A pizza é um dos pratos mais icônicos da culinária italiana e, sem dúvida, um dos mais amados em todo o mundo. Uma das variedades mais autênticas e reverenciadas é a Pizza Napoletana, que tem raízes profundas na cidade de Nápoles, no sul da Itália. Neste artigo, exploraremos a origem dessa tradição e as diferentes variedades dessa pizza que conquistou o paladar global e se tornou, simplesmente, um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, nomeado pela UNESCO.
Origens da Pizza Napoletana
A história da Pizza Napoletana remonta ao século XVII, quando a pizza era vendida principalmente nas ruas de Nápoles. As camadas mais pobres da sociedade napolitana apreciavam esse alimento acessível e saboroso, e a receita das pizzas de Nápoles matavam a fome dos diversos trabalhadores, conhecidos por “lazzaroni”. Esse status da pizza só viria a mudar muito depois, com a unificação da Itália – mas isso é uma história para um próximo artigo!
A pizza que conhecemos hoje como Pizza Napoletana tinha características diferentes naquela época. Era uma massa simples de pão, geralmente coberta com ingredientes como tomate, alho, manjericão e queijo, às vezes com queijo caciocavallo, outras vezes com anchovas.
Foi somente no final do século XIX que a pizza começou a evoluir em direção à sua forma atual. A adição do queijo mozzarella, uma cobertura de tomate, manjericão e azeite de oliva, é atribuída a um pizzaiolo napolitano chamado Raffaele Esposito. Diz a lenda que ele criou essa e outras pizzas em homenagem à rainha Margherita de Saboia, em 1889, incorporando as cores da bandeira italiana em sua receita. Assim, nascia a Pizza Margherita com a receita escolhida como favorita pela rainha, e que rodaria o mundo marcando a essência e a tradição da Pizza Napoletana.
Características específicas da Pizza Napoletana
A Pizza Napoletana é conhecida por suas características distintas que a diferenciam de outras variedades de pizza. Primeiramente, a massa deve ser fina, elástica e macia, com uma borda ligeiramente inflada. A fermentação natural da massa é essencial para seu sabor e textura únicos. E a utilização de farinha de grano duro, água, sal e fermento natural é um aspecto fundamental da autenticidade da Pizza Napoletana.
A cobertura da Pizza Napoletana é simples e tradicional. Ela é composta por tomates San Marzano, que são famosos por seu sabor adocicado e baixa acidez, mussarela de búfala, manjericão fresco e azeite de oliva extra virgem. A combinação desses ingredientes frescos e de alta qualidade resulta em uma explosão de sabores irresistíveis. Outra característica importante é o método de cozimento. A Pizza Napoletana é tradicionalmente assada em forno a lenha a uma temperatura muito alta, geralmente entre 430°C e 485°C. Isso permite que a pizza seja cozida rapidamente, em apenas alguns minutos, criando uma base crocante e uma borda levemente chamuscada. Essa técnica confere à pizza uma textura delicada e sabor inigualável.
Variedades regionais
Embora a pizza margherita seja a variação mais famosa da pizza napoletana, existem outras versões regionais que merecem reconhecimento. Uma delas é a chamada pizza marinara, que leva tomate, alho, azeite de oliva, orégano e, às vezes, anchovas. Ela é uma opção com um equilíbrio de sabores bastante apurado.
Outra variedade notável é a pizza capricciosa, que inclui mussarela, presunto cozido, cogumelos, azeitonas e alcachofras. Ela é conhecida por sua mistura de sabores e ingredientes frescos.
Na região de Campania, a pizza margherita ganha uma versão especial chamada “Pizza Margherita Extra”, que utiliza ingredientes considerados ainda mais “premium”, como tomates de San Marzano DOP e mussarela de búfala Campana DOP. (DOP significa Denominação de Origem Protegida e se refere a indicações geográficas definidas na legislação da União Europeia para proteger nomes das cozinhas regionais. É o caso do pomodorino vesuviano, que vimos no artigo Poesia ao redor do Vesúvio.)
La Vera Pizza Napoletana: reconhecimento internacional e proteção
A Pizza Napoletana conquistou o reconhecimento internacional e foi inscrita na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2017. Isso reflete a importância cultural e histórica da pizza na sociedade italiana e global.
Para garantir a autenticidade da Pizza Napoletana, a Associação de Pizza Napoletana (AVPN) estabeleceu diretrizes rigorosas para pizzaiolos e restaurantes. Essas diretrizes abrangem a escolha de ingredientes de qualidade, a preparação adequada da massa, a técnica de cozimento em forno a lenha e a apresentação final da pizza. Isso assegura que os amantes da Pizza Napoletana possam desfrutar de uma experiência autêntica e de alta qualidade em todo o mundo.
Em resumo, a Pizza Napoletana é uma tradição culinária que se originou em Nápoles e conquistou o mundo com suas características distintas e um sabor inigualável. Desde a icônica Pizza Margherita até as variações regionais, essa pizza é uma verdadeira obra-prima da gastronomia italiana. Portanto, ao saborear uma autêntica Pizza Napoletana, você não está apenas degustando um prato delicioso, mas também celebrando uma parte essencial da rica herança culinária italiana. Deu água na boca, né? Agora, antes de sair por aí procurando a pizzaria mais próxima de você, aproveite para assistir ao vídeo que o Prof. Darius gravou especialmente em solo italiano, em Treviso, no nordeste da Itália, localizada na região do Vêneto! Ele “invadiu” a cozinha de uma pizzaria para mostrar pra você o que é que existe de tão especial na pizza italiana!
Burgos italianos são cidades fortificadas, tesouros da civilização medieval que a Itália abriga nos topos das colinas, feito miniaturas saídas dos sonhos. Essas cidades estão localizadas nos topos das montanhas por uma boa razão, como veremos ao longo do texto de hoje. Nos burgos, encontramos ruas estreitas e uma arquitetura encantadora, com edificações que há séculos são testemunhas silenciosas do florescimento da cultura e da sobrevivência de uma sociedade que enfrentou desafios do período das invasões dos bárbaros.
Burgos medievais: vimos de perto!
Em uma de nossas viagens, descobrimos uma Cidade Fantasma, localizada no Monte Antuni, que nos ensinou muito sobre o período de formação dos burgos.
Aprendemos com o nosso guia Giovanni Giovanelli que os burgos foram vilarejos medievais construídos geralmente no topo das colinas, por conta de sua posição estratégica na defesa contra invasões, que eram constantes na Idade Média. Foi um período da história chamado de “encastelamento”. Era um tempo em que os castelos não eram necessariamente luxuosos, como aqueles que imaginamos quando pensamos na aristocracia: eram construções que prestavam apenas ao objetivo de defender o povo nos momentos de perigo.
Uma era de fragmentação
Durante a Idade Média, a Itália não era uma nação unificada, como a conhecemos hoje. Era uma terra fragmentada, dividida em pequenos reinos e cidades-estado. Foi nesse cenário que os burgos medievais começaram a surgir. Essas cidades fortificadas eram construídas em colinas e montanhas, estrategicamente posicionadas para defesa contra invasões. Suas muralhas imponentes e portões maciços eram testemunhas de uma época de incerteza e conflito.
Por isso, caminhar pelas ruas de um burgo medieval é como fazer uma jornada no tempo. Ruas de paralelepípedos, casas de pedra e praças pitorescas criam uma atmosfera encantadora. Muitos desses burgos são notáveis também por suas igrejas ornamentadas, cujas fachadas e interiores são testemunhos da devoção religiosa e do talento artístico da época, que resistiam a um período de sobrevivência, muitas vezes graças às contribuições dos cidadãos do burgo, que se juntavam em doações para garantir que o espaço público contasse com a construção de uma área de comunhão. Nesse caso, a fé se provava mais uma aliada, tanto do ponto de vista da fé, como nas questões práticas da defesa física do espaço. As igrejas antigas faziam parte da fortificação, como um complexo defensivo que podia se unir às torres de um burgo, criando um único corpo de abrigo e defesa. Um bom exemplo disso é a Igreja de San Giovanni Evangelista que pudemos ver de perto, em Castel di Tora.
Comércio, cultura e os riscos das construções no topo das colinas
Os burgos medievais não eram apenas fortalezas defensivas, mas também centros de comércio e cultura. Suas localizações estratégicas ao longo de rotas comerciais importantes permitiam o florescimento do comércio. Os artesãos locais produziam artigos de luxo, como jóias, tapeçarias e cerâmica, que eram exportados para outras regiões da Europa.
Além disso, essas cidades fortificadas eram frequentemente centros de aprendizado e cultura. Mosteiros e escolas desempenhavam um papel fundamental na preservação do conhecimento e na educação. Os manuscritos iluminados e os tratados filosóficos produzidos nesses burgos medievais ainda são estudados e admirados hoje em dia.
Civita di Bagnoregio
Outro burgo impressionante que pudemos conhecer de perto é o da Civita di Bagnoregio.
Imagine uma cidade medieval nas nuvens, correndo o risco de desaparecer porque foi construída no topo de uma montanha que está se desfazendo devido à erosão. Ela existe, está na Itália e nós tivemos a chance de aprender muito com as pessoas que encontramos no local, como um geólogo, com quem cruzamos por acaso, e que pôde nos explicar em detalhes sobre o processo de erosão que ameaça a existência desse burgo.
Bagnoregio é uma comuna italiana de apenas 3 mil habitantes, que está ligada ao topo de uma montanha por uma ponte. Do outro lado da ponte existe uma outra cidade, Civita di Bagnoregio, uma espécie de cidadezinha-satélite, localizada no topo de uma elevação montanhosa que os geólogos chamam de “sperone tufaceo” (esporão tufáceo). Para entrarmos, só mesmo atravessando a pé a ponte, sabendo que do outro lado nos espera uma história sem igual em todo o mundo!
Civita di Bagnoregio foi onde nasceu São Boaventura, em 1274. O local onde existia sua casa de infância já caiu à beira do precipício há muito tempo, em função do ritmo acelerado da erosão, que faz as camadas de barro e pedra deslizarem. Aos poucos, a cidade se torna uma ilha. Por tudo isso, é claro que poucas pessoas iriam querer continuar vivendo ali. A população hoje varia entre apenas cerca de 12 pessoas no inverno, e aproximadamente 100 no verão!
Para assistir nossa visita a esse lugar incrível, é só clicar aqui!
A tarantella é uma das danças mais icônicas e vibrantes da Itália, conhecida por seus movimentos rápidos, ritmo enérgico e espírito apaixonado. Essa dança cativante tem raízes profundas na história e cultura italianas, e tudo começou em Taranto, cidade localizada no sul da Itália. Hoje vamos descobrir o que impulsionou essa expressão cultural e os significados que ela tem ainda hoje, na Itália e no mundo, quando realizada em festas típicas italianas.
Como é o caso de todas as expressões culturais antigas, que datam de séculos e mais séculos, as origens mais precisas são difíceis de rastrear: por exemplo, quem terá sido a primeira pessoa a realizar a dança? Não saberíamos apontar uma data específica, nem um nome. Há uma longa história de diversas influências culturais que moldaram essa dança. No entanto, a etimologia da palavra nos permite rastrear sua origem e o que podemos descobrir é algo bastante surpreendente e pouco sabido!
Origem da Tarantella
O nome “tarantella” vem de “taranta”, que é um termo do dialeto das regiões do sul da Itália, que nomeava a tarântula Lycosa, uma aranha venenosa muito encontrada no sul da Europa, e em particular, justamente, na zona rural de Taranto, de onde leva o seu nome. Estudiosos apontam que vocábulos como tarantela, taranta e tarantismo derivam, portanto, do nome da cidade de Taranto, que viria de uma raiz linguística mais antiga.
Nessas áreas, a dança da tarantela está parcialmente ligada a algo curioso: a terapia da mordida da tarântula. A tradição atribuía ao veneno desta aranha efeitos diversos, dependendo das crenças locais: melancolia, convulsões, sofrimento mental, agitação e dor física.
Quem era picado ou acreditava ter sido picado por uma tarântula ganhava no corpo um dinamismo exagerado, por isso seria uma prática a terapia de coreografias ao som de música, especialmente eficazes durante festas, como dos Santos Pedro e Paulo. O que se sabe é que, por meio da prática da dança, seria possível a expulsão do veneno através do suor. Como forma de cura, a dança frenética da tarantella então ajudaria a acelerar a circulação sanguínea, permitindo que o veneno fosse expelido do corpo. Essa compreensão não seria necessariamente acessada dessa maneira naquela época, quando as crenças populares difundidas eram de que a dança funcionaria como uma espécie de trabalho espiritual para liberar o corpo do veneno.
No entanto, é importante considerar que toda expressão cultural dessa magnitude não é criada a partir do nada. Há muitos elementos da tarantella, como a dança em círculo que veremos mais adiante, que nos remetem a movimentos da dança praticada pelos gregos e pelos romanos. Festas pagãs e rituais dionisíacos reuniam pessoas que se expressavam através da dança de grupo e que, portanto, desenvolviam simbologias, linguagens corporais e sentidos que, assim como acontece no desenvolvimento das línguas, criaram marcas e deixaram rastros duradouros para as expressões culturais que viriam a nascer mais tarde.
A tarantella ao longo do tempo
A Tarantella evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se às mudanças culturais e sociais da Itália. Durante o Renascimento, a dança era popular nas cortes nobres e era frequentemente realizada em celebrações da alta sociedade. Ela foi incorporada em peças de teatro e óperas da época, tornando-se uma parte essencial da cultura italiana.
Com o tempo, a Tarantella também se espalhou para diferentes regiões da Itália, cada uma desenvolvendo sua própria variação da dança. As versões regionais da Tarantella são muitas vezes reconhecidas por seus trajes tradicionais distintos e variações nos passos de dança.
No século XIX, a Tarantella experimentou um ressurgimento de popularidade na Itália, quando a dança foi incorporada em festivais folclóricos e se tornou uma forma de celebrar a identidade italiana.
Hoje, a tarantella continua viva na cultura italiana, sendo realizada em festivais ao redor do mundo, em casamentos e em outras celebrações italianas. Ela também é uma atração turística popular, com muitos visitantes estrangeiros encantados pela energia e pela paixão dessa dança tradicional.
Na prática
A dança acontece formando-se um círculo, que gira e dança no sentido horário até a música se tornar rápida, quando todos trocam de direção. O ciclo de idas e vindas ocorre algumas vezes, gradualmente ganhando uma velocidade tão grande que se torna difícil manter o ritmo. O som é composto pela voz de um cantor central, acompanhado por tamborim e castanholas.
As origens podem ser misteriosas, cheias de explicações inusitadas, mas o resultado é uma expressão corporal cheia de vida, que assim representa hoje, e já há muito tempo, a alegria de viver, a celebração de um grupo que encontra harmonia e vence o desafio de não tropeçar nos erros que surgirem nos passos cada vez mais rápidos dos companheiros de dança – a vida acelerada pedindo união, e a resposta da dança: conexão com as tradições ancestrais podem nos levar de volta a nós mesmos. A tarantella é verdadeiramente uma jóia da cultura italiana que continua a encantar e inspirar pessoas em todo o mundo!
Quer assistir a uma tarantella típica? Então aproveite a gravação abaixo, de muito sucesso no YouTube, feita na Itália, uma autêntica dança da tarantella durante uma festa em um restaurante! Registros como esse nos permitem enxergar um pouco do que teria sido, há séculos, expressões culturais em círculos pequenos, com poucas pessoas assistindo, em tavernas, em lugares desconhecidos, em casamentos não registrados nos livros de história!
Também recomendamos os registros feitos há anos pelo canal Tarantolato Oficial, em que estão publicadas algumas danças realizadas na Itália, em eventos pequenos e grandes.
Agora, me diga: você gosta de aprender com música? Pois então vamos relembrar um grande sucesso dos últimos anos, Amaremare, uma canção da artista pop contemporânea, Dolcenera, que inclusive inserimos em uma das nossas aulas em formato de live, quando o Prof. Darius analisou a letra da canção.
Se você já conhece, ou se ainda não ouviu, é uma grande chance de se movimentar, dançar e estudar com alegria e reflexão, pois a letra é bela! Aproveite e clique aqui para assistir à aula com música do Prof. Darius:
A mitologia greco-romana tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para a arte ao longo dos séculos, e a figura de Vênus, a deusa do amor, da beleza e da fertilidade, desempenhou um papel proeminente na arte italiana. A evolução das representações de Vênus na arte italiana ao longo dos séculos reflete não apenas a mudança de estilos artísticos, mas também as mudanças culturais e sociais que ocorreram na Itália.
Na era renascentista, a arte italiana floresceu e buscou recuperar na mitologia clássica os símbolos e significados ideais para a compreensão e a representação do mundo. Artistas como Sandro Botticelli, nascido em Florença, e Tiziano (Ticiano em português), nascido em Pieve di Cadore, ficaram famosos por suas representações de Vênus. Uma das obras mais icônicas desse período é “O Nascimento de Vênus”, pintado por Botticelli por volta de 1484-1486. Nesta obra, Vênus é retratada emergindo do mar, nua e em uma concha, simbolizando a beleza e a pureza. O renascimento trouxe uma ênfase na harmonia, proporção e realismo, e isso se reflete nas obras que retratam Vênus.
No período barroco, artistas como Ticiano deram uma reviravolta ao retratar Vênus. Em sua famosa pintura “Vênus de Urbino”, de 1538, Ticiano apresenta uma Vênus de uma forma mais sensual e provocante. A figura de Vênus nua em uma pose reclinada e com olhar sedutor desafia as convenções da época, mas também reflete uma mudança na representação da sexualidade na arte.
Já no século XIX, houve um movimento que buscou recuperar traços da arte que existia antes do gênio renascentista italiano Rafael, foi fundado na Inglaterra e tinha a intenção de reencontrar estilos artísticos que pudessem recriar representações clássicas, por isso Vênus voltou a ser uma figura proeminente em algumas obras. Artistas ingleses como Dante Gabriel Rossetti retrataram Vênus com um toque romântico, incorporando elementos do simbolismo e da natureza. Vênus era frequentemente representada em paisagens exuberantes e envolta em mistério.
Já na virada do século XX, a Itália voltou a testemunhar um período de intensa inovação artística. Artistas como Amedeo Modigliani, nascido em Livorno, em 1884,exploraram novas formas de representar Vênus. Modigliani, conhecido por seu estilo de retratos alongados e estilizados, pintou Vênus de uma maneira única e moderna – combinando elementos clássicos com um toque de abstração.
A evolução das representações de Vênus na arte italiana reflete não apenas mudanças no estilo artístico, mas também nas atitudes culturais em relação à beleza e à mitologia. Desde a pureza renascentista até a sensualidade barroca e as interpretações românticas e modernas, Vênus continuou a ser uma figura cativante para os artistas italianos.
Na era da inteligência artificial
Nos dias de hoje, ao contrário da evolução artística que vimos, a figura de Vênus também já caiu no automatismo das criações da inteligência artificial. Como veremos abaixo, ao retirarmos a genialidade dos pintores da equação da arte, o que podemos acabar descobrindo é um esvaziamento do significado dos símbolos e das representações artísticas.
Vênus é tão presente na cultura mundial que foi utilizada recentemente, em 2023, não para a continuidade de suas representações na arte da pintura, mas para fins publicitários, em uma campanha que revoltou muitos italianos. A imagem utilizada foi especificamente a de Botticelli. Sua Vênus apareceu transformada em influenciadora digital em uma representação gerada por computador para promover o turismo na Itália. O motivo da revolta: foi uma criação do próprio Ministério do Turismo italiano, que imaginou que pudesse gerar interesse aos viajantes sem causar polêmicas. A Vênus do pintor italiano aparece comendo pizza e tirando selfies para postar no instagram.
Na imprensa e em redes sociais, as pessoas expressaram descontentamento, dizendo que as imagens banalizam a obra e também as paisagens.
Uma das mensagens que foi alvo de críticas misturava idiomas, com traduções automáticas para turistas de todo o mundo, dizendo: “Quem melhor do que eu para levar você para descobrir este lindo país, em qualquer época do ano? Eu sou Vênus. O ícone da Itália no mundo de hoje”.
A deusa do amor e da beleza tem sido retratada de inúmeras maneiras ao longo dos séculos, refletindo as mudanças estilísticas e as transformações culturais que ocorreram na Itália e no mundo da arte. Ela permanece como um símbolo duradouro de inspiração e fascinação, continuando a encantar espectadores e a influenciar artistas contemporâneos.
E a evolução das possibilidades de representações de Vênus na arte italiana, apesar de qualquer desagrado recente, é um testemunho da riqueza e da complexidade da cultura e da criatividade italianas.
E você? O que achou disso?
Aproveite para assistir ao vídeo em que o Prof. Darius caminha pelas ruas de Firenze mostrando dicas para viajantes. Essa é a cidade onde o turismo cultural permite conhecer de perto a história da arte e ver com os próprios olhos criações de gênios como Sandro Botticelli, que vimos ao longo deste artigo. Um de seus quadros mais famosos, “Alegoria da Primavera”,está em exposição em Firenze, desde 1919, na Galeria Uffizi. Pintada em 1482, é considerada uma das pinturas mais faladas e mais controversas do mundo!
O “Scoppio del Carro” é uma das tradições mais antigas de Florença. Surgiu por volta de 1600 e ocorre durante a Páscoa. Essa festividade, que também é conhecida como “A Explosão da Carruagem”, tem raízes medievais e é um dos eventos mais curiosos que os turistas desavisados podem testemunhar.
O evento
O evento inicia-se com um carro, ou melhor, uma carroça, coberta de fogos de artifício, conhecida como “Brindellone”, que é puxada por bois brancos ornamentados. Ela é estacionada em frente à Basílica de Santa Maria del Fiore, a deslumbrante Catedral de Florença. Durante a missa de Páscoa na catedral, um fio com uma pomba de madeira, chamada de “colombina” (que representa o Espírito Santo), é acionado por um cabo de segurança que percorre a catedral, eis então o momento do volo della colombina . Ao final da missa, o Arcebispo de Florença acende um foguete em forma de pomba, que simboliza a bênção divina.
Esse foguete é então aceso e percorre o cabo até a carroça, onde há uma pilha de fogos de artifício prontos para explodir. Os efeitos pirotécnicos incluem fogos que giram e lançam faíscas para todos os lados, por isso tudo é feito com uma distância segura da população, que assiste ao espetáculo por trás de uma cerca de proteção.
Palagio di Parte Guelfa
O Palagio di Parte Guelfa também faz parte do evento. É um Palácio que foi sede de um dos partidos políticos do século XIV, os guelfos. E hoje é dali que os grupos de cortejo se deslocam para expor suas vestimentas e habilidades acrobáticas. Antes do volo della colombina, eles passam pela Piazza della Signoria e depois se reúnem com os sbandieratori na Piazza della Repubblica. Deste cortejo participam figurantes de nobreza fiorentina vestidos de época renascentista, os balestieri (balestra), um representante de cada time do calcio storico e porta bandeiras com os símbolos das Artes (sindicatos de época medieval).
Sbandieratori
Os sbandieratori, por sua vez,são um grupo performático de agitadores de bandeira que nasceu em Figline Valdarno em 1965, a partir da vontade de alguns jovens entusiastas. Desde 1973, após uma breve passagem pelo Calcio Storico Fiorentino, o grupo afirmou a sua independência, fortalecendo a sua identidade e o seu prestígio.
Eles atuam com sucesso na Itália e no exterior, levando a tradição toscana para todo o mundo. São inúmeros os elementos de vestimenta que eles carregam como símbolos do tempo medieval e se dividem em capitães, tambores, clarins e agitadores de bandeiras, com uma escola de bandeiras que remonta à antiga tradição da agitação de bandeiras militares, com varas de madeira artesanais e tecidos bordados com muita técnica e atenção aos mínimos detalhes estéticos e históricos.
Na estrutura de madeira do Brindellone está esculpido o brasão da Família Pazzi, que por muitos séculos foi a organizadora do evento. Mas a celebração não se prende a raízes familiares, pois sua essência está em suas conotações de comunhão social e de simbologia religiosa, já que a Páscoa é uma das festividades cristãs mais importantes. Esse espetáculo unicamente florentino diversifica as representações da ressurreição de Jesus Cristo e da renovação da vida, tornando o evento uma comemoração teatral, social e literalmente explosiva. O “Scoppio del Carro” é portanto uma maneira de marcar a data de uma forma que envolve narrativa e, verdadeiramente, espetáculo.
Tradição
A realização da festa, em cada uma das suas etapas, atrai tanto os fiéis quanto turistas e moradores que possam se considerar apenas amantes da cultura e da história. É uma celebração que acolhe a todos e que combina elementos estéticos da história e da religião, numa interação social bastante reveladora do que, ainda hoje, explica o valor incomparável de Florença como um patrimônio da humanidade.
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