Escolha uma Página
A tarantella: a surpreendente origem da dança italiana

A tarantella: a surpreendente origem da dança italiana

A tarantella é uma das danças mais icônicas e vibrantes da Itália, conhecida por seus movimentos rápidos, ritmo enérgico e espírito apaixonado. Essa dança cativante tem raízes profundas na história e cultura italianas, e tudo começou em Taranto, cidade localizada no sul da Itália. Hoje vamos descobrir o que impulsionou essa expressão cultural e os significados que ela tem ainda hoje, na Itália e no mundo, quando realizada em festas típicas italianas.

Tarantela a dança popular italiana

Como é o caso de todas as expressões culturais antigas, que datam de séculos e mais séculos, as origens mais precisas são difíceis de rastrear: por exemplo, quem terá sido a primeira pessoa a realizar a dança? Não saberíamos apontar uma data específica, nem um nome. Há uma longa história de diversas influências culturais que moldaram essa dança. No entanto, a etimologia da palavra nos permite rastrear sua origem e o que podemos descobrir é algo bastante surpreendente e pouco sabido!

Origem da Tarantella

O nome “tarantella” vem de “taranta”, que é um termo do dialeto das regiões do sul da Itália, que nomeava a tarântula Lycosa, uma aranha venenosa muito encontrada no sul da Europa, e em particular, justamente, na zona rural de Taranto, de onde leva o seu nome. Estudiosos apontam que vocábulos como tarantela, taranta e tarantismo derivam, portanto, do nome da cidade de Taranto, que viria de uma raiz linguística mais antiga.

Nessas áreas, a dança da tarantela está parcialmente ligada a algo curioso: a terapia da mordida da tarântula. A tradição atribuía ao veneno desta aranha efeitos diversos, dependendo das crenças locais: melancolia, convulsões, sofrimento mental, agitação e dor física.

Quem era picado ou acreditava ter sido picado por uma tarântula ganhava no corpo um dinamismo exagerado, por isso seria uma prática a terapia de coreografias ao som de música, especialmente eficazes durante festas, como dos Santos Pedro e Paulo. O que se sabe é que, por meio da prática da dança, seria possível a expulsão do veneno através do suor. Como forma de cura, a dança frenética da tarantella então ajudaria a acelerar a circulação sanguínea, permitindo que o veneno fosse expelido do corpo. Essa compreensão não seria necessariamente acessada dessa maneira naquela época, quando as crenças populares difundidas eram de que a dança funcionaria como uma espécie de trabalho espiritual para liberar o corpo do veneno.

Dança Romana

No entanto, é importante considerar que toda expressão cultural dessa magnitude não é criada a partir do nada. Há muitos elementos da tarantella, como a dança em círculo que veremos mais adiante, que nos remetem a movimentos da dança praticada pelos gregos e pelos romanos. Festas pagãs e rituais dionisíacos reuniam pessoas que se expressavam através da dança de grupo e que, portanto, desenvolviam simbologias, linguagens corporais e sentidos que, assim como acontece no desenvolvimento das línguas, criaram marcas e deixaram rastros duradouros para as expressões culturais que viriam a nascer mais tarde.

História da dança romana
Representação da Dança Romana

A tarantella ao longo do tempo

A Tarantella evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se às mudanças culturais e sociais da Itália. Durante o Renascimento, a dança era popular nas cortes nobres e era frequentemente realizada em celebrações da alta sociedade. Ela foi incorporada em peças de teatro e óperas da época, tornando-se uma parte essencial da cultura italiana.

Com o tempo, a Tarantella também se espalhou para diferentes regiões da Itália, cada uma desenvolvendo sua própria variação da dança. As versões regionais da Tarantella são muitas vezes reconhecidas por seus trajes tradicionais distintos e variações nos passos de dança.

Origem da dança tarantela

No século XIX, a Tarantella experimentou um ressurgimento de popularidade na Itália, quando a dança foi incorporada em festivais folclóricos e se tornou uma forma de celebrar a identidade italiana.

Hoje, a tarantella continua viva na cultura italiana, sendo realizada em festivais ao redor do mundo, em casamentos e em outras celebrações italianas. Ela também é uma atração turística popular, com muitos visitantes estrangeiros encantados pela energia e pela paixão dessa dança tradicional.

Na prática

A dança acontece formando-se um círculo, que gira e dança no sentido horário até a música se tornar rápida, quando todos trocam de direção. O ciclo de idas e vindas ocorre algumas vezes, gradualmente ganhando uma velocidade tão grande que se torna difícil manter o ritmo. O som é composto pela voz de um cantor central, acompanhado por tamborim e castanholas.

As origens podem ser misteriosas, cheias de explicações inusitadas, mas o resultado é uma expressão corporal cheia de vida, que assim representa hoje, e já há muito tempo, a alegria de viver, a celebração de um grupo que encontra harmonia e vence o desafio de não tropeçar nos erros que surgirem nos passos cada vez mais rápidos dos companheiros de dança – a vida acelerada pedindo união, e a resposta da dança: conexão com as tradições ancestrais podem nos levar de volta a nós mesmos. A tarantella é verdadeiramente uma jóia da cultura italiana que continua a encantar e inspirar pessoas em todo o mundo!

Quer assistir a uma tarantella típica? Então aproveite a gravação abaixo, de muito sucesso no YouTube, feita na Itália, uma autêntica dança da tarantella durante uma festa em um restaurante! Registros como esse nos permitem enxergar um pouco do que teria sido, há séculos, expressões culturais em círculos pequenos, com poucas pessoas assistindo, em tavernas, em lugares desconhecidos, em casamentos não registrados nos livros de história!

Tarantela – Dança italiana

Tarantella a dança italiana

Também recomendamos os registros feitos há anos pelo canal Tarantolato Oficial, em que estão publicadas algumas danças realizadas na Itália, em eventos pequenos e grandes.

Agora, me diga: você gosta de aprender com música? Pois então vamos relembrar um grande sucesso dos últimos anos, Amaremare, uma canção da artista pop contemporânea, Dolcenera, que inclusive inserimos em uma das nossas aulas em formato de live, quando o Prof. Darius analisou a letra da canção.

Se você já conhece, ou se ainda não ouviu, é uma grande chance de se movimentar, dançar e estudar com alegria e reflexão, pois a letra é bela!
Aproveite e clique aqui para assistir à aula com música do Prof. Darius:

Buona visione!

A presto!

A evolução das representações de Vênus na arte italiana

A evolução das representações de Vênus na arte italiana

A mitologia greco-romana tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para a arte ao longo dos séculos, e a figura de Vênus, a deusa do amor, da beleza e da fertilidade, desempenhou um papel proeminente na arte italiana. A evolução das representações de Vênus na arte italiana ao longo dos séculos reflete não apenas a mudança de estilos artísticos, mas também as mudanças culturais e sociais que ocorreram na Itália.

O Nascimento de Vênus de Sandro Botticelli
“O Nascimento de Vênus”, Sandro Botticelli

Na era renascentista, a arte italiana floresceu e buscou recuperar na mitologia clássica os símbolos e significados ideais para a compreensão e a representação do mundo. Artistas como Sandro Botticelli, nascido em Florença, e Tiziano (Ticiano em português), nascido em Pieve di Cadore, ficaram famosos por suas representações de Vênus. Uma das obras mais icônicas desse período é “O Nascimento de Vênus”, pintado por Botticelli por volta de 1484-1486. Nesta obra, Vênus é retratada emergindo do mar, nua e em uma concha, simbolizando a beleza e a pureza. O renascimento trouxe uma ênfase na harmonia, proporção e realismo, e isso se reflete nas obras que retratam Vênus.

No período barroco, artistas como Ticiano deram uma reviravolta ao retratar Vênus. Em sua famosa pintura “Vênus de Urbino”, de 1538, Ticiano apresenta uma Vênus de uma forma mais sensual e provocante. A figura de Vênus nua em uma pose reclinada e com olhar sedutor desafia as convenções da época, mas também reflete uma mudança na representação da sexualidade na arte.

Venus de Urbino de Ticiano
“Vênus de Urbino”, Ticiano

Já no século XIX, houve um movimento que buscou recuperar traços da arte que existia antes do gênio renascentista italiano Rafael, foi fundado na Inglaterra e tinha a intenção de reencontrar estilos artísticos que pudessem recriar representações clássicas, por isso Vênus voltou a ser uma figura proeminente em algumas obras. Artistas ingleses como Dante Gabriel Rossetti retrataram Vênus com um toque romântico, incorporando elementos do simbolismo e da natureza. Vênus era frequentemente representada em paisagens exuberantes e envolta em mistério.

Venus Verticordia - Dante Gabriel Rossetti
“Venus Verticordia”, Dante Gabriel Rossetti

Já na virada do século XX, a Itália voltou a testemunhar um período de intensa inovação artística. Artistas como Amedeo Modigliani, nascido em Livorno, em 1884,exploraram novas formas de representar Vênus. Modigliani, conhecido por seu estilo de retratos alongados e estilizados, pintou Vênus de uma maneira única e moderna – combinando elementos clássicos com um toque de abstração.

Vênus de Amedeo

A evolução das representações de Vênus na arte italiana reflete não apenas mudanças no estilo artístico, mas também nas atitudes culturais em relação à beleza e à mitologia. Desde a pureza renascentista até a sensualidade barroca e as interpretações românticas e modernas, Vênus continuou a ser uma figura cativante para os artistas italianos.

Amedeo Clemente Modigliani
Venus Botticelli na IA

Na era da inteligência artificial

Nos dias de hoje, ao contrário da evolução artística que vimos, a figura de Vênus também já caiu no automatismo das criações da inteligência artificial. Como veremos abaixo, ao retirarmos a genialidade dos pintores da equação da arte, o que podemos acabar descobrindo é um esvaziamento do significado dos símbolos e das representações artísticas.

Vênus é tão presente na cultura mundial que foi utilizada recentemente, em 2023, não para a continuidade de suas representações na arte da pintura, mas para fins publicitários, em uma campanha que revoltou muitos italianos. A imagem utilizada foi especificamente a de Botticelli. Sua Vênus apareceu transformada em influenciadora digital em uma representação gerada por computador para promover o turismo na Itália. O motivo da revolta: foi uma criação do próprio Ministério do Turismo italiano, que imaginou que pudesse gerar interesse aos viajantes sem causar polêmicas. A Vênus do pintor italiano aparece comendo pizza e tirando selfies para postar no instagram.

Vênus de Botticelli Campanha do turismo italiano

Na imprensa e em redes sociais, as pessoas expressaram descontentamento, dizendo que as imagens banalizam a obra e também as paisagens.

Uma das mensagens que foi alvo de críticas misturava idiomas, com traduções automáticas para turistas de todo o mundo, dizendo: “Quem melhor do que eu para levar você para descobrir este lindo país, em qualquer época do ano? Eu sou Vênus. O ícone da Itália no mundo de hoje”.

Vênus de Botticelli por IA na campanha do turismo italiano

A deusa do amor e da beleza tem sido retratada de inúmeras maneiras ao longo dos séculos, refletindo as mudanças estilísticas e as transformações culturais que ocorreram na Itália e no mundo da arte. Ela permanece como um símbolo duradouro de inspiração e fascinação, continuando a encantar espectadores e a influenciar artistas contemporâneos.

E a evolução das possibilidades de representações de Vênus na arte italiana, apesar de qualquer desagrado recente, é um testemunho da riqueza e da complexidade da cultura e da criatividade italianas.

Vênus de Botticelli no turismo italiano

E você? O que achou disso?

Aproveite para assistir ao vídeo em que o Prof. Darius caminha pelas ruas de Firenze mostrando dicas para viajantes. Essa é a cidade onde o turismo cultural permite conhecer de perto a história da arte e ver com os próprios olhos criações de gênios como Sandro Botticelli, que vimos ao longo deste artigo. Um de seus quadros mais famosos, “Alegoria da Primavera”, está em exposição em Firenze, desde 1919, na Galeria Uffizi. Pintada em 1482, é considerada uma das pinturas mais faladas e mais controversas do mundo!

Buona visione!

A presto!

Viva o Scoppio del Carro: uma Páscoa como nenhuma outra

Viva o Scoppio del Carro: uma Páscoa como nenhuma outra

O “Scoppio del Carro” é uma das tradições mais antigas de Florença. Surgiu por volta de 1600 e ocorre durante a Páscoa. Essa festividade, que também é conhecida como “A Explosão da Carruagem”, tem raízes medievais e é um dos eventos mais curiosos que os turistas desavisados podem testemunhar.

Scoppio del Carro em Firenza Itália

O evento

O evento inicia-se com um carro, ou melhor, uma carroça, coberta de fogos de artifício, conhecida como “Brindellone”, que é puxada por bois brancos ornamentados. Ela é estacionada em frente à Basílica de Santa Maria del Fiore, a deslumbrante Catedral de Florença. Durante a missa de Páscoa na catedral, um fio com uma pomba de madeira, chamada de “colombina” (que representa o Espírito Santo), é acionado por um cabo de segurança que percorre a catedral, eis então o momento do volo della colombina . Ao final da missa, o Arcebispo de Florença acende um foguete em forma de pomba, que simboliza a bênção divina.

Esse foguete é então aceso e percorre o cabo até a carroça, onde há uma pilha de fogos de artifício prontos para explodir. Os efeitos pirotécnicos incluem fogos que giram e lançam faíscas para todos os lados, por isso tudo é feito com uma distância segura da população, que assiste ao espetáculo por trás de uma cerca de proteção.

Palagio di Parte Guelfa

O Palagio di Parte Guelfa também faz parte do evento. É um Palácio que foi sede de um dos partidos políticos do século XIV, os guelfos. E hoje é dali que os grupos de cortejo se deslocam para expor suas vestimentas e habilidades acrobáticas. Antes do volo della colombina, eles passam pela Piazza della Signoria e depois se reúnem com os sbandieratori na Piazza della Repubblica. Deste cortejo participam figurantes de nobreza fiorentina vestidos de época renascentista, os balestieri (balestra), um representante de cada time do calcio storico e porta bandeiras com os símbolos das Artes (sindicatos de época medieval).

Palácio do Partido dos Guelfos
Palácio do Partido dos Guelfos

Sbandieratori

Os sbandieratori, por sua vez, são um grupo performático de agitadores de bandeira que nasceu em Figline Valdarno em 1965, a partir da vontade de alguns jovens entusiastas. Desde 1973, após uma breve passagem pelo Calcio Storico Fiorentino, o grupo afirmou a sua independência, fortalecendo a sua identidade e o seu prestígio.

Eles atuam com sucesso na Itália e no exterior, levando a tradição toscana para todo o mundo. São inúmeros os elementos de vestimenta que eles carregam como símbolos do tempo medieval e se dividem em capitães, tambores, clarins e agitadores de bandeiras, com uma escola de bandeiras que remonta à antiga tradição da agitação de bandeiras militares, com varas de madeira artesanais e tecidos bordados com muita técnica e atenção aos mínimos detalhes estéticos e históricos.

Sbandieratori na Italia
Desfile Sbandieratori na Italia
Festa Scoppio del Carro na Italia

Na estrutura de madeira do Brindellone está esculpido o brasão da Família Pazzi, que por muitos séculos foi a organizadora do evento. Mas a celebração não se prende a raízes familiares, pois sua essência está em suas conotações de comunhão social e de simbologia religiosa, já que a Páscoa é uma das festividades cristãs mais importantes. Esse espetáculo unicamente florentino diversifica as representações da ressurreição de Jesus Cristo e da renovação da vida, tornando o evento uma comemoração teatral, social e literalmente explosiva. O “Scoppio del Carro” é portanto uma maneira de marcar a data de uma forma que envolve narrativa e, verdadeiramente, espetáculo.

Tradição

A realização da festa, em cada uma das suas etapas, atrai tanto os fiéis quanto turistas e moradores que possam se considerar apenas amantes da cultura e da história. É uma celebração que acolhe a todos e que combina elementos estéticos da história e da religião, numa interação social bastante reveladora do que, ainda hoje, explica o valor incomparável de Florença como um patrimônio da humanidade.

Você gostaria de ver de perto essa festa?

Continue de olho nas nossas publicações nas redes sociais da ITALICA no Instagram e no YouTube, onde fazemos lives especiais semanalmente!

E quer aprender italiano e saber mais sobre a cultura e as características históricas únicas do Bel Paese? Inscreva-se na nossa lista de espera e no nosso newsletter!

A presto!

Quem foi Artemisia Gentileschi: italiana pioneira em uma luta ainda bastante atual

Quem foi Artemisia Gentileschi: italiana pioneira em uma luta ainda bastante atual

Artemisia Gentileschi, uma das pintoras mais talentosas do período barroco, deixou uma marca indelével na história da arte italiana e mundial. Sua vida e obra são testemunhos de perseverança, talento e determinação em um mundo dominado por homens. Neste artigo, exploraremos a vida e as contribuições significativas dessa artista extraordinária.

Autorretrato de Artemisia Gentileschi-como Santa Catarina de Alexandria
Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria, Artemisia Gentileschi

Artemisia nasceu em Roma, em 8 de julho de 1593, filha do pintor Orazio Gentileschi. Desde cedo, demonstrou um talento excepcional para a pintura, e seu pai a instruiu nas técnicas artísticas. Com apenas 17 anos, ela produziu uma de suas obras mais icônicas, “Susanna e i vecchioni” (Susana e os Velhos), que tornou logo incontestável sua habilidade em representar homens e mulheres de forma realista e emocional.

Susanna e i vecchioni de Artemisia Gentileschi
Susanna e i vecchioni (1610), Artemisia Gentileschi

No entanto, a vida de Artemisia não foi marcada apenas pelo talento artístico. As grandes dificuldades enfrentadas por ela, simplesmente por ser uma mulher em uma profissão dominada por homens, marcaram sua história e fizeram dela um nome por muito tempo invisibilizado pela história da arte.

Em 1611, Artemisia foi vítima de um estupro cometido por Agostino Tassi, um pintor que trabalhava com seu pai. O julgamento subsequente, que se tornou um escândalo público, trouxe grande sofrimento e humilhação para Artemisia, mas também demonstrou sua determinação em buscar justiça.

As obras de Artemisia

As pinturas de Artemisia Gentileschi são notáveis pela naturalidade da sua representação realista. Em suas pinceladas é possível encontrar influências do realismo de Caravaggio (com o uso dramático da técnica chamada chiaroscuro, caracterizada pelo jogo de contrastes na utilização de cores claras e escuras). Ao mesmo tempo, não abriu mão da linguagem de cores do barroco, muito difundida na Escola de Bolonha, de onde destacou-se principalmente Annibale Carracci.

Maria Madalena como Melancolia (1622~1625), Artemisia Gentileschi
Maria Madalena como Melancolia (1622~1625), Artemisia Gentileschi

As obras de Artemisia muitas vezes apresentam heroínas bíblicas e mitológicas que demonstram força, coragem e resiliência. Um exemplo notável é “Judite decapitando Holofernes”, uma das obras mais famosas de Artemisia, que retrata a heroína bíblica Judite em um ato de coragem ao enfrentar o general assírio para libertar seu povo.

A característica dramática do contraste entre luz e sombra, aliada à visão de mundo que, como mulher, lhe era pessoal, conferia às suas pinturas uma leitura diferente das expressões e dos significados das cenas retratadas e, por consequência, uma qualidade teatral e intensa que a tornou uma das figuras mais importantes do movimento barroco.

Reconhecimento e legado

Ao longo de sua carreira, Artemisia Gentileschi enfrentou desafios extraordinários, mas sua paixão pela arte a impulsionou a continuar pintando. Ela eventualmente conquistou reconhecimento e renome, tornando-se a primeira mulher a ser admitida na Academia de Artes de Florença.

Autorretrato, Artemisia Gentileschi
Autorretrato, Artemisia Gentileschi

Até os dias de hoje, o legado de Artemisia continua a inspirar artistas, e mesmo mulheres não envolvidas com a arte. Sua habilidade em dar voz e poder às mulheres em suas pinturas desafiou as convenções de sua época e continua a ressoar com o público contemporâneo. Museus e galerias de todo o mundo exibem suas obras, e suas pinturas são frequentemente estudadas como exemplos de empoderamento feminino na arte.

O legado de Artemisia continua a brilhar como um farol para artistas e defensores de uma sociedade justa, lembrando-nos da importância de desafiar as normas e expressar a própria voz. Suas obras não apenas resistem à passagem do tempo, mas também continuam a influenciar e inspirar gerações futuras de artistas e admiradores da arte. Artemisia Gentileschi é uma verdadeira pioneira cuja contribuição à história da arte não pode ser subestimada.

A Virgem e criança (1613) de Artemisia Gentileschi
A Virgem e criança (1613) de Artemisia Gentileschi

A jornada dessa brilhante artista, desde a infância talentosa até o reconhecimento como uma das principais pintoras do Barroco, é inspiradora e continuará sendo, contanto que não deixemos de citá-la entre os tantos gênios do Renascimento. Sua capacidade de representar mulheres de maneira realista e poderosa, tanto na arte como na realidade da vida cotidiana, pode seguir alcançando gerações e gerações, de todas as culturas. Apesar dos obstáculos que enfrentou como mulher no mundo das artes, sua obra e sua vida registrada em diários, é um testemunho de sua genialidade, sua resiliência e sua determinação.

A história da Itália é repleta de figuras notáveis, e especialmente no período do Renascimento, destacar-se não era uma tarefa para qualquer pessoa; era necessário lançar sua obra a um público acostumado a gigantes como Da Vinci, Michelangelo, Rafael e Caravaggio. Por isso mesmo, é imenso o valor de podermos dizer que a história da arte, italiana e mundial, tem Artemisia como uma das maiores genialidades, uma joia que deixou um legado de influência e de significações que deve ser guardado, lembrado, relembrado e levado adiante, propagado sempre que pensarmos nesse período da História.

Se você quiser ver mais obras de Artemisia Gentileschi, clique aqui, o catálogo está na wikiart.org, que é uma Enciclopédia de Artes Visuais!

Agora aproveite para caminhar pelas ruas de Firenze, onde Artemisia Gentileschi tanto caminhou, quando se inspirava e estudava para as suas criações geniais. Basta se juntar ao Prof. Darius, que explorou as preciosidades que os turistas podem encontrar em Florença, uma das cidades italianas mais conectadas à História da Arte!

É só clicar aqui para começar a sua viagem e anotar as dicas de ouro de tudo que você pode encontrar por lá!

Buona visione!

A festa da Immacolata Concezione na Itália

A festa da Immacolata Concezione na Itália

A Imaculada Conceição é uma doutrina da Igreja Católica que sustenta que Maria, a mãe de Jesus, foi concebida sem o pecado original – daí o nome “concezione”, que faz referência à concepção imaculada, ou seja, a gestação. A festa da Imaculada Conceição é comemorada em 8 de dezembro e é um dos feriados religiosos mais importantes na Itália.

Celebração da Imaculada Conceição - 08 de Dezembro

Imaculada Conceição e a Itália

A relação entre a Imaculada Conceição e a Itália é profunda devido à forte influência do catolicismo no país. A Itália é a terra natal do Vaticano, o centro espiritual da Igreja Católica, e a população italiana historicamente mantém fortes laços com a fé católica.

A Imaculada Conceição é celebrada com entusiasmo em toda a Itália. As cidades e vilas muitas vezes organizam procissões, missas especiais e eventos festivos para comemorar essa festa religiosa. Uma das tradições populares é a de montar presépios, que representam o nascimento de Jesus, com especial ênfase na figura de Maria. As praças, igrejas e lares italianos são frequentemente adornados com decorações festivas, luzes e ornamentos para marcar a ocasião.

Celebração da Imaculada Conceição

Além disso, a Imaculada Conceição também está ligada à história da Itália. Em 1854, o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição, afirmando que Maria foi concebida sem pecado original. Este evento teve um profundo significado para a Itália, pois ocorreu durante um período em que o país estava passando por mudanças políticas e sociais significativas que levariam eventualmente à unificação da Itália como nação.

Presépios na Itália

Presépios vivos

Em várias regiões da Itália, são realizados presépios viventes já durante o período que antecede o Natal, incluindo representações da cena da Imaculada Conceição. Esses eventos são frequentemente encenados ao ar livre, recriando a atmosfera da época do nascimento de Jesus, seguindo muito do espírito da celebração franciscana. Aliás, aproveite para conhecer a fundo sobre o primeiro presépio vivo da história, criado por São Francisco de Assis, em Greccio: o Prof. Darius esteve na cidade e gravou um passeio muito especial, aprofundando-se com informações históricas detalhadas. Clique aqui para assistir!

Roma e o Papa

A celebração da Imaculada Conceição em Roma é marcada pela visita do Papa à Piazza di Spagna. O Papa tradicionalmente coloca uma coroa de flores no topo da coluna da Imaculada Conceição, localizada na praça, como um gesto de homenagem à Virgem Maria.

Papa na Piazza di Spagna Roma durante a Celebração da Imaculada Conceição
Procissão Imaculada Conceição
Papa Franscisco levando Flores para Imaculada Conceicao
Papa Franscisco em celebração de Imaculada Conceição

Flores para Maria

Uma tradição popular na Itália durante a Imaculada Conceição é a oferta de flores a Maria. As pessoas visitam igrejas e santuários para deixar flores, especialmente lírios brancos, símbolo da pureza de Maria, aos pés das imagens da Virgem Maria.

Tradição gastronômica

Como em muitos feriados italianos, a gastronomia desempenha um papel importante na celebração da Imaculada Conceição. Pratos tradicionais, como o zeppole (em formato de rosquinhas ou bolinhos fritos), conhecidos como zeppole dell’Immacolata, e outras sobremesas especiais, são preparados e desfrutados durante as festividades.

Doce italiano Zeppole

A celebração da Imaculada Conceição na Itália é uma mistura de devoção religiosa, tradição cultural e alegria festiva. Ela oferece uma oportunidade única para os italianos e visitantes se envolverem em atividades espirituais e sociais que fazem parte integrante da rica herança cultural do país.

Continue de olho nas outras publicações nas redes sociais da ITALICA no instagram e no YouTube, onde fazemos lives especiais semanalmente!

E quer aprender italiano e saber mais sobre a cultura e as características históricas únicas do Bel Paese? Inscreva-se na nossa lista de espera e no nosso newsletter!

A presto!

A ópera italiana e sua inestimável influência na música internacional

A ópera italiana e sua inestimável influência na música internacional

A ópera é uma das formas mais expressivas e emocionantes de arte musical, e a Itália é amplamente reconhecida como um berço desse gênero tão reverenciado. A tradição operística italiana é uma jóia da cultura musical mundial, com uma história rica que remonta ao final do século XVI. Hoje vamos mergulhar nessa história, lembrar do clássico Turandot de Giacomo Puccini, e falar também de outros compositores. Tudo isso para descobrirmos as contribuições notáveis dos compositores que ajudaram a moldar a ópera italiana e a torná-la um fenômeno global.

Camerata Fiorentina

O início mítico

A ópera como a conhecemos hoje nasceu na Itália no final do século XVI, em Florença, por influência de intelectuais e compositores que formavam um grupo chamado Camerata Fiorentina, uma associação de compositores, poetas, cientistas e teóricos musicais, liderados por Giovanni de’ Bardi, Conde de Vernio. A primeira reunião registrada da Camerata ocorreu em 14 de janeiro de 1573. Juntos, esses intelectuais discutiam literatura, ciências e artes, e buscavam pensar em como trazer à música elementos da cultura grega, de modo que pudessem criar um estilo de composições musicais que expressassem o que a linguagem da tragédia e da retórica gregas eram capazes de expressar: paixão e narrativas de potencial mítico.

Nascia, assim, um novo conceito de música com funções de arte dramática, recitativa e cantada, com estilos clássicos que possibilitaram o surgimento do melodrama ou da forma de um “recitar cantado”. 

Um dos primeiros exemplos notáveis é “Dafne” (1597) de Jacopo Peri, inspirada justamente num mito grego, considerada a primeira ópera completamente musicada. Posteriormente, Claudio Monteverdi, com suas obras-primas “Orfeo” (1607) e “A Coroação de Poppaea” (1643), ajudou a estabelecer as bases da ópera moderna, introduzindo elementos dramáticos, emocionais e musicais que ainda são estudados e admirados hoje em dia.

Camerata dei Bardi no Palazzo Bardi em Florença Itália
“In questa casa dei Bardi…” – Placa que homenageia a Camerata dei Bardi no Palazzo Bardi, em Florença

Quando pensamos nos grandes compositores italianos, é importante termos em mente ao menos 5 gênios.

Giuseppe Verdi

Verdi é indiscutivelmente um dos compositores mais reverenciados da ópera italiana. Suas óperas, como “La Traviata”, “Rigoletto” e “Aida”, são frequentemente apresentadas em teatros de ópera de todo o mundo. A intensidade emocional e as melodias inesquecíveis de Verdi continuam a encantar audiências até os dias de hoje.

Gioachino Rossini

Conhecido por suas óperas cômicas e pela ópera épica “Guilherme Tell”, Rossini deixou um legado duradouro na ópera italiana. Suas aberturas, como a famosa abertura de “O Barbeiro de Sevilha”, são amplamente reconhecidas e apreciadas.

Gaetano Donizetti

Donizetti é lembrado por suas óperas bel canto, caracterizadas por árias virtuosas e vocais deslumbrantes. “Lucia di Lammermoor” e “L’elisir d’amore” são algumas de suas obras mais amadas.

Vincenzo Bellini

Bellini é celebrado por suas óperas românticas e líricas, como “Norma” e “I Puritani”. Sua música emotiva e as vozes humanas como instrumentos principais são características distintas de seu estilo.

Giacomo Puccini

Puccini é conhecido por suas óperas emocionais e melodias arrebatadoras. “La Bohème”, “Madama Butterfly” e “Tosca” estão entre suas obras mais famosas, e suas composições continuam a emocionar o público em todo o mundo.

Compositor italiano Giacomo Puccini
Opera de Giacomo Puccini Turandot Nessun Dorma

No YouTube, suas composições estão entre as mais ouvidas de toda a plataforma, é o caso de “Nessun dorma” (uma das árias que compõem a ópera Turandot), que pode ser ouvida em versões instrumentalizadas ou então na versão cantada, como na história e magistral interpretação de Luciano Pavarotti!

A ópera italiana ao redor do mundo

A influência da ópera italiana tem alcance internacional, as composições desses gênios italianos que citamos acima são frequentemente realizadas em teatros de ópera de todo o mundo. E os compositores italianos também influenciaram outros estilos musicais, como os das trilhas sonoras de filmes. Ao ouvir as composições de Puccini, é fácil percebermos como sua ópera definiu muito do que viria a ser a linguagem sonora das produções cinematográficas do século XX.

Turandot Ópera Italiana de Puccini no The Metropolitan Opera
Turandot, no The Metropolitan Opera

Curiosidade: Puccini também foi uma influência marcante da genialidade das produções operísticas do grande maestro e compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos.

Turandot Opera Italiana de Puccini

Para visitar: os teatros da ópera italiana

A Itália é o lar de teatros de ópera icônicos, como o Teatro alla Scala em Milão, o Teatro San Carlo em Nápoles e o Teatro La Fenice em Veneza. Esses locais históricos preservam a tradição operística italiana e continuam a ser palcos de produções espetaculares.
Se tiver a chance, programe suas viagens tendo em mente a oportunidade de assistir a espetáculos nesses espaços históricos.

Teatro alla Scala Milão Itália
Teatro alla Scala, em Milão

O futuro da ópera italiana

A ópera italiana continua a evoluir, incorporando novos talentos e abordagens criativas. Jovens cantores e compositores italianos estão contribuindo para a renovação desse gênero clássico, mantendo a chama da ópera italiana acesa para as próximas gerações.

Não é exagero dizer que na essência da cultura musical mundial, a ópera italiana tem um dos papéis centrais, com uma história rica e uma influência global duradoura. Compositores como Verdi, Rossini, Donizetti, Bellini e Puccini deixaram um legado musical que continua a emocionar e inspirar pessoas em todo o mundo.

Você já teve a chance de escutar uma orquestra tocando ao vivo esses clássicos da genialidade italiana? 

Se já teve ou se ainda gostaria de ter essa experiência, é hora de se aproximar do tema na companhia da Prof. Paola Baccin e do Prof. Darius, assistindo a uma live especial em que eles conversaram justamente sobre a história da ópera italiana e sobre aquela que pode ser considerada a mais famosa em todo o mundo, Nessun dorma!

Buona visione!