Hoje, dia 21 de fevereiro, comemoramos aqui no Brasil o Dia Nacional do Imigrante Italiano. E, neste ano de 2024, é uma data ainda mais especial, pois alcançamos a marca de 150 anos desde o acontecimento mais determinante para a existência de muitos de nós: o início da imigração em massa de italianos para o Brasil.
Sogni italiani: 150 anos desde a primeira chegada!
Entre os dias 17 e 21 de fevereiro de 1874, desembarcaram no porto de Vitória, Espírito Santo, os primeiros 388 imigrantes italianos. Eram camponeses que chegavam com a promessa de trabalharem na fazenda “Monte das Palmas”, em Santa Cruz.
A embarcação, chamada “La Sofia”, havia saído de Gênova e fora encomendada por Pietro Tabacchi, italiano oriundo de Trento, que já se encontrava no Espírito Santo desde o início da década de 1850.
Mas… por que tantos partiram de uma só vez da Itália? Eles buscavam uma vida mais digna. Naquela época, a Itália recém-unificada passava por grandes desafios: fome, falta de emprego, falta de assistência sanitária. A Itália ainda não era o país que conhecemos hoje!
A história da imigração italiana registrada pelos olhos da Itália
Em 2002 foi lançado um canal de TV na Itália como extensão da emissora RAI, chamado Rai Storia, em transmissão apenas em solo italiano. É um canal de propriedade da Rai Cultura, que já produziu conteúdos riquíssimos, com registros históricos raros. Um desses conteúdos é um documentário que por muito tempo esteve pouco acessível aqui no Brasil, até ser disponibilizado no YouTube. Aproveite para assistir aos registros da imigração pelos olhos dos italianos!
Desembarcar e garantir um futuro não foi nada fácil… apesar das promessas, o cenário encontrado era também desolador: há registros que contam sobre terras muito despreparadas e uma situação caótica nos alojamentos, com pouco espaço e higiene precária.
Para piorar, o empreendimento de Pietro Tabacchi não prosperou, e os imigrantes tiveram de buscar outras soluções para conseguirem sobreviver.
Nos desafios da sobrevivência diária, milhares de italianos adiaram a realização dos seus sonhos para as gerações seguintes, com a fé de que um dia, talvez, seus descendentes pudessem ver nesta nova terra um lar.
Seja você descendente ou não, conhecer as dificuldades daqueles homens e mulheres e sua luta por uma vida digna é fundamental para entender o próprio Brasil! Eles desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento do nosso país, e a data de hoje é uma forma de honrarmos e celebrarmos esse legado.
Você é descendente de italianos ou simplesmente ama essa cultura que também faz parte dessa linda mistura que é o Brasil? Independente da resposta, por aqui você encontrará muito conteúdo para conhecer cada vez mais sobre a cultura e a língua italianas!
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Agora aproveite para explorar mais detalhes escutando ao Prof. Darius, num vídeo muito especial sobre a imigração italiana preparado em nosso canal no YouTube:
Buona visione!
Espírito Santo: 150 anos depois!
Para comemorar esse marco tão especial, o governo do estado do Espírito Santo lançou o Calendário dos 150 anos da Imigração Italiana, em cerimônia realizada na Casa do Turismo Capixaba, em Vitória.
Foi dado o nome de “Calendário de Eventos da Cultura Italiana”, que traz diversas ações que serão realizadas ao longo de todo o ano de 2024, comemorando de maneira acessível para todos que puderem comparecer. As atividades envolvem música, religiosidade, comidas típicas, dança, artes visuais e um encontro proposto entre lideranças.
Isso tudo ocorrerá em diferentes municípios do Espírito Santo, com o objetivo de valorizar as práticas culturais dos italianos e de seus milhares de descendentes no Estado e ao redor do Brasil.
A preservação dos centros históricos enfrenta novos desafios no cenário contemporâneo, com a ascensão dos aluguéis de curto prazo, amplificados por plataformas como o Airbnb. Enquanto esses serviços oferecem aos visitantes uma experiência mais autêntica, o impacto nos imóveis históricos é motivo de crescente preocupação.
A principal questão reside na transformação dos lares históricos em acomodações turísticas, muitas vezes gerando aumento nos preços dos aluguéis e alterando a dinâmica social. A demanda por acomodações temporárias impulsiona a conversão de residências locais em opções de hospedagem, ameaçando a integridade arquitetônica e cultural dos centros históricos.
Grande oferta de aluguéis de curto prazo
Muitas cidades ao redor do mundo vêem no Airbnb e em serviços similares uma razão para explicar o fenômeno de esvaziamento populacional dos centros históricos, cada vez mais tomados por uma variação constante de pessoas, o que altera drasticamente as rotinas internas dos prédios. E o principal problema é que, com uma oferta irrestrita de imóveis para aluguéis breves, os proprietários conseguem um lucro maior e desejam cada vez menos fechar contratos de longa duração. Por consequência, os aluguéis de longa duração também ficam mais caros e as pessoas acabam se afastando em busca de regiões com valores mais acessíveis.
Para enfrentar esse desafio, algumas cidades estão implementando regulamentações mais rigorosas. Firenze (Florença), por exemplo, nada menos do que o berço do Renascimento, encontra-se no epicentro da batalha entre o turismo moderno e a preservação de seu patrimônio histórico. Recentemente, em junho de 2023, a prefeitura de Florença, através do prefeito Dario Nardella, anunciou que iria proibir a utilização de imóveis residências do centro histórico da cidade para aluguéis breves de serviços como o Airbnb, buscando proteger sua rica herança cultural e também o acesso a aluguéis de longa duração.
A missão é incentivar à recolocação de moradias fixas no centro histórico, que, com o passar do tempo, tem sofrido com um “êxodo” de moradores – uma saída que, agora, segundo o prefeito, poderá ser revertida com o fornecimento de incentivos fiscais para proprietários que queiram voltar atrás.
O prefeito Dario Nardella falou sobre a proibição:
“Questa iniziativa non è una panacea ma è un passo concreto […] proviamo a fare breccia in questa situazione di inerzia nel Paese. L’articolo 9 stabilisce che la Repubblica deve tutelare il patrimonio storico e artistico della Nazione. E i centri storici non lo sono? L’unica cosa che non vogliamo permetterci è stare a guardare. Non ci hanno votato per questo.”
E essa é uma medida que está em uníssono com um projeto nacional, em que o governo italiano prometeu implementar um pacote de ações de coibição de aluguéis breves.
Tudo isso visa equilibrar as necessidades dos turistas com a preservação das comunidades locais, assegurando que os centros históricos continuem sendo locais habitáveis e autênticos.
Ao proteger seus edifícios centenários, Florença pretende preservar não apenas uma paisagem urbana única, mas também a qualidade de vida de seus residentes. Essa ação, apesar de controversa, destaca a importância de abordagens proativas para proteger o legado cultural enquanto enfrenta os desafios do turismo moderno.
Assim, cada vez mais, promover um turismo mais sustentável e consciente torna-se uma prioridade. Incentivar a diversificação de opções de hospedagem, como hotéis ou pousadas gerenciadas localmente, pode reduzir a pressão sobre os imóveis históricos. E a organização de parcerias entre governos locais, com projetos nacionais, é essencial para desenvolver políticas que conciliem o turismo com a preservação do patrimônio.
Essa preservação dos centros históricos requer uma abordagem equilibrada, considerando tanto as necessidades dos turistas quanto a proteção dos valores culturais e arquitetônicos. A busca por soluções inovadoras e sustentáveis é vital para garantir que essas áreas preciosas continuem a ser pontos de encontro seguros e acessíveis, beneficiando tanto os habitantes locais quanto os visitantes.
Florença pode mais uma vez, tal como no Renascimento, servir como exemplo eloquente de como as cidades históricas devem avançar em direção a um novo tempo, com um equilíbrio sustentável entre valores locais, turismo e preservação histórica.
Agora clique aqui e aproveite para acompanhar o Prof. Darius pelas ruas de Firenze, conhecendo os caminhos únicos que essa cidade oferece aos turistas e aos moradores:
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O Coliseu guardou há milênios um segredo que parece saído de um filme de ficção. E é uma informação que ajuda a explicar a durabilidade impressionante de grande parte dos edifícios romanos, que se mantêm de pé há milênios. O cimento usado para construir o antigo anfiteatro romano é simplesmente mágico: além de ser mais durável do que os tipos usados hoje em dia, ele é também capaz de se autorreparar! Isso acontece devido a um ingrediente especial, que veremos ao longo deste artigo.
Concreto usado na construção
Podemos imaginar que não foi nada simples sobreviver a terremotos e aos milênios de variadas ocupações e utilizações diferentes do espaço interno. A construção do Coliseu, em sua estrutura principal, se mantém firme e, o que é impressionante, mais resistente e forte. Estudiosos afirmam que quando uma nova rachadura surge nas juntas de concreto, em menos de duas semanas é possível reencontrar a mesma fenda fechada, e isso acontece sem nenhuma intervenção humana. O concreto que foi utilizado pelos romanos, quando exposto ao ar, se repara sozinho.
Apesar de estudos sobre o concreto romano serem feitos desde a década de 1960, o segredo por trás dessa capacidade misteriosa só foi recentemente descoberto.
Cimento romano
No início de janeiro, universidades da Itália, da Suíça e dos Estados Unidos publicaram um estudo científico sobre o cimento romano. Por muito tempo, pensou-se que a durabilidade desse cimento seria por causa do uso da “pozolana”, uma rocha vulcânica encontrada perto da pequena cidade de Pozzuoli, nas encostas do Monte Vesúvio, perto de Nápoles. Mas agora isso mudou.
Não podemos subestimar o conhecimento dos antigos. Pablo Guerra, arqueólogo e professor da Universidade de Castilla-La Mancha, na Espanha, destacou a grande experiência de um renomado arquiteto romano, Vitrúvio, que escrevia em detalhes sobre o uso do hidróxido de cálcio, também conhecido como “cal apagada”, e ressaltava que a cal “deveria ser mantida hidratada por pelo menos seis meses”.
Pablo Guerra é o autor da tese de doutorado sobre os materiais de construção romanos e explica que a mistura dos elementos essenciais provocava uma reação química muito resistente e ativa, capaz de ligar e religar as estruturas do concreto que resiste até os dias de hoje em Roma.
Mas o que explica essa capacidade de se religar e se manter em auto-reparo depois de milhares de anos? O que foi descoberto apenas recentemente por diversos estudiosos é que os romanos faziam uma mistura diferente, com dois fatores determinantes: a pureza dos materiais e um ingrediente especial, o óxido de cálcio, conhecido como cal viva. Curiosamente, é uma substância conhecida por ter propriedades corrosivas. Como então era obtido o efeito contrário?
O segredo do efeito está também na mistura. Quando falamos em uma pureza de materiais, é porque descobriu-se que o cascalho que era utilizado para formar o cimento romano era extraído em Pozzuoli, uma localidade em que o cascalho era localizado em estado de grande pureza, e então transportado diretamente por todo o Império Romano até o campo de obras. E sobre o elemento da cal viva, ela servia como um aglutinante, uma espécie de cola, que servia para manter o cascalho unido.
Na mistura, além do hidróxido de cálcio, eles utilizavam também esse estado mais virgem da cal, a cal viva, e faziam isso sabendo que tinham que utilizar a cal recém-saída do forno, ainda queimando durante o processo de mistura.
“A cal viva acelera o endurecimento do concreto e o torna mais resistente se adicionada durante o processo de mistura. Também permite que o material reaja bem à exposição ao ar, pois os poros do concreto se fecham ao entrar em contato com o carbono do meio ambiente”, afirma Pablo Guerra.
Então é por isso que, mesmo milênios depois de ter sido construído, uma fissura no concreto se fechará em questão de dias.
“O cimento romano é o melhor. Nenhuma civilização na história, incluindo a nossa, jamais produziu um concreto tão durável. Até este último estudo, sua durabilidade sempre foi atribuída à areia pozolana. Esta descoberta tem o potencial de revolucionar os nossos próprios métodos de construção”, afirma Carmen Martínez, doutoranda em arqueologia romana em Cartagena, sudeste de Espanha, onde trabalha há 12 anos.
Outro especialista vai ainda além, trazendo uma explicação que impressiona pela genialidade da evolução do processo romano, que era certamente de compreensão dos arquitetos da época, uma sabedoria que, ao longo de todo esse tempo, ficou simplesmente perdida. Quem fala é Alfonso Barrón, arquiteto e especialista em materiais, apontando o incrível funcionamento desse processo:
“Além de sua propriedade auto-reparadora, a cal do concreto romano torna-se mais dura com o passar dos anos. Com o tempo, volta a ser calcário, rocha original da qual foi extraído – torna-se mais jovem e mais forte. Enquanto isso, o cimento Portland, que usamos desde o século XIX, faz o oposto – envelhece e se deteriora.”
Portanto, aos poucos, o Coliseu se tornou uma rocha, calcário original, uma parte da paisagem com uma resistência comparável às criações da própria natureza!
Este é mais um registro da nossa série sobre as invenções romanas que continuam a ser descobertas e melhor entendidas, surpreendendo os pesquisadores ainda hoje em dia. Descobrimos hoje algo que demonstra como o progresso científico nem sempre segue uma linha crescente e segura ao longo da história da humanidade. Muitos conhecimentos do passado foram perdidos por não terem sido guardados e passados adiante pelas gerações que se seguiram a muitas das grandes invenções. Graças ao trabalho meticuloso de estudiosos ao redor do mundo, pudemos descobrir essa incrível sabedoria antiga, e poderemos descobrir outras.
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O Dia dos Namorados na Itália, conhecido como “San Valentino”, é repleto de tradições românticas e eventos encantadores. É celebrado de algumas maneiras semelhantes ao que já nos acostumamos aqui no Brasil, mas também conta com particularidades tipicamente italianas. A começar pela data: a escolha da comemoração em fevereiro revela raízes na história e na lenda de São Valentim, um santo cristão que, segundo a tradição, viveu durante o século III.
Semelhanças e particularidades
Assim como no Brasil, na Itália a Festa degli Innamorati é uma ocasião romântica em que os casais aproveitam para expressar seu amor e carinho um pelo outro. As cidades se enchem de decorações festivas, com destaque para o vermelho, a cor do amor. Os restaurantes preparam menus especiais para casais, oferecendo jantares românticos à luz de velas. Muitas vezes, os locais turísticos também são iluminados de maneira especial, criando uma atmosfera romântica em toda a cidade.
Mas é claro que nessa data encontramos alguns diferenciais.
Diferenciais
Na cidade de Verona, por exemplo, berço da história de Romeu e Julieta, são realizados eventos que atraem casais de todo o mundo. No Verona in Love as ruas são decoradas, e acontecem atividades na Piazza dei Signori e no pátio do Mercato Vecchio, com barracas de joias, lembranças artesanais e doces para compartilhar com a pessoa amada.
Além disso, também é organizado o famoso Clube de Julieta, uma associação que durante anos mantém viva a lenda dos dois amantes de Shakespeare, organizando um grupo de mulheres (chamadas de “secretárias de Julieta”), que respondem às cartas que as pessoas escrevem para Julieta.
Isso é algo que, inclusive, já virou até filme de Hollywood, chamado “Cartas para Julieta”.
A benção de São Valentim
É hora de respondermos porque associamos a data a San Valentino! Como em muitos casos de festividades católicas, encontramos as origens em uma tradição pagã. Na Roma Antiga, existia uma festa chamada Lupercalia, com ritos ligados à caverna de Lupercal, localizada no sopé do monte Palatino, em Roma. A festa acontecia no dia 15 de fevereiro e celebrava a fertilidade.
Depois de muitos séculos, em 494 d.C., o Papa Gelásio I proibiu oficialmente essa festa. E numa tentativa de ressignificá-la, substituiu-a por uma homenagem a São Valentim, que fora bispo de Terni, na Úmbria. Valentim havia se tornado um mártir cristão depois de ser executado por ordem do Imperador Aureliano.
Numa das versões sobre esse período, conta-se que São Valentim contrariou as ordens do Imperador Claudio II, que havia proibido casamentos numa tentativa de aumentar seu exército para a guerra.
Valentim teria desafiado a ordem imperial e continuado a fazer cerimônias de casamento em segredo, o que foi descoberto e resultou em sua execução num dia 14 de fevereiro.
A celebração dessa data como símbolo do ideal de amor de San Valentino foi então difundida pelos beneditinos, os primeiros guardiões da basílica dedicada ao Santo em Terni.
Você já conhecia as origens dessa comemoração?
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Na região montanhosa da Basilicata, no sul da Itália, encontra-se uma cidade que parece ter surgido de um filme de fantasia. Matera, com sua paisagem única de cavernas esculpidas nas colinas, é um dos destinos mais fascinantes e exclusivos da Itália. São conhecidos como “sassi”, porque o termo deriva do latim “saxum“, que significa “colina” ou “grande pedra“. São casas construídas umas sobre as outras, unidas por ruas sinuosas e escadarias íngremes, habitadas desde a antiguidade até o meio do século passado.
Esses antigos assentamentos humanos nas grutas e nas ravinas oferecem uma visão extraordinária da convivência harmoniosa entre a humanidade e a natureza ao longo dos séculos, mas é também um caminho para conhecermos a história de desafios de sobrevivência e, especialmente, da superação de Matera, cidade que era chamada de “uma vergonha nacional”, até se tornar orgulho e patrimônio mundial.
Os primeiros assentamentos
A história de Matera remonta a milênios, com evidências de assentamentos humanos na área que datam de mais de 10.000 anos atrás. A cidade é considerada uma das mais antigas a terem sido continuamente habitadas. Os primeiros habitantes escavaram as colinas rochosas para criar abrigos nas grutas naturais. Com o tempo, essas cavernas foram expandidas e adaptadas para a vida humana.
A singularidade dos sassi de Matera reside na sua arquitetura de pedra crua, que se mistura perfeitamente com a paisagem circundante. As casas, igrejas e lojas são escavadas diretamente nas encostas das colinas, criando um cenário impressionante de habitações interconectadas. As ruas estreitas serpenteiam pelas ravinas, e as praças oferecem vistas deslumbrantes das formações rochosas e das planícies circundantes.
O renascimento dos sassi
No século XX, Matera passou por um período sombrio, com condições de vida nas cavernas que eram insalubres e inadequadas para os padrões modernos. Em 1952, o governo italiano tomou medidas drásticas, realocando a população das grutas para novos bairros. A cidade foi parcialmente abandonada e ganhou a reputação de “vergonha nacional”.
No entanto, a situação começou a mudar nas décadas seguintes. Nos anos 80, projetos buscaram soluções, como a do financiamento de famílias que quisessem viver na cidade. E em 1993, a UNESCO reconheceu o valor dos sassi de Matera, declarando-os Patrimônio Mundial. Esse reconhecimento trouxe uma nova luz à cidade, levando ao investimento em restaurações e a gradual revitalização dos espaços públicos. Os “sassi” começaram a atrair artistas, artesãos e visitantes curiosos, que viram o potencial de Matera como um local de beleza e história incomparáveis.
Um cenário de cinema
Os sassi de Matera não são apenas um marco arquitetônico, mas também um cenário cinematográfico impressionante. A cidade tem uma aura única que a tornou um local ideal para representar cenários bíblicos e históricos, assim foi no princípio, quando filmes famosos foram filmados ali, incluindo “O Evangelho segundo São Mateus” (Pier Paolo Pasolini, 1964), “A Paixão de Cristo” (Mel Gibson, 2004), “The Nativity Story” (Catherine Hardwicke, 2006 ) e “Ben-Hur” (Timur Bekmambetov, 2016). Depois dessa popularização, outros gêneros viram no espaço de Matera a estética ideal para suas histórias, como “007 – Sem Tempo para Morrer” (Cary Fukunaga, 2021). E paisagens de Matera foram até utilizadas como ambientação na criação da fictícia cidade de Themyscira, nas gravações de Mulher-Maravilha (Patty Jenkins, 2017).
Os “sassi” proporcionam uma atmosfera nostálgica que enriquece a narrativa e a estética dos filmes. A cidade continua a atrair cineastas de todo o mundo, que buscam a autenticidade e a beleza das locações naturais de Matera.
Turismo responsável e sustentabilidade
Com o aumento do turismo, Matera enfrentou o desafio de equilibrar a preservação de seu patrimônio histórico com a necessidade de desenvolvimento econômico. As autoridades locais estão comprometidas em garantir que o turismo seja sustentável e benéfico para a cidade e seus habitantes. Restrições cuidadosamente gerenciadas ao desenvolvimento e regulamentos de restauração garantem que a autenticidade dos “sassi” seja mantida.
Matera agora oferece uma experiência única para os visitantes, com acomodações em hotéis espetaculares nas grutas e com restaurantes que servem pratos tradicionais. Os passeios a pé pelos “sassi” permitem que os turistas mergulhem na história e na cultura da cidade.
Poder ver de perto essas estruturas, e entender os caminhos que a humanidade precisou trilhar para constituir sociedades e culturas, é testemunhar a capacidade humana de se adaptar ao ambiente de maneira criativa e sustentável. Em Matera, os turistas fazem uma viagem pela História, podendo olhar não apenas para um passado difícil, mas também para o futuro, vendo no presente uma possibilidade de redenção.
Por todas essas razões, pudemos entender como é importante a preservação cuidadosa do patrimônio de Matera, para que as futuras gerações possam apreciar a beleza e a singularidade deste local fascinante. Matera é verdadeiramente um tesouro italiano que merece ser descoberto e admirado.
Aproveite para assistir ao nosso registro feito em Matera, quando gravamos as descobertas do Prof. Darius, acompanhado da guia turística local, Giusy Schiuma, que apresentou tudo e mais um pouco dessa cidade incrível!