, ao fundo o Monte Vesúvio
tesouros arqueológicos Itália

Desde o início das escavações no século XVIII, os arqueólogos continuam a desenterrar casas, templos e artefatos que proporcionam uma visão única da vida quotidiana romana. Murais coloridos, utensílios domésticos e até mesmo pães carbonizados oferecem uma visão vívida das pessoas que viveram nessas cidades antigas.

Santuário Subaquático: um mundo submerso em Nápoles

Nas águas da Baía de Nápoles, encontra-se um tesouro subaquático de grande importância arqueológica. O sítio de baía revela vestígios de uma antiga cidade romana que, ao longo dos séculos, afundou devido a atividades sísmicas. Estruturas imponentes, como a Villa dei Pisoni, proporcionam uma visão intrigante do luxo e da arquitetura da época imperial. Estátuas, mosaicos e até mesmo ruas pavimentadas sob a água testemunham a riqueza perdida nas profundezas do mar.

Cidades subaquáticas na Itália

Bastidores da arena do Coliseu

Em Roma, recentes escavações sob a Arena do Coliseu revelaram os bastidores dos gladiadores. Corredores subterrâneos, conhecidos como hipogeus, agora abertos ao público, mostram o complexo sistema de elevadores e celas onde gladiadores aguardavam seu destino nas areias da arena. Essas descobertas oferecem uma compreensão mais profunda da maquinaria por trás dos espetáculos épicos e da vida dos gladiadores, uma faceta muitas vezes romantizada na cultura popular.

Bastidores da Arena no Coliseu em Roma

Villa de Livia: A Residência Imperial

A Villa di Livia, residência de campo da esposa do imperador Augusto, emergiu como uma das residências imperiais mais bem-preservadas da Roma Antiga. Investigações recentes revelaram afrescos em ótimo estado, representando paisagens exuberantes e detalhes arquitetônicos.

Villa di Livia - Roma - Itália
Pinturas em Villa di Livia - Roma - Itália

Essas pinturas fornecem um vislumbre das preferências estéticas da elite romana, destacando o papel fundamental das villas na expressão artística e cultural da época.

Além das pinturas, foi encontrada na vila, em 1863, a famosa estátua heróica de Augusto, esculpida em mármore, que está agora nos Museus do Vaticano. 

Estátua Imperador Augusto

Achados mais recentes

A arqueologia não é uma atividade do passado. Mesmo hoje em dia ainda acontecem descobertas fascinantes.

No início deste mês chegou a notícia de que mais de 30 mil moedas romanas foram encontradas por um mergulhador na Itália, e elas estão em ótimo estado de conservação.

O mergulhador nadava na costa da ilha da Sardenha e se deparou com objetos metálicos sem imaginar que se tratavam de objetos de mais de 1.600 anos de idade. 

Ufficio Stampa e Comunicazione MiC
Foto: Ufficio Stampa e Comunicazione MiC

Isso aconteceu em Arzachena, na costa norte do leste da Sardenha, ilha italiana no mar Mediterrâneo. E o tesouro é da primeira metade do século 4 d.C. São entre 30 mil e 50 mil moedas chamadas fólis, do Império Romano, feitas de bronze com uma fina camada externa de prata.

E segundo um comunicado divulgado no dia 04 de novembro, pelo Ministério da Cultura da Itália, essa é uma quantidade maior do que já se viu em achados de objetos semelhantes, no Reino Unido em 2013, por exemplo, quando 22.800 moedas fólis foram achadas em Seaton, no sul da Inglaterra.

Moedas chamadas fólis, do Império Romano - Tesouros arqueológicos

De acordo com o ministério italiano, essas milhares de moedas estão em um raro estado de conservação: somente quatro peças estão danificadas, e mesmo assim estão legíveis. A datação das moedas estima que tratam-se de cunhagens de Licínio, do período de 324 a 340 d.C. E o que ajuda a confirmar essa datação é a presença de moedas de Constantino, e, dentre outras tantas, também moedas da família imperial, incluindo os Césares.

Aproveite para assistir a uma matéria especial do canal do Mistero della Cultura, abordando toda a descoberta, clique abaixo para assistir!

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O mistério por trás do jardim italiano: Horti Leonini

O mistério por trás do jardim italiano: Horti Leonini

O Horti Leonini é um famoso jardim localizado em San Quirico d’Orcia, uma encantadora vila na região da Toscana, na Itália. Este jardim histórico é uma jóia paisagística que remonta ao século XVII. É conhecido por seu design geométrico clássico e sua atmosfera serena, oferecendo aos visitantes uma experiência única entre as belezas naturais da Toscana. Mas há também um mistério envolvendo sua criação.

O Jardim Horti Leonini

O jardim foi encomendado por Diomede Leoni, um nobre local, no século XVII, mais precisamente em 1580, daí o nome “Horti Leonini”, que significa “Jardins de Leoni”. A concepção do jardim reflete os princípios do estilo renascentista italiano, com caminhos geométricos, canteiros de flores, sebes aparadas e elementos arquitetônicos que proporcionam um ambiente elegante e tranquilo.

A grandeza por trás da construção desse jardim levou a historiadora Isa Bella Bersali a escrever que há ali sinais que revelam a “mão de um arquiteto desconhecido e importante”. (Baldassare Peruzzi e le ville senesi nel cinquecento, 1977).

E o que tem contribuído para atrair ainda mais pessoas é o fato de que, através de cartas de Diomede, descobrimos algumas informações importantes. Leoni estava trabalhando como um “agente” em Roma na época do final da Renascença. Ele prestava serviços para um cardeal veneziano e para os Medici, e fez amizade com ninguém mais ninguém menos do que Michelangelo. E aqui é que começa o mistério. Não há nenhum registro de quem teria sido contratado para desenvolver o jardim. Algumas pessoas podem pensar que o próprio Diomede teria sido o responsável pelos desenhos, mas o equilíbrio de cada detalhe chama atenção de especialistas por ser algo geometricamente perfeito. Isso tem levado muitos pesquisadores e historiadores a levantarem a teoria de que o próprio Michelangelo pode ter desenhado o que hoje encontramos aqui!

Horti Leonini
Mapa Jardim Horti Leonini

O espaço todo é criado por duas paredes colocadas a 45 graus, uma da outra. E a forma triangular do jardim torna-se mais dramática devido ao nível do solo que está inclinado para cima a partir do ponto de entrada.

Portão principal na Piazza Centrale e vestíbulo de entrada

Ao chegar ao portão, a primeira coisa que se nota é a explosão de espaço criada pelas duas paredes do jardim colocadas a 45 graus uma da outra. A forma triangular do jardim torna-se mais dramática com o plano do solo inclinado para cima a partir deste ponto de entrada.

É possível ver a forma de um trapézio, moldado pelos muros do jardim e pelo pequeno muro baixo na frente. Embutidos no pavimento há uma série de triângulos, uma sugestão dos padrões geométricos repetidos na disposição das sebes e no desenho geral do jardim.

Vista aérea Horti Leonini

Placas

Inscrições em mármore são algumas das poucas decorações que Diomede colocou no jardim. No vestíbulo de entrada avista-se uma porta de madeira com uma placa acima localizada à direita.

Durante a caminhada é possível encontrar dez placas de mármore com inscrições em latim de versos de poetas romanos, que comunicam ao visitante os benefícios da vida no campo, longe da cidade. Uma delas é das Odes, de Horácio:

“Pare de admirar a fumaça, as riquezas e o barulho de Roma!”

(“Omitir mirari beatae fumum et opes strepitumo romae” – Horácio, Odes, III, 29)

A conexão visual da Palazzetta 

A Palazzetta é uma casa de apenas alguns metros de largura que proporcionou um refúgio à nobreza que ali tivesse que parar durante o longo percurso da estrada para Roma ou Florença.

O interior possui diversas placas destinadas a mostrar sua erudição aos que tiveram a sorte de ali permanecer.

Na base da escadaria da Palazzetta, é possível observar outra placa de mármore, estrategicamente localizada no final do caminho diagonal que liga ao portão leste. A inscrição dá as boas-vindas ao visitante, que se hospedaria ali após longas viagens:

“Viajantes cansados ​​são bem-vindos em nosso lar.”

“Peregrino labore fessi / venimus larem ad nostrum” – Catulo, 31 

Esta pequena casa foi construída enquanto se buscava reparar as muralhas da cidade, que estavam ali danificadas pela guerra de Siena com Florença, na década de 1550. A última batalha de Siena foi travada nas proximidades de Montalcino. E os exércitos saquearam também San Quirico, deixando as muralhas protetoras da cidade em ruínas. Os exércitos florentinos venceram e posteriormente reivindicaram toda Siena e seus territórios, formando a moderna Toscana.

Ao longo dos anos, o Horti Leonini passou por várias fases de restauração e preservação, mantendo-se fiel ao seu projeto original, por isso os turistas podem encontrar nos dias de hoje muito do que foi visto e pensado há mais de 400 anos. Naturalmente, é um espaço apreciado tanto por turistas quanto por amantes de jardinagem e história, oferecendo um refúgio sereno e cultural no coração da Toscana.

A chance de ver de perto uma construção que pode ter sido pensada por Michelangelo tornou esse espaço localizado no Val d’Orcia uma parada muito especial para os turistas! Você gostaria de visitar?!

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A presto!

A impressionante reconstrução da Ponte de Rialto de Veneza

A impressionante reconstrução da Ponte de Rialto de Veneza

Quase 900 anos se passaram desde o primeiro modelo da ponte que é um dos pontos mais visitados em Veneza! A Ponte de Rialto é uma das pontes mais famosas de todo o mundo. Ela atravessa o Grande Canal de Veneza na parte mais curta e liga os bairros de San Marco e San Polo. Sua atual estrutura foi construída ao longo de apenas 4 anos, entre os anos de 1588 e 1591, no local que abrigava pontes flutuantes mais antigas, e com a missão de se tornar um ponto de passagem central na parte cada vez mais congestionada da cidade de Veneza. Mas sua origem, em outro formato, data do século XII!

É impressionante pensar no número de barcas que passam por aqui diariamente. Segundo dados das autoridades locais, a cada 10 horas, passam por debaixo da Rialto mais de 1.600 barcas, 700 táxis aquáticos e 200 gôndolas!

A chance de vermos de perto uma construção que tem uma história tão repleta de estágios surpreendentes se torna ainda mais especial quando podemos saber os detalhes secretos guardados entre as pedras que sustentam a estrutura visível! 

Desde o ano de 1181 existiu aqui uma ponte flutuante, chamada Ponte della Moneta (especula-se que nas redondezas eram cunhadas as moedas que circulavam em Veneza). Esse primeiro modelo da ponte era feito de madeira e foi construído por Nicolò Barattieri. Essa construção ajudou muito essa região, concentrando o comércio, com mercados maiores, assim como acontecia ao redor de outras pontes urbanas na Europa medieval. Os comerciantes viam o apelo da travessia permanente da água como uma atração especialmente vantajosa para estabelecerem suas lojas. E aqui não foi diferente: algumas lojas foram colocadas diretamente no convés, ao lado, e depois até mesmo ao longo da ponte, apoiadas por vigas de madeira acima da água, e perto das entradas das pontes.

A estrutura de madeira da antiga Ponte de Rialto, no período medieval de Veneza.

À medida que o mercado de Rialto crescia, o tráfego de pedestres no lado leste da cidade aumentou tanto que a ponte flutuante ficou congestionada com viagens, e o tráfego aquático através do Grande Canal também foi muito afetado pela ponte flutuante, que acabava impedindo que navios de todos os tamanhos se deslocassem livremente pela via navegável central de toda a cidade de Veneza. 

A primeira solução para esses problemas foi tentada em 1255 com a construção da primeira ponte permanente de madeira sobre o Grande Canal. Para permitir que os barcos atravessassem facilmente o canal, a ponte apresentava duas rampas inclinadas que se encontravam numa seção central móvel. Esta seção poderia ser elevada para permitir a passagem até de navios altos.

Modelo tridimensional que recria a estrutura e o funcionamento da seção móvel do centro da antiga Ponte de Rialto.
Rialto em Madeira
A difícil passagem de um navio alto pelo setor central da ponte, quando ainda não contava com lojas em sua extensão.

A ponte de madeira foi renomeada para Ponte de Rialto durante o século XIV, antes mesmo de passar por reformas que a transformassem na estrutura que conhecemos hoje. Mas, no século XV, ela já passou a ser uma parte integrante do mercado regional com a instalação de lojas diretamente na estrutura da ponte, assim como encontramos hoje – aliás, este é um detalhe que surpreende muitos turistas, que não imaginam que encontrarão lojas ao longo dos degraus da ponte. Essas lojas que vemos hoje foram dispostas em duas fileiras ao longo das laterais da ponte, com o deck central deixado para passagem a pé.

Ponte de Rialto por Vittore Carpaccio
Il Miracolo della Croce a Rialto, Vittore Carpaccio (c.1465 – c.1526)
O Milagre da Relíquia da Santa Cruz na Ponte Rialto
Em algumas fontes, a pintura é chamada de Guarigione dell’ossesso (“Cura dos Obsessos”), em outras é chamada “O Milagre da Relíquia da Santa Cruz na Ponte Rialto”.

Embora as autoridades municipais tenham recolhido impostos para financiar e manter a ponte em seus modelos iniciais, a ponte de madeira de Rialto não conseguiu sobreviver intacta entre o momento em que foi construída e o momento em que foi substituída por uma ponte permanente de pedra. A ponte foi parcialmente queimada durante a revolta de 1310, então liderada por Bajamonte Tiepolo. Quase um século e meio depois, ela desabou na água durante a cerimônia de casamento de Marchessa di Ferrara, em 1444, o que causou a queda de todos os espectadores na água! E 80 anos depois, em 1524, ela desabou totalmente.

A construção final da Ponte Rialto

Foi antes de desabar por completo, que começaram a surgir as primeiras ideias sobre substituí-la por um modelo mais seguro e bem arquitetado. Em 1504, essas ideias já defendiam uma estrutura permanente de pedra que proporcionasse passagem a pé através do Grande Canal de quase 50 metros de largura, que tivesse então um deck largo o suficiente para abrigar uma fileira de lojas e, principalmente, que fornecesse espaço suficiente abaixo de sua estrutura para possibilitar a passagem de navios.

Não era nada fácil a missão dos construtores, dos designers e dos artistas da época, que foram contratados pelas autoridades de Veneza para simplesmente construírem o que já recebia o título de “ponte eterna”. 

Após décadas de deliberações, as autoridades de Veneza finalmente se dividiram para financiar o desenvolvimento de uma ponte totalmente de pedra. Para isso, contataram todos os principais construtores de pontes e decoradores de estruturas da época, incluindo arquitetos como Jacopo Sansovino, Palladio, Vignola e até o famoso Michelangelo. O escolhido foi o arquiteto cujo nome não poderia ter combinado mais perfeitamente com sua missão: Antonio da Ponte. Ele desenhou uma ponte muito simples e elegante, que depois foi construída ao longo de quatro anos, entre 1588 e 1591.

O desenho da ponte homenageava a ponte de madeira original , utilizando rampas com inclinação semelhante em ambas as margens que conduziam à passagem do pórtico central. A ponte abrigou fileiras de lojas que existem até hoje, e três passagens – duas nas laterais da ponte e uma passarela central que é cercada por duas fileiras de lojas.

Passagem central de Rialto
A passagem central, com as lojas em ambos os lados.
Os degraus que levam à lateral com vista para o rio e ao setor central, com acesso às lojas.

O arquiteto Antonio da Ponte teve muito cuidado em integrar a Ponte Rialto no ambiente circundante da cidade. Para isso optou por utilizar Pietra d’Istra (rocha calcária de cor branca brilhante) como principal material de construção, o que conferiu de forma muito eficaz um aspecto distinto à ponte – uma pedra branca que contrasta com as lojas de madeira pintadas de escuro. O deck foi pavimentado com pedras cinzentas que eram mais claras perto das bordas dos degraus, o que foi uma escolha intencional que ajudou os usuários da ponte a identificar a posição dos degraus com mais facilidade. O tabuleiro principal da ponte está inclinado num ângulo significativo (15°), o que impede que os pedestres vejam o outro lado da ponte de cada margem.

Rialto é feita em rocha calcária de cor branca brilhante
A ponte é construída em rocha calcária de cor branca brilhante

Além do convés fortemente inclinado e das fileiras de lojas que tornam a parte superior do navio bastante distinta, uma das características visuais que definem a Ponte Rialto é o seu arco baixo que atravessa o Grande Canal, com largura de 28,8m e altura de 6,4m.

A repercussão na época

Durante o período de construção, a ponte recebeu comentários negativos de algumas vozes contemporâneas, principalmente do arquiteto concorrente Vincenzo Scamozzi, que declarou que a ponte não duraria muito porque não estava sendo feita no estilo do desenho romano tradicional (com múltiplos e semi-arcos circulares).

Outro arquiteto que havia participado da competição de criação de planos para a construção da ponte foi Andrea Palladio, que havia desenhado uma ideia cujo design se baseava inteiramente na estética romana. E podemos hoje ver como teriam sido essas realizações inspiradas em uma tradição estritamente romana:

Projeto de Andrea Palladio
O projeto de Andrea Palladio para a Ponte de Rialto, em 1569.

Os arquitetos modernos elogiam o esforço de construção que o arquiteto original Antonio da Ponte investiu na Ponte Rialto, especialmente a sua complexa superestrutura, o desenho geral simples com um arco e os adornos visuais que ainda hoje contam com um aspecto tão magnífico quanto contavam no final do século XVI. Depois de séculos, a ponte permanece em excelente estado, com apenas uma ligeira descoloração devido a danos causados ​​pela água e algumas manchas na parte inferior do arco.

Ponte Rialto como atração turística

O famoso mercado de peixe de Veneza, localizado no bairro de San Polo, existe há 700 anos, e a parte mais popular dele, uma ponte branca e brilhante de Rialto, resistiu todo esse tempo e conseguiu permanecer preservada em condições quase imaculadas. 

Ponte Rialto em Veneza

Como um dos principais marcos da cidade repleta de edifícios e locais históricos, quase todos os passeios a pé por Veneza nos levam inevitavelmente aos degraus desta antiga ponte. Perto da Ponte Rialto estão localizados alguns dos locais mais célebres da “Cidade Flutuante ” da Itália – Ponte dos Suspiros, Palácio Ducal e a Basílica de São Marcos.

Por ser ativamente utilizada como mercado comercial, o acesso à ponte está aberto ao público durante todo o ano. Os turistas podem visitá-lo por conta própria ou como parte de diversos passeios turísticos.

Se você quiser visitar a Ponte Rialto pessoalmente, poderá encontrá-la entre os bairros de San Marco e San Polo, e pode ser facilmente alcançada pelas linhas 1 e 2 do ônibus aquático Vaporetto através da parada Rialto. Numerosas ruas próximas à ponte também apresentam sinalização fácil de localizar, que aponta para a localização da ponte. Se você estiver viajando em pequenos barcos de transporte de passageiros no Grande Canal, saiba que um pequeno cais foi construído perto da Ponte Rialto.

Durante os meses de primavera, verão e outono, e especialmente durante o auge da temporada turística, a ponte e seus arredores abrigam uma grande variedade de vendedores ambulantes, músicos de rua e lojas turísticas. A parte mais movimentada da ponte costuma ser sua passagem central, repleta de lojas que vendem vidrarias, joias e outros artesanatos locais de Murano (mas também não deixe de aproveitar que Murano está tão pertinho e também se programe para ir ver tudo de perto na célebre ilha de Murano!).

Coloque também em sua programação a chance de ver a ponte durante o pôr-do-sol (com sua base curva iluminada pela luz alaranjada do sol) e depois durante noite, quando o comércio está fechado, pois é quando a ponte permanece iluminada pelos holofotes próximos, que a mantêm em seu estado branco brilhante até o amanhecer, reluzindo sobre a superfície cintilante das águas em movimento.

Ponte Rialto durante a noite

Ponte Rialto na Cultura Popular

Por ter sido uma parte notável de uma das mais belas cidades da Itália durante tantos séculos, a Ponte Rialto conseguiu se tornar um dos ícones mais facilmente identificáveis ​​de Veneza. Hoje é comemorado não apenas como uma importante atração turística, mas também como uma importante peça do patrimônio renascentista e uma bela obra de arte arquitetônica. A aparência da ponte está representada em inúmeras pinturas, recordações turísticas e obras históricas.

O Grande Canal e a Ponte Rialto, por Canaletto, por volta de 1725.

Muitos filmes rodados em Veneza, é claro, não deixam de registrar esta ponte. Entre os sucessos mais notáveis deste século, podemos citar o filme “Casino Royale”, da série James Bond, lançado em 2006, e “Homem-Aranha: Longe de Casa”, de 2019.

Daniel Craig em Veneza - Cassino Royale
Daniel Craig, em Casino Royale (2006)
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A Ponte de Rialto, vista em meio a um ataque aquático do vilão de Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)

E aí, você gostaria de visitar a Ponte de Rialto?!

Agora aproveite para viajar conosco e veja o Prof. Darius descobrindo como funciona o “metrô” de Veneza!

E volte no tempo com a Profa. Paola Baccin e o Prof. Darius para conhecer mais sobre o período da Peste em Veneza:

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A Festa dei Lavoratori: como é o Dia dos Trabalhadores na Itália?

A Festa dei Lavoratori: como é o Dia dos Trabalhadores na Itália?

A Itália também celebra o Dia Internacional dos Trabalhadores no dia 1º de maio. Escolas, repartições públicas e a maioria das empresas ficam fechadas, promovendo descanso e reflexão sobre os valores deste dia. A celebração é chamada Festa dei Lavoratori (também conhecida, é claro, como Primo Maggio) e, assim como em outros países, celebra as vitórias dos direitos dos trabalhadores italianos, como jornadas de trabalho de oito horas, condições de trabalho seguras e o direito a férias. A data também promove a atualização e a adição de mais proteções e privilégios para que os trabalhadores sejam tratados de forma justa.

Uma diferença notável quando comparamos com o feriado aqui no Brasil é que na Itália acontecem inclusive concertos e desfiles com grande participação do público, além de piqueniques e momentos mais íntimos em família.

Uma das maiores celebrações da Festa dei Lavoratori na Itália é o Concerto del Primo Maggio, realizado desde 1990 na Piazza San Giovanni, em Roma, e patrocinado pelos maiores sindicatos trabalhistas da Itália. O grande evento gratuito é realizado na praça em frente à Basílica de San Giovanni, em frente ao Palazzo Laterano. Além de artistas italianos, o concerto também conta com estrelas internacionais e apoia artistas emergentes e independentes.

Festa do dia do Trabalho em Roma
Concerto na Piazza San Giovanni, Roma, durante a Festa dei Lavoratori

Uma curiosidade especial: no 1º de maio de 2011, o Concerto na Piazza San Giovanni foi realizado no mesmo dia da beatificação do Papa João Paulo II e ganhou um significado adicional bastante especial para milhões de pessoas. A data ficou marcada, inclusive, por ter sido uma das maiores cerimônias da história da Igreja: mais de 1,5 milhão de peregrinos viajaram a Roma para participarem do evento religioso! Sem contar as milhares de outras pessoas que assistiram ao concerto e à cerimônia à distância.

Origens do Dia do Trabalho na Itália

A Festa dei Lavoratori remonta ao final da década de 1880, quando os sindicatos começaram a surgir em todo o mundo. Depois, em 1925, a Festa foi suspensa por um longo período, quando o regime fascista controlava a Itália. O feriado só foi restaurado pelo governo italiano em 1945, após a Segunda Guerra Mundial.

Viajando para a Itália: Maio em Assis

Um fato interessante sobre a abertura do mês de maio na Itália é que a A Festa dei Lavoratori foi precedida por muitos anos pelo “Il Calendimaggio”, Festa da Primavera, uma celebração agrícola que marca o início da estação de cultivo. O nome, inclusive, revela muito sobre os costumes antigos dos romanos. 

A palavra calendário primeiro originou-se do grego “kalein”, significando “chamar em voz alta”, no sentido de uma “convocação”. E, no latim, depois transformou-se em “calendae”. Para os romanos, “calendas” era então o nome do primeiro dia de cada mês, e esse termo teria surgido a partir do costume romano de se “chamar em voz alta” os cidadãos, uma convocação do povo justamente no primeiro dia de cada mês, quando as pessoas eram informadas sobre os festivais e dias sagrados que deviam ser respeitados ao longo do mês.

Muitas regiões da Itália ainda celebram Il Calendimaggio, mas Assis é a mais reconhecida por realizar uma festa que atrai os turistas devido à sua grandeza.

Il Calendimaggio em Assis

Os moradores costumam planejar o ano todo os detalhes dessa comemoração, que dura vários dias, com todos vestidos como se ainda vivessem no período medieval.

A arte italiana caminhando junto nas conquistas

Abrimos este artigo com uma pintura especial, chamada “Il quarto stato”, do pintor italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo, criada em 1901. Ela se encontra, desde 7 de julho de 2022, na Galleria d’Arte Moderna de Milão.

A história da composição dessa pintura é de grande simbologia e de inspiração na realidade da luta pelos direitos dos trabalhadores.

“Ambasciatori della fame” (Embaixadores da Fome), primeira versão de esboço do que viria a ser “Il Quarto Stato”
Ambasciatori della fame” (Embaixadores da Fome), primeira versão de esboço do que viria a ser “Il Quarto Stato”

Giuseppe Pellizza havia iniciado sua ideia ao trabalhar em um esboço chamado primeiro de “Ambasciatori della fame” (Embaixadores da Fome), que podemos ver acima. Isso ocorreu em 1891, após Pellizza testemunhar um protesto de um grupo de trabalhadores. O artista ficou muito impressionado com a cena, tanto que escreveu em seu diário: 

“La questione sociale s’impone; molti si son dedicati ad essa e studiano alacremente per risolverla. Anche l’arte non dev’essere estranea a questo movimento verso una meta che è ancora un’incognita ma che pure si intuisce dover essere migliore a patto delle condizioni presenti.”

“A questão social se impõe; muitos se dedicaram a isso e estão trabalhando duro para resolver. Mesmo a arte não deve ser alheia a este movimento em direção a um objetivo que ainda é desconhecido, mas que, no entanto, se sente que deve ser melhor do que as condições atuais.”

“O quarto estado” faz referência, portanto, a uma ideia de poder e de manifestação por esse poder, por esse direito ainda não contemplado na sociedade. A tela retrata um grupo de trabalhadores marchando em protesto em uma praça. O avanço da procissão não é violento, é lento, seguro e confiante, sugerindo portanto um sentimento inevitável de vitória. E esta seria justamente a intenção de Pellizza, dar vida a “una massa di popolo, di lavoratori della terra, i quali intelligenti, forti, robusti, uniti, s’avanzano come fiumana travolgente ogni ostacolo che si frappone per raggiungere luogo dove ella trova equilibrio” (“uma massa de gente, de trabalhadores da terra, que são inteligentes, fortes, robustos e unidos, avançam como uma inundação superando todos os obstáculos que se interpõem no caminho para chegar a um lugar onde encontre equilíbrio”).

“O quarto estado"

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