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Aqueduto romano: um legado milenar de eficiência

Aqueduto romano: um legado milenar de eficiência

A Itália é famosa por suas fontes artísticas, com esculturas monumentais, jorrando água há séculos, 24 horas por dia. Tudo isso graças a um complexo de aquedutos que cobre a Itália do Lácio à Toscana, da Campânia à Úmbria. Mas você sabia que essas fontane só existem porque, muito antes delas, durante o Império Romano, outras obras monumentais precisaram ser pensadas e criadas muito lentamente?

Aqueduto dos pegões na Itália

Origem dos aquedutos

Há mais de dois mil anos, técnicos do Império descobriram fontes naturais de água pura a pouco mais de 20 quilômetros de Roma. Estabelecia-se assim a possibilidade de um serviço romano que pouparia distâncias e levaria água potável ao povo, até suas casas e até bebedouros públicos. Mas como fazer esse transporte?

Os chamados aquedutos foram construídos como vias, às vezes subterrâneas, às vezes em caminhos “aéreos”, fazendo a água correr em calhas no topo de arcadas, que desviavam o fluxo da água das fontes naturais ao longo de quilômetros e quilômetros, até chegar às cidades, nas casas dos cidadãos e nas ruas.

Espetáculo das águas

Já nos tempos do Império Romano, após a construção de fontes que serviam para matar a sede dos transeuntes, o que se decidiu é que esses aquedutos seriam desviados também para grandes praças, onde se construiria uma fonte que servisse de “espetáculo”, la fontana “mostra.

Aqueduto Fontana di Trevi Dolce Vitta na italia
Marcello Mastroianni e Sylvia Rank nas águas da Fontana di Trevi durante as gravações de “La Dolce Vita”, de 1960.

Hoje é impossível pensar em Roma e não se lembrar desses tipos de fontes artísticas monumentais, com água cristalina jorrando incessantemente, como a Fontana di Trevi (que já apareceu em filmes, como em La Dolce Vita), ou a Fontana dei Quattro Fiumi localizada na Piazza Navona, a Fontana del Gianicolo, a Fontana del Tritone, entre outras.

https://www.youtube.com/watch?v=The8Xi6fKOE

 

Nasoni: os bebedouros do século XIX

Como vimos, além das conhecidas fontes artísticas do centro histórico da capital, que existem há séculos e são pontos turísticos disputados todos os dias, também existiam, há milênios, outras pequenas fontes. Após a queda do Império, o sistema de bebedouros foi repensado e recriado. Os mais comuns de Roma, hoje em dia, não são muito conhecidos por turistas que planejam visitar apenas as grandes fontes dos pontos turísticos.

Estamos falando dos chamados nasoni. Esse foi o nome dado pelos romanos às fontes públicas de menor porte construídas a partir de 1870, feitas em ferro fundido ou travertino. Significa literalmente “nariz grande“. Se quisermos: “narigões”. É uma maneira carinhosa de se referir ao formato cilíndrico, dotado de uma bica. Essas fontes estão instaladas em diversas praças e ruas da cidade.

Bebedouro Fontana Delle Tre Cannelle na Via Della Cordonata em Roma
Uma das mais famosas nasoni, a Fontana Delle Tre Cannelle, localizada na Via Della Cordonata

A água potável que é fornecida nesses nasoni é a mesma da distribuição às casas romanas há mais de 100 anos. Hoje em dia, só em Roma, existem aproximadamente 2,500 nasoni, garantindo que ninguém passe sede nas ruas da metrópole. Tudo resulta de um precioso patrimônio histórico e social da Itália, conhecido ao redor do mundo, que leva água potável até os subúrbios da cidade. 

Adiantamos uma dica importante: a maneira mais fácil de se beber água destas fontes é simplesmente tapar a abertura principal por onde corre a água. Dessa maneira, você fará com que o fluxo desvie o trajeto e saia pelo pequeno orifício de cima do cano, funcionando então como um bebedouro.

Nasone italiano como beber água
O melhor jeito de reconduzir a água de um nasoni, tampando sua saída principal com a mão.

Isso tudo não significa que as águas de milhares de nasoni viajam ainda hoje pelos mesmissimos aquedutos do tempo do Império Romano. Afinal, houve um período em que as águas pararam de jorrar e os aquedutos secaram!

Aqueduto na Itália

Aquedutos – Ruínas secas

Em 98 d.C., de acordo com Sextus Julius Frontinus (que era cônsul e curador aquarum da época, encarregado de cuidar do serviço de distribuição de água), Roma contava com dezenas de fontes monumentais e centenas de bacias públicas. Foi, portanto, depois da queda do Império Romano do Ocidente que essas fontes pararam de funcionar. Os aquedutos foram destruídos, tornaram-se ruínas observáveis até os dias hoje, e por isso as centenas de fontes espalhadas pela cidade secaram. Por muito tempo, durante a Idade Média, os romanos só puderam se abastecer da água de poços poluídos, que recebiam os esgotos da cidade.

Aqueduto em Tivolli na Itália
Ruínas de um trecho destruído da Acqua Marcia, em Tívoli

Mais de mil anos precisaram se passar até que, por decisão do Papa Nicolau V, foi iniciada a reconstrução do Acqua Vergine, um dos aquedutos mais antigos que abasteciam a cidade de Roma na era do Império. Com essa decisão, o Papa também reviveu o costume romano de se marcar o ponto de chegada de um aqueduto com uma “mostra”, como vimos: uma fonte monumental para servir de espetáculo.

Assim surgia a ideia de construir, bem no ponto final da Acqua Vergine, uma monumental fonte, que fosse um espetáculo digno da história. Arquitetos foram encarregados de criarem projetos até que fosse selecionado um que estivesse à altura. Após muitas competições entre arquitetos e artistas do Renascimento, Nicola Salvi, e depois Giuseppe Pannini, realizaram o projeto que ao final, em 1762, ergueu Netuno e seu séquito nas águas da Fontana di Trevi.

Cem anos depois, surgiam também os projetos das construções dos milhares de nasoni que hoje, junto às magníficas fontes monumentais, ajudam a reviver a idade de ouro dos romanos, realizando os sonhos do Império.

Aqueduto Villa Adriana na Itália
Ruínas da Villa Adriana, por onde passavam quatro dos aquedutos que abasteciam Roma: Anvio Vetus, Anio Novus, Acqua Claudia e Acqua Marcia.

Quais nasoni visitar?

Nem todos os nasoni seguem o projeto base, utilizado na maioria dos casos, no formato cilíndrico e uma só bica. Como vimos, alguns podem ter três bicas, como na Fontana delle Tre Cannelle. Outros nasoni são ainda mais diferenciados, com uma estética única que justifica que os turistas criem planos para visitarem algumas áreas secretas da cidade a fim de conhecê-los.

Entre os nasoni mais conhecidos, estão os seguintes, das respectivas imagens abaixo: a pequena fonte embutida na parede da Via della Fontanella di Borghese; a Fontana da área do Circo Massimo, com vista para as ruínas e o vale que uma vez compuseram a maior arena de entretenimento do Império; e aquela que já vimos anteriormente, a Fontana delle Tre Cannelle, com bicas em forma de dragão, localizada na via della Cordonata, perto da via Nazionale.

Mas é claro que você poderá descobrir outras centenas de nasoni especiais, afinal são mais de 2 mil em Roma. E para auxiliar os turistas, foi inclusive criado um app, chamado Fountains in Italy, que contém um mapa com as direções, as descrições e as fotos de cada uma dessas fontes especialmente italianas! Também é possível utilizar o site da operadora de distribuição de água, Acea, para rastrear no mapa os mais de 6500 nasoni instalados por toda a Itália.

Nasone Circo Massimo bebedores na Itália
Nasone na área do Circo Massimo, com ruínas ao fundo
Bebedouro na Via della Fontanella di Borghese na Itália
Nasone na Via della Fontanella di Borghese

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A presto!

Entre os três estilos de aprendizagem, qual é o seu?

Entre os três estilos de aprendizagem, qual é o seu?

Aprender a falar italiano não depende apenas de aulas e exercícios que você faz quando está estudando. Algo que falamos bastante aqui na ITALICA é sobre a importância das estratégias de aprendizagem inseridas no cotidiano. A principal delas, que já mencionamos em uma das nossas lives, é a de imersão e exposição constante a conteúdos que estejam em italiano. Mas, antes mesmo que essas ações iniciem, o que pode ser descoberto, por você estudante do italiano, é a maneira como essa imersão se adequa melhor ao seu cotidiano, e para isso, um elemento é essencial para prosseguirmos: seu estilo de aprendizagem.

Stile di apprendimento

Já ouviram falar desse termo?  Os estilos de aprendizagem indicam como cada estudante elabora e internaliza informações e novas habilidades. E isso pode variar de pessoa para pessoa, por isso é natural que existam diferentes abordagens ou percursos para aprender.

Saber quais são esses estilos nos ajuda a conduzir a nossa aprendizagem com mais eficiência, aproveitando melhor o tempo que temos disponível e potencializando nossos pontos fortes. E tenha em mente que o seu estilo também pode variar ao longo da sua vida, ou mesmo ao longo da semana! É possível que você se identifique com um estilo em geral, e mesmo assim haver dias em que você se enquadre melhor em um ou em outro dos estilos que vamos citar adiante. De qualquer maneira, é comum que algum estilo de aprendizagem prevaleça sobre os outros.

Vamos fazer um quiz rápido?

Faremos um teste básico, que vai envolver os seus outros sentidos além da visão, por isso gravamos primeiro um vídeo explorando as imagens e os sons que podem te indicar o seu estilo.

3 estilos de aprendizagem

Vamos iniciar aqui e você poderá continuar o teste a partir do vídeo que publicamos no nosso canal no YouTube (link ao final do artigo). E depois de assistir, aproveite para acessar também o Questionari Per La Individuazione Dello Stile Di Apprendimento, que avaliará em detalhes as suas inclinações.

Para começar o nosso exercício do vídeo, vou dizer uma palavra. Pense sobre ela por algum tempo. Aqui vai:

Café — pense na palavra “café” e feche um pouco os olhos.

Alguma outra palavra veio à mente? Alguma imagem? Algum som?

No vídeo que publicamos, você poderá continuar o teste, enxergando e ouvindo os estímulos que indicam seu estilo de aprendizagem. É só clicar aqui para assistir! 

Os estilos de aprendizagem

Dependendo de como você experimentou o breve exercício, será possível perceber suas tendências entre os três seguintes tipos, que vimos no vídeo:

Visivi

Pessoas que têm o estilo mais visual de aprendizagem, podem preferir observar, fazer anotações, criar tabelas e resumos, criar associações por meio de imagens, que juntem as palavras à realidade visível de cada contexto. Nesse caso, os conteúdos visuais das aulas, dos livros e de filmes (e até das legendas colocadas em italiano) podem ajudar a fixar os significados de cada novo conhecimento.

Uditivi

Este é o estilo auditivo, portanto canções, podcasts, aulas de conversação e a chance de escutar a própria voz podem potencializar o aprendizado.

Cinestesici

O estilo cinestésico une todos os sentidos que temos, ou seja, até mesmo o olfato, o tato e o paladar podem auxiliar no aprendizado. Esse estilo abrange todas as funções e pode beneficiar as pessoas que aprendam explorando, por exemplo, a culinária italiana e o contato com outras pessoas. Nesse caso, recomendamos atividades mais dinâmicas: fazer jogos reais e mentais, como a lista das compras em italiano, contar em italiano, como as repetições na academia ou qualquer outro número do dia a dia. Pode ser interessante também partilhar o que aprendeu em aula, numa espécie de repetição que auxilia a fixação do conhecimento; para isso, é possível ajudar colegas que estão aprendendo o idioma, ou mesmo tentar ensinar conteúdos de aula a um parente, adulto ou mesmo a uma criança.

Lembre-se: as pessoas não têm um único estilo de aprendizagem, ou seja, não aprendemos de uma só forma. Mas é provável que cada um de nós acabe usando mais um estilo do que os outros dois; são tendências naturais.

ATENÇÃO: isso tudo não significa que você precise usar só as técnicas ligadas ao “seu” estilo. Pelo contrário, é possível aproveitar melhor de todos os estilos se você souber quais são os seus pontos fortes! E assim será possível inclusive saber como se desafiar no contato com os outros estilos de aprendizagem.

Buona visione!

A presto!

Filmes e séries para aprender italiano na Netflix

Filmes e séries para aprender italiano na Netflix

É possível aprender um idioma se divertindo, assistindo a filmes e escutando músicas. Essa é uma verdade comprovada diariamente no aprendizado de uma criança. Não é apenas o conteúdo visto em sala de aula que alfabetiza e torna fluentes as crianças de todo o mundo, é também o conteúdo com o qual elas entram em contato quando estão fora da escola. Por que não aplicaríamos esse mesmo procedimento no nosso processo de aprendizado de uma nova língua durante a vida adulta?

Treinando seu italiano

O primeiro passo para garantir que também você tenha essa experiência concreta de descoberta e aprendizado pode ser resumido numa expressão que já utilizei muitas vezes com os meus alunos: immersione ed esposizione costante!

Isso mesmo, não tem mistério quando se trata de treinar a escuta. Para melhorar a sua capacidade de encontrar mentalmente as palavras que precisa para descrever determinada coisa ou ideia, só mesmo através do que chamamos de imersão e exposição constante. A imersão nos garante o envolvimento necessário com a língua que estamos aprendendo. Qualquer idioma se torna, portanto, mais íntimo e acessível quando nos acostumamos a escutar as palavras de um conteúdo autêntico, isto é: conteúdo feito originalmente na língua que estamos estudando. Trata-se de um produto com as marcas culturais, com o ritmo natural da fala e com uma variedade de expressões muito maior do que aquela que encontraríamos apenas em exercícios ou em conversas de uma sala de aula.

Filmes e séries para aprender italiano

Conteúdos em Italiano

E hoje em dia você conta com muitas ferramentas que tornam esse processo mais prazeroso e pessoal, porque você pode se cercar de conteúdos diversos, de entrevistas de podcast a filmes e séries de produção original da Itália! Essa tarefa de imersão pode acontecer com naturalidade se você selecionar conteúdos que abordem os temas e os tipos de entretenimento que te agradam, que já fazem parte do seu mundo e das necessidades que você tem em outras áreas da sua vida. É possível, portanto, adquirir repertório para aprender os fundamentos da língua enquanto você se diverte!

Filmes para aprender italiano

Por isso, convido você a assistir a uma live que preparamos aqui na ITALICA sobre o tema. Abordamos filmes e séries produzidos na Itália e que estão disponíveis na Netflix. Trata-se então de conteúdos autênticos, com os quais você escutará a pronúncia e o ritmo do italiano dentro de contextos que te ajudarão a assimilar significados e recursos de comunicação sem esforço.

Dicas ITALICA de filmes em italiano

Dividimos essa live em duas partes.

Parte 1

Na primeira parte, tive a companhia de Gabi Salvatto, professora da Squadra ITALICA, que muitos de vocês já conhecem! Além da nossa lista de filmes e séries, também aprofundamos a conversa com detalhes sobre os gêneros cinematográficos e a história por trás do termo “Giallo”, vindo da palavra que significa “amarelo”, mas que também ficou marcada para definir o gênero de filmes de suspense e de tema policial.

Parte 2

Na parte 2, dou continuidade à curadoria da professora Gabi Salvatto. E attenzione: não trago a lista toda para cá pois não se trata apenas de saber quais séries estamos recomendando! Assistir à live é também uma chance de conhecer termos e o vocabulário da área cinematográfica. Te convido a me acompanhar na leitura que destaco nas imagens, notando as sonoridades e o vocabulário usado nas diferentes sinopses de cada um dos filmes e séries que mostro a vocês. É uma chance, desde já, de você ampliar seu conhecimento linguístico. 

Lembre-se: o aprendizado sempre acontece da melhor maneira e no melhor ritmo quando garantimos que essa atividade de imersão seja feita com diversão e entretenimento!

Buona visione!

A presto

Provérbios italianos revelam muito da tradição do formaggio na Itália

Provérbios italianos revelam muito da tradição do formaggio na Itália

Provérbios são especialmente valiosos para se aprender sobre o idioma, a culinária e a cultura italianas. E não se trata simplesmente de aprendermos versões italianas de ditados já conhecidos em outras línguas. É, na verdade, a chance de descobrirmos ideias que não estão registradas em provérbios de nenhum outro idioma!

Provérbios italianos

Para começar, vamos ver um provérbio fácil de se compreender, e que pode ser usado como resposta bem humorada em conversas do cotidiano. Envolve um alimento que, como veremos, está muito presente em outros provérbios italianos, o queijo.

“Anche il groviera ha i buchi e non si lamenta.”
(Até o gruyere tem buracos e não reclama.)

Queijo italiano Gruyere

Esse provérbio, relativamente novo na longa lista de provérbios italianos, é atribuído ao ator italiano de comédias chamado Totò, conhecido por filmes como I soliti ignoti (Os eternos desconhecidos), de 1958.

Filme-italiano-Os-eternos-desconhecidos-de 1958

Outras centenas de provérbios, porém, datam de séculos atrás e ninguém pode sequer imaginar de quem teria sido a autoria. Alguns não são facilmente traduzíveis porque expressam ideias de contextos que não estão presentes no nosso dia a dia. Veja o desafio de tentar traduzir o seguinte provérbio:

“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”

Se traduzirmos ao pé da letra, fará sentido? Vamos tentar:

Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.

Traduzir não é o suficiente para concluirmos o sentido e o contexto dessa frase. Sem acesso a uma pesquisa detalhada, só nos restaria imaginar, talvez até inventar sentidos. Isso nos aponta uma direção importante. Existe alguma coisa especialmente italiana e histórica nesse e em outros provérbios que surgiram há séculos na Itália? É o que veremos.

Antes de mais nada, é claro que também em italiano encontramos muitos ditados cheios de metáforas, que comunicam aquilo que em português já nos acostumamos a falar quando queremos criar sentidos em variados contextos. Por exemplo:

Cane che abbaia non morde.
(Cão que ladra não morde.)

Non tutto il male viene per nuocere.
(Há males que vêm para o bem.)

Chi va piano va sano e va lontano.
(Devagar se vai longe.)

Chi troppo vuole nulla stringe.
(Quem tudo quer, tudo perde.)

Acontece que, no caso de outros muitos provérbios italianos, descobrimos que nem todos são inventados para servir como metáforas úteis em contextos diversos. Alguns ditados seriam registros pontuais sobre um pensamento, sobre uma qualidade, sobre um perigo, sobre os benefícios de uma prática. Podemos encontrar muitos desses valiosos registros no Dicionário de provérbios italianos – 6.000 verbetes e 10.000 variantes dialetais, de R. Schwamenthal e M. L. Straniero. Diante de números tão grandes, é natural então percebermos que a linguagem dos provérbios, desde a Idade Média, também é utilizada para guardar e transmitir a importante herança da culinária italiana.

Dicionario de Proverbios Italianos

Estudiosos da área, como Giovanni Ballarini, professor da Universidade de Parma, encontraram mais de 300 expressões idiomáticas e provérbios referentes a alimentos. O que comprova que o ato de comer tornou-se mais do que um fato biológico, mas um ação simbólica na comunicação dos italianos, que se viram capazes de criarem sentido, registrarem conhecimentos e passarem adiante costumes e práticas – em alguns casos até mesmo para garantir boas maneiras no cuidado da saúde, como no seguinte provérbio:

Il formaggio è cibo sano se ne mangi poco e piano.
(O queijo é um alimento saudável se você comer pouco e devagar.)

Uma curiosidade que Giovanni registrou em seus estudos é que, entre tantas expressões referentes a comida, queijos ocupam um lugar de destaque, com 36 provérbios dedicados a eles.

Essa possibilidade de tornar a alimentação um tema recorrente revela um cuidado e uma sabedoria: frases curtas podiam ser facilmente memorizadas e repassadas de boca em boca, de geração em geração, para então servirem como receitas, destacando qualidades de certos alimentos e fazendo alertas de perigos na alimentação. Um livro que se aprofundou no tema é de autoria de Terence Scully, intitulado The Art of Cookery in the Middle Ages (A arte da culinária na Idade Média), onde foram reunidas centenas de provérbios de conteúdo alimentar da tradição medieval.

A arte da culinária na Idade Media

Por isso é tão importante notarmos que alguns provérbios podem ter surgido não apenas como metáforas para outros saberes da vida. Alguns que veremos têm características de exaltação de uma prática muito repetida ou de uma atenção aos prazeres de uma boa alimentação.

A sabedoria morava nos provérbios

Dalla tavola non alzarti mai se la tua
bocca non ha assaporato il formaggio!
(Nunca se levante da mesa se sua boca ainda não provou o queijo!)

A frase acima é uma representação bem humorada de uma prática sendo valorizada, quase como um “bom costume”, uma “etiqueta” da boa refeição e das boas maneiras. Isso significa que a linguagem, por meio da repetição de certas falas, ajuda a construir a identidade de um povo. Também no português, é claro, temos casos em que ouvimos ditados repassados de geração em geração. É como se estivéssemos diante de um guia, escutando as palavras que indicam como é que se deve continuar agindo através dos tempos. No caso da cultura italiana, os provérbios que fazem referência à alimentação demonstram como os conhecimentos acerca dos alimentos eram especialmente valorizados e conservados.

O professor Giovanni Ballarini, em uma de suas notas sobre o assunto, se refere a alguns desses provérbios de queijos como sendo “provérbios-lembretes”, que podiam registrar dicas de culinária, com ensinamentos de truques para a melhor seleção de ingredientes que pudessem garantir o preparo de pratos deliciosos. Outro bom exemplo é: “Formaggio non guasta sapore” (“O queijo não estraga o sabor”).

Proverbio Italiano e o queijo em livros medievais

Assim, diz o professor, os italianos podiam se apresentar como cozinheiros voluntários, exaltando prazeres do paladar, muitas vezes com bom humor, trocando receitas e garantindo a tradição de se partilhar momentos festivos à mesa. O professor também destaca as palavras de Piero Camporesi (historiador e antropólogo italiano, que lecionou literatura italiana na Universidade de Bolonha), que escreveu sobre o valor do provérbio no tempo em que a escolarização não era acessível à vasta parcela da população. Nas palavras do professor, Camporesi diz que “no mundo analfabeto como o camponês, o provérbio condensa o conhecimento do grupo”.

Formaggi per tutti i gusti

Existem tantos provérbios italianos citando alimentos que não seria possível analisar cada um deles aqui, mas vamos finalizar vendo de perto mais três deles, referentes ainda a queijos. E são provérbios que abrem portas para fatos históricos.

“Se la cena non basta alle attese, il formaggio ne paga le spese.”

(Se o jantar não atender às expectativas, o queijo paga a conta.)

Essa pode ser lida literalmente como exaltação do queijo como um elemento do prato que é difícil de errar. Se tudo estiver mal preparado, pelo menos o queijo será saboroso.

“Il formaggio sulla zuppa non guasta mai.”

(Queijo na sopa nunca é demais.)

Essa tem cara de receita. E eu particularmente concordo. Queijo derrete na sopa quentinha e sempre acrescenta sabor especial! Mas é um ditado que nos remete ao tempo medieval e conta sobre um momento em que havia poucos recursos para a alimentação. Na falta de ingredientes, o queijo podia ser a garantia de sabor numa sopa simples.

“Cadere come il cacio sui maccheroni.”

(Cai como queijo no macarrão.)

Teria provérbio de queijo mais italiano do que este? É quase uma lei garantir que não falte um queijo ralado por cima da macarronada. Consigo até ver em câmera lenta. Também podemos imaginar funcionando como metáfora para expressar toda e qualquer coisa que “cai bem”, uma feliz coincidência do dia a dia, que completa uma situação e cai tão bem quanto um queijo no macarrão.

Mas também podemos descobrir nesse provérbio as origens do consumo de massa em Nápoles. O maccheroni era cozido na rua e comido com as mãos. E qual era o tempero jogado diretamente sobre a massa? O queijo. O complemento essencial.

“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”

(Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.)

Nessa aqui, confesso, não vou nem me arriscar. Deixo para vocês como desafio para imaginação. O que será que poderia significar?! 

Agora, para compensar o mistério desse último provérbio e falarmos do sabor do formaggio e da ricotta, aproveite para viajar comigo e conhecer de perto justamente uma produção de formaggio na zona de Chianti, na Toscana! É só clicar para assistir nossa descoberta das etapas de produção de queijo artesanal, do formaggio fresco e da ricotta

Buona visione!

A presto

Fontes

(Aproveite para continuar sua leitura em italiano!)

(https://www.seminarioveronelli.com/2021/il-formaggio-sulla-bocca-di-tutti/)

(https://www.ruminantia.it/i-proverbi-del-formaggio/)

O que significa o gesto dos italianos?

Sabe aquele famoso gesto italiano feito com as pontas dos dedos reunidas e a mão em movimento? Tão famoso que até se tornou um emoji recentemente. Pois é, todo mundo que quer imitar um italiano acaba recorrendo a esse “estereótipo” da gesticulação.

Gesto dos italianos

Mas, afinal, o que significa esse gesto? E a gesticulação, de modo geral, será mesmo apenas um estereótipo?

Entendendo os gestos

Vamos começar respondendo à primeira pergunta: esse gesto é geralmente associado ao significado de “Che vuoi?” (“O que você quer?”)

Isso mesmo, uma frase inteira pode ser entendida com um simples gesto. Isso é o que chamamos de linguagem não-verbal e é parte fundamental da comunicação dos italianos, que não têm apenas esse gesto. São tantos outros que podemos dizer, sem exagero, que os italianos sabem falar com as mãos. Pois é, não é apenas um estereótipo!

A expansão da linguagem dos gestos

Existe até livro sobre o assunto. “Mani che parlano: gesti e psciologia della comunicazione”, de Isabella Poggi e Emanuela Magno Caldognetto (1997), faz um apanhado de 250 gestos muito utilizados pelos italianos no cotidiano.

Gestos italianos e a comunicação

E não é apenas este livro que aborda o tema. O número de publicações passa de uma dezena e isso demonstra a importância da gesticulação para a comunicação na cultura italiana. É como se as palavras não bastassem para expressar tudo que a pessoa está sentindo ou pensando. Ou então, como se fosse possível poupar algumas palavras para que o sentido fosse passado adiante com menos esforço.

E quais as origens históricas dessa característica?

Uma das primeiras publicações a se aprofundarem no tema foi publicada em 1832: “La mimica degli antichi investigata nel gestire napoletano”, de Andrea de Jorio, arqueólogo italiano, o primeiro etnógrafo a estudar a linguagem corporal.

Mimica dos Antigos

Descobrimos, com essa leitura, que uma das teorias sobre a origem dos gestos remonta à época do Império Romano, que abrangia territórios habitados por povos distintos.

Gestos dos italianos

Os gestos, portanto, ajudariam a resolver problemas de comunicação, representando ações, sentimentos, ideias… exatamente como uma lingua de sinais!

No caso específico de um vasto Império, saber gesticular seria uma poderosa estratégia de comunicação, uma ferramenta ao alcance de todos. As pessoas podiam juntar as mãos, levá-las ao rosto, mostrar dedos, fazer movimento rápidos, tudo isso para se somar às palavras e garantir mais efeito e clareza nas conversas.

Mimica e gestos dos italianos

Mas essa não é a única teoria a respeito! Se quiser conhecê-las, preparamos um vídeo, no qual também ensinamos 7 gestos italianos do cotidiano que você precisa conhecer!

É só clicar e se inscrever no canal da Italica para mais conteúdos como este:

Buona visione!

A presto!