A Itália não é conhecida apenas como uma nação rica em herança cultural e histórica, recentemente as notícias têm aumentado sobre os dados que apontam que o Bel Paese enfrenta um desafio demográfico que moldará significativamente seu futuro. Entra ano, sai ano, lemos estudos afirmando que a população da Itália está cada vez mais idosa, e que na União Europeia, a Itália é o país que envelhece mais rápido! Portanto, é fato: nas últimas décadas, a população idosa na Itália tem crescido de forma constante, levando a uma mudança fundamental na estrutura etária do país. Esse aumento no número de idosos apresenta desafios significativos, mas também oportunidades únicas para a sociedade italiana.
A Itália apresenta uma das expectativas de vida mais altas do mundo, com uma taxa de fertilidade relativamente baixa. Isso resulta em uma população mais idosa, com um número crescente de pessoas com 65 anos ou mais. Atualmente, 23% da população tem 65 anos ou mais, e esse número deve aumentar para 33% até 2050. Esse envelhecimento traz, por exemplo, desafios econômicos, pois significa que há uma diminuição da força de trabalho, que, quando entra em declínio, aponta a necessidade de se ajustar o sistema de previdência social para atender a essa população crescente.
Também o sistema de saúde começa a passar por uma nova fase de adaptação, para se ajustar às necessidades de saúde específicas dos idosos.
Nos últimos anos, o sistema de saúde italiano está se adaptando para oferecer cuidados de saúde de alta qualidade aos idosos. Programas de prevenção e tratamento de doenças crônicas, bem como cuidados paliativos, estão se tornando cada vez mais relevantes. Além disso, muitos idosos italianos desfrutam de uma vida ativa e saudável, com uma dieta mediterrânea e um estilo de vida que valoriza o convívio e o exercício físico. Aliás, você sabia que algumas cidades italianas entraram para o livro dos recordes com as maiores expectativas de vida do planeta?
Clique aqui para ler nosso artigo sobre O segredo dos italianos para viverem até os 100 anos.
Idosos na Itália
Apesar dos desafios, o envelhecimento da população também traz oportunidades. A sabedoria e a experiência dos idosos são muito valorizadas na sociedade italiana. Muitos idosos desempenham papéis ativos na família, na comunidade e na política, proporcionando uma rica fonte de conhecimento e liderança.
Além disso, a Itália tem uma rica tradição de solidariedade intergeracional, em que as gerações mais jovens têm a responsabilidade de cuidar e apoiar os idosos. Isso cria laços fortes dentro das famílias e comunidades. Um ótimo exemplo disso é a tradição da Festa dei Nonni na Itália. Aproveite para ler aqui nosso artigo sobre essa importante data, que celebra a sabedoria e o amor dos avós!
Embora o envelhecimento da população na Itália seja um desafio complexo, podem descobrir oportunidades únicas em uma sociedade que saiba repensar a maneira como valoriza e apoia seus idosos. A Itália poderá, cada vez mais, capitalizar a sabedoria e a experiência de sua população mais velha, reforçando os laços familiares e comunitários. A adaptação a essa mudança demográfica, em qualquer sociedade, é fundamental para garantir um futuro próspero e sustentável ao país e aos seus cidadãos de todas as idades.
Viva a Itália e o legado dos mais velhos!
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A música “Funiculì, Funiculà” é uma das canções mais icônicas e alegres da Itália, conhecida por seu ritmo cativante e letras animadas. Difícil encontrar quem já não tenha escutado em algum momento da vida. Geralmente é associada à culinária italiana, muito ouvida em momentos de demonstração do que a Itália exportou para o mundo. Hoje poderemos ir além dessas impressões gerais, para conhecer a origem e os significados. Esta canção, que se tornou um hino não oficial de Nápoles e uma parte importante da cultura musical italiana, tem uma história fascinante de composição, um autor talentoso e significados profundos em sua letra.
A história de “Funiculì, Funiculà”
A história remonta ao final do século XIX, mais precisamente ao ano de 1880. Ela foi escrita como um hino para celebrar a inauguração de um novo funicular (um tipo de transporte ferroviário inclinado) que conectava a cidade costeira de Nápoles ao topo do Monte Vesúvio, um vulcão ativo famoso em todo o mundo.
Giuseppe Turco
O autor desta alegre composição é Giuseppe Turco, um jornalista e poeta napolitano, conhecido também como Peppino Turco. Turco foi encarregado de criar uma música festiva para a cerimônia de inauguração do funicular. Em parceria com o talentoso compositor Luigi Denza (foto ao lado), a dupla criou a melodia e as letras que logo se tornaram um sucesso.
Ela foi cantada pela primeira vez em Castellammare di Stabia, no Hotel Quisisana no dia 6 de junho de 1880. E no mesmo ano, foi apresentada por Turco e Denza no Festival de Piedigrotta.
A letra da música descreve vividamente a empolgante experiência de subir o Monte Vesúvio no novo funicular, uma aventura emocionante para os moradores e visitantes de Nápoles na época. A palavra “funiculì” é uma contração que une duas palavras: “funicolare” (funicular) e “lì” (ali). Enquanto “funiculà” é a contração de “funicolare” + “là” (lá). Assim, a música transmite a ideia de movimento, o deslocamento daqueles que sobem, daqui até lá, pelo funicular que levava ao topo do Vesúvio, onde se poderia desfrutar de vistas deslumbrantes da baía de Nápoles e do Golfo de Nápoles.
A canção rapidamente se tornou popular em Nápoles e em toda a Itália, cativando o coração do público com seu ritmo vibrante e letras alegres. Ela também se espalhou por todo o mundo, tornando-se um símbolo da música italiana.
Ao longo dos anos, “Funiculì, Funiculà” foi interpretada por inúmeros artistas, tanto italianos quanto internacionais, e foi usada em diversos filmes, programas de televisão e comerciais, solidificando ainda mais sua posição como uma das músicas italianas mais reconhecíveis e queridas.
Duas das apresentações muito conhecidas são a de Luciano Pavarotti, em 1995, e a de Andrea Bocelli, em 2009, cantando dentro do Coliseu! Assistam:
Além de sua associação com o transporte até o Monte Vesúvio, “Funiculì, Funiculà” também é frequentemente executada em festas e celebrações, sendo um elemento essencial nas festividades italianas. Sua energia contagiosa e letras festivas fazem dela uma escolha perfeita para animar qualquer ocasião.
A letra da música é uma celebração da beleza da natureza, da aventura e do espírito napolitano. Ela evoca a sensação de liberdade e excitação que as pessoas sentiam ao subir o Monte Vesúvio e contemplar a paisagem deslumbrante ao redor. Mesmo após mais de um século desde sua criação, “Funiculì, Funiculà” continua a ser uma canção atemporal que encanta e emociona as pessoas.
Você percebeu que citamos o prazer que as pessoas sentiam nessa subida, mas falamos tudo no passado? É porque a história da construção do funicular deu lugar também a uma história repleta de reconstruções e desafios. Vejam só…
Não é nada simples construir um funicular que sobe o monte de um vulcão ativo. No ano de 1906, ocorreu uma erupção do Vesúvio, que causou a destruição das duas estações do funicular, a superior e a inferior. Além disso, os bondes, os equipamentos e também o restaurante construído na base do monte foram destruídos – ou melhor dizendo, engolidos pelas lavas e cobertos pelas cinzas.
O orgulho da construção e o espírito da industrialização, que tomavam a todos naquela época, logo serviram de impulso para que se pensasse numa rápida reconstrução. Os danos foram logo reparados e, já em 1909, o funicular voltou a funcionar.
Acontece que, dois anos depois, em 12 de março de 1911, uma nova erupção destruiu a estação superior novamente. E mais uma vez, ainda com maior rapidez, foram feitos os trabalhos necessários em apenas um ano, e o sistema voltou a funcionar plenamente. E mais, teve a sorte de ficar intacto quando ocorreu outra erupção, em 1929. Isso mesmo, tinham sido 3 erupções desde a inauguração, duas destruidoras, uma felizmente benevolente.
Contudo, em 1944, o Vesúvio entrou em erupção novamente. E, desta vez, o funicular não foi poupado, foi mais uma vez destruído. E, para piorar a situação, isso ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Dali em diante, o funicular nunca mais foi reconstruído.
A decisão por não serem mais feitas reconstruções, claro, é um cuidado que faz muito sentido se considerarmos que o Vesúvio já entrou em erupção outras dezenas e dezenas de vezes ao longo da história, após a destruição de Pompeia e Herculano. Ironicamente, porém, o que seria curioso para tantos italianos que trabalharam arduamente nas reconstruções ao longo do século 20, o vulcão está adormecido desde 1944, e de lá pra cá não tivemos nenhuma erupção nova.
Apesar de não ter sido mais reconstruído, a história do funicular italiano do Vesúvio foi uma inovação tecnológica tão grande e única na época que inspirou vários países a adotarem esse sistema de transporte como um diferencial importante no turismo local de cada região. Temos inclusive um exemplo brasileiro, o funicular de Santos, que percorre 147 metros da encosta do Monte Serrat! Quer conhecer, recomendamos assistir ao Passeio em Santos a bordo do FUNICULAR DO MONTE SERRAT
Outras versões de funiculares
Outros exemplos de funiculares que surgiram depois da criação italiana são:
Chaumont Panoramic Funicular Railway, em La Coudre, Neuchatel, Suíça.
Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal
Monte Pilatus – Suíça
Salzburg – Áustria
Polybahn – Zurique – Suíça
Montmartre – Paris, França
Voilà – Noruega
Kiev – Ucrânia
Os legados
Apesar de os funiculares terem se tornado uma atração turística em diversas cidades ao redor do mundo, a música “Funiculì, Funiculà” guarda a história e serve como um forte símbolo da alegria de viver e da ascensão apaixonada que a cultura napolitana vivenciava no período de modernização, num caminho raro de uma busca humana por uma comunhão entre indústria e o espaço definitivo da natureza. O que podemos observar nessa tentativa é o poder maior da natureza, que nos atrai até para perto de suas belezas destruidoras, mas que também nos afasta sem dificuldade, e demarca certos limites que, se bem observados, nos fazem aprender e celebrar nossos sonhos através de outras linguagens, como a da música, que se faz inabalável de geração em geração, com palavras que ecoam fora do alcance de qualquer erupção. E a canção, por sua vez, pode nos lembrar da importância de aproveitar a vida, explorar novos horizontes e celebrar a alegria de contemplarmos a natureza, enquanto subimos e subimos por onde conseguirmos. Funiculì, Funiculà!
A letra da música
Agora, aproveitem abaixo a letra da música, no dialeto napolitano e, depois, em português.
Ontem à tarde, oi Aninha, eu fui, sabes para onde, sabes para onde? Para onde este coração ingrato não pode me desprezar mais! Onde o fogo queima, mas se tu foges ele deixa estar! E não te persegue, não te consome,para que vejas o céu!… Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Vamos do sopé à montanha, Aninha! Sem (termos de) caminhar! Podes ver a França,a Prócida e a Espanha… e eu vejo a ti! Puxados por uma corda, antes de nos darmos conta, vamos para o céu… Vamos rápidos como o vento e de repente, já saímos! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Subimos, Aninha, já chegamos ao topo! (O funicular) Foi, e retornou, e voltou novamente… Está sempre aqui! O topo gira, gira, ao redor, ao redor, ao redor de ti! Este coração canta sempre e não é arrogante Vamos nos casar, Aninha! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Vamos, vamos, pro topo vamos, já! Funiculì – funiculà, funiculì – funiculà! Pro topo vamos, já, funiculì – funiculà!
Traduzido com ajuda do dicionário da “Storia di Napoli”
A tarantella é uma das danças mais icônicas e vibrantes da Itália, conhecida por seus movimentos rápidos, ritmo enérgico e espírito apaixonado. Essa dança cativante tem raízes profundas na história e cultura italianas, e tudo começou em Taranto, cidade localizada no sul da Itália. Hoje vamos descobrir o que impulsionou essa expressão cultural e os significados que ela tem ainda hoje, na Itália e no mundo, quando realizada em festas típicas italianas.
Como é o caso de todas as expressões culturais antigas, que datam de séculos e mais séculos, as origens mais precisas são difíceis de rastrear: por exemplo, quem terá sido a primeira pessoa a realizar a dança? Não saberíamos apontar uma data específica, nem um nome. Há uma longa história de diversas influências culturais que moldaram essa dança. No entanto, a etimologia da palavra nos permite rastrear sua origem e o que podemos descobrir é algo bastante surpreendente e pouco sabido!
Origem da Tarantella
O nome “tarantella” vem de “taranta”, que é um termo do dialeto das regiões do sul da Itália, que nomeava a tarântula Lycosa, uma aranha venenosa muito encontrada no sul da Europa, e em particular, justamente, na zona rural de Taranto, de onde leva o seu nome. Estudiosos apontam que vocábulos como tarantela, taranta e tarantismo derivam, portanto, do nome da cidade de Taranto, que viria de uma raiz linguística mais antiga.
Nessas áreas, a dança da tarantela está parcialmente ligada a algo curioso: a terapia da mordida da tarântula. A tradição atribuía ao veneno desta aranha efeitos diversos, dependendo das crenças locais: melancolia, convulsões, sofrimento mental, agitação e dor física.
Quem era picado ou acreditava ter sido picado por uma tarântula ganhava no corpo um dinamismo exagerado, por isso seria uma prática a terapia de coreografias ao som de música, especialmente eficazes durante festas, como dos Santos Pedro e Paulo. O que se sabe é que, por meio da prática da dança, seria possível a expulsão do veneno através do suor. Como forma de cura, a dança frenética da tarantella então ajudaria a acelerar a circulação sanguínea, permitindo que o veneno fosse expelido do corpo. Essa compreensão não seria necessariamente acessada dessa maneira naquela época, quando as crenças populares difundidas eram de que a dança funcionaria como uma espécie de trabalho espiritual para liberar o corpo do veneno.
No entanto, é importante considerar que toda expressão cultural dessa magnitude não é criada a partir do nada. Há muitos elementos da tarantella, como a dança em círculo que veremos mais adiante, que nos remetem a movimentos da dança praticada pelos gregos e pelos romanos. Festas pagãs e rituais dionisíacos reuniam pessoas que se expressavam através da dança de grupo e que, portanto, desenvolviam simbologias, linguagens corporais e sentidos que, assim como acontece no desenvolvimento das línguas, criaram marcas e deixaram rastros duradouros para as expressões culturais que viriam a nascer mais tarde.
A tarantella ao longo do tempo
A Tarantella evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se às mudanças culturais e sociais da Itália. Durante o Renascimento, a dança era popular nas cortes nobres e era frequentemente realizada em celebrações da alta sociedade. Ela foi incorporada em peças de teatro e óperas da época, tornando-se uma parte essencial da cultura italiana.
Com o tempo, a Tarantella também se espalhou para diferentes regiões da Itália, cada uma desenvolvendo sua própria variação da dança. As versões regionais da Tarantella são muitas vezes reconhecidas por seus trajes tradicionais distintos e variações nos passos de dança.
No século XIX, a Tarantella experimentou um ressurgimento de popularidade na Itália, quando a dança foi incorporada em festivais folclóricos e se tornou uma forma de celebrar a identidade italiana.
Hoje, a tarantella continua viva na cultura italiana, sendo realizada em festivais ao redor do mundo, em casamentos e em outras celebrações italianas. Ela também é uma atração turística popular, com muitos visitantes estrangeiros encantados pela energia e pela paixão dessa dança tradicional.
Na prática
A dança acontece formando-se um círculo, que gira e dança no sentido horário até a música se tornar rápida, quando todos trocam de direção. O ciclo de idas e vindas ocorre algumas vezes, gradualmente ganhando uma velocidade tão grande que se torna difícil manter o ritmo. O som é composto pela voz de um cantor central, acompanhado por tamborim e castanholas.
As origens podem ser misteriosas, cheias de explicações inusitadas, mas o resultado é uma expressão corporal cheia de vida, que assim representa hoje, e já há muito tempo, a alegria de viver, a celebração de um grupo que encontra harmonia e vence o desafio de não tropeçar nos erros que surgirem nos passos cada vez mais rápidos dos companheiros de dança – a vida acelerada pedindo união, e a resposta da dança: conexão com as tradições ancestrais podem nos levar de volta a nós mesmos. A tarantella é verdadeiramente uma jóia da cultura italiana que continua a encantar e inspirar pessoas em todo o mundo!
Quer assistir a uma tarantella típica? Então aproveite a gravação abaixo, de muito sucesso no YouTube, feita na Itália, uma autêntica dança da tarantella durante uma festa em um restaurante! Registros como esse nos permitem enxergar um pouco do que teria sido, há séculos, expressões culturais em círculos pequenos, com poucas pessoas assistindo, em tavernas, em lugares desconhecidos, em casamentos não registrados nos livros de história!
Também recomendamos os registros feitos há anos pelo canal Tarantolato Oficial, em que estão publicadas algumas danças realizadas na Itália, em eventos pequenos e grandes.
Agora, me diga: você gosta de aprender com música? Pois então vamos relembrar um grande sucesso dos últimos anos, Amaremare, uma canção da artista pop contemporânea, Dolcenera, que inclusive inserimos em uma das nossas aulas em formato de live, quando o Prof. Darius analisou a letra da canção.
Se você já conhece, ou se ainda não ouviu, é uma grande chance de se movimentar, dançar e estudar com alegria e reflexão, pois a letra é bela! Aproveite e clique aqui para assistir à aula com música do Prof. Darius:
A mitologia greco-romana tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para a arte ao longo dos séculos, e a figura de Vênus, a deusa do amor, da beleza e da fertilidade, desempenhou um papel proeminente na arte italiana. A evolução das representações de Vênus na arte italiana ao longo dos séculos reflete não apenas a mudança de estilos artísticos, mas também as mudanças culturais e sociais que ocorreram na Itália.
Na era renascentista, a arte italiana floresceu e buscou recuperar na mitologia clássica os símbolos e significados ideais para a compreensão e a representação do mundo. Artistas como Sandro Botticelli, nascido em Florença, e Tiziano (Ticiano em português), nascido em Pieve di Cadore, ficaram famosos por suas representações de Vênus. Uma das obras mais icônicas desse período é “O Nascimento de Vênus”, pintado por Botticelli por volta de 1484-1486. Nesta obra, Vênus é retratada emergindo do mar, nua e em uma concha, simbolizando a beleza e a pureza. O renascimento trouxe uma ênfase na harmonia, proporção e realismo, e isso se reflete nas obras que retratam Vênus.
No período barroco, artistas como Ticiano deram uma reviravolta ao retratar Vênus. Em sua famosa pintura “Vênus de Urbino”, de 1538, Ticiano apresenta uma Vênus de uma forma mais sensual e provocante. A figura de Vênus nua em uma pose reclinada e com olhar sedutor desafia as convenções da época, mas também reflete uma mudança na representação da sexualidade na arte.
Já no século XIX, houve um movimento que buscou recuperar traços da arte que existia antes do gênio renascentista italiano Rafael, foi fundado na Inglaterra e tinha a intenção de reencontrar estilos artísticos que pudessem recriar representações clássicas, por isso Vênus voltou a ser uma figura proeminente em algumas obras. Artistas ingleses como Dante Gabriel Rossetti retrataram Vênus com um toque romântico, incorporando elementos do simbolismo e da natureza. Vênus era frequentemente representada em paisagens exuberantes e envolta em mistério.
Já na virada do século XX, a Itália voltou a testemunhar um período de intensa inovação artística. Artistas como Amedeo Modigliani, nascido em Livorno, em 1884,exploraram novas formas de representar Vênus. Modigliani, conhecido por seu estilo de retratos alongados e estilizados, pintou Vênus de uma maneira única e moderna – combinando elementos clássicos com um toque de abstração.
A evolução das representações de Vênus na arte italiana reflete não apenas mudanças no estilo artístico, mas também nas atitudes culturais em relação à beleza e à mitologia. Desde a pureza renascentista até a sensualidade barroca e as interpretações românticas e modernas, Vênus continuou a ser uma figura cativante para os artistas italianos.
Na era da inteligência artificial
Nos dias de hoje, ao contrário da evolução artística que vimos, a figura de Vênus também já caiu no automatismo das criações da inteligência artificial. Como veremos abaixo, ao retirarmos a genialidade dos pintores da equação da arte, o que podemos acabar descobrindo é um esvaziamento do significado dos símbolos e das representações artísticas.
Vênus é tão presente na cultura mundial que foi utilizada recentemente, em 2023, não para a continuidade de suas representações na arte da pintura, mas para fins publicitários, em uma campanha que revoltou muitos italianos. A imagem utilizada foi especificamente a de Botticelli. Sua Vênus apareceu transformada em influenciadora digital em uma representação gerada por computador para promover o turismo na Itália. O motivo da revolta: foi uma criação do próprio Ministério do Turismo italiano, que imaginou que pudesse gerar interesse aos viajantes sem causar polêmicas. A Vênus do pintor italiano aparece comendo pizza e tirando selfies para postar no instagram.
Na imprensa e em redes sociais, as pessoas expressaram descontentamento, dizendo que as imagens banalizam a obra e também as paisagens.
Uma das mensagens que foi alvo de críticas misturava idiomas, com traduções automáticas para turistas de todo o mundo, dizendo: “Quem melhor do que eu para levar você para descobrir este lindo país, em qualquer época do ano? Eu sou Vênus. O ícone da Itália no mundo de hoje”.
A deusa do amor e da beleza tem sido retratada de inúmeras maneiras ao longo dos séculos, refletindo as mudanças estilísticas e as transformações culturais que ocorreram na Itália e no mundo da arte. Ela permanece como um símbolo duradouro de inspiração e fascinação, continuando a encantar espectadores e a influenciar artistas contemporâneos.
E a evolução das possibilidades de representações de Vênus na arte italiana, apesar de qualquer desagrado recente, é um testemunho da riqueza e da complexidade da cultura e da criatividade italianas.
E você? O que achou disso?
Aproveite para assistir ao vídeo em que o Prof. Darius caminha pelas ruas de Firenze mostrando dicas para viajantes. Essa é a cidade onde o turismo cultural permite conhecer de perto a história da arte e ver com os próprios olhos criações de gênios como Sandro Botticelli, que vimos ao longo deste artigo. Um de seus quadros mais famosos, “Alegoria da Primavera”,está em exposição em Firenze, desde 1919, na Galeria Uffizi. Pintada em 1482, é considerada uma das pinturas mais faladas e mais controversas do mundo!
O “Scoppio del Carro” é uma das tradições mais antigas de Florença. Surgiu por volta de 1600 e ocorre durante a Páscoa. Essa festividade, que também é conhecida como “A Explosão da Carruagem”, tem raízes medievais e é um dos eventos mais curiosos que os turistas desavisados podem testemunhar.
O evento
O evento inicia-se com um carro, ou melhor, uma carroça, coberta de fogos de artifício, conhecida como “Brindellone”, que é puxada por bois brancos ornamentados. Ela é estacionada em frente à Basílica de Santa Maria del Fiore, a deslumbrante Catedral de Florença. Durante a missa de Páscoa na catedral, um fio com uma pomba de madeira, chamada de “colombina” (que representa o Espírito Santo), é acionado por um cabo de segurança que percorre a catedral, eis então o momento do volo della colombina . Ao final da missa, o Arcebispo de Florença acende um foguete em forma de pomba, que simboliza a bênção divina.
Esse foguete é então aceso e percorre o cabo até a carroça, onde há uma pilha de fogos de artifício prontos para explodir. Os efeitos pirotécnicos incluem fogos que giram e lançam faíscas para todos os lados, por isso tudo é feito com uma distância segura da população, que assiste ao espetáculo por trás de uma cerca de proteção.
Palagio di Parte Guelfa
O Palagio di Parte Guelfa também faz parte do evento. É um Palácio que foi sede de um dos partidos políticos do século XIV, os guelfos. E hoje é dali que os grupos de cortejo se deslocam para expor suas vestimentas e habilidades acrobáticas. Antes do volo della colombina, eles passam pela Piazza della Signoria e depois se reúnem com os sbandieratori na Piazza della Repubblica. Deste cortejo participam figurantes de nobreza fiorentina vestidos de época renascentista, os balestieri (balestra), um representante de cada time do calcio storico e porta bandeiras com os símbolos das Artes (sindicatos de época medieval).
Sbandieratori
Os sbandieratori, por sua vez,são um grupo performático de agitadores de bandeira que nasceu em Figline Valdarno em 1965, a partir da vontade de alguns jovens entusiastas. Desde 1973, após uma breve passagem pelo Calcio Storico Fiorentino, o grupo afirmou a sua independência, fortalecendo a sua identidade e o seu prestígio.
Eles atuam com sucesso na Itália e no exterior, levando a tradição toscana para todo o mundo. São inúmeros os elementos de vestimenta que eles carregam como símbolos do tempo medieval e se dividem em capitães, tambores, clarins e agitadores de bandeiras, com uma escola de bandeiras que remonta à antiga tradição da agitação de bandeiras militares, com varas de madeira artesanais e tecidos bordados com muita técnica e atenção aos mínimos detalhes estéticos e históricos.
Na estrutura de madeira do Brindellone está esculpido o brasão da Família Pazzi, que por muitos séculos foi a organizadora do evento. Mas a celebração não se prende a raízes familiares, pois sua essência está em suas conotações de comunhão social e de simbologia religiosa, já que a Páscoa é uma das festividades cristãs mais importantes. Esse espetáculo unicamente florentino diversifica as representações da ressurreição de Jesus Cristo e da renovação da vida, tornando o evento uma comemoração teatral, social e literalmente explosiva. O “Scoppio del Carro” é portanto uma maneira de marcar a data de uma forma que envolve narrativa e, verdadeiramente, espetáculo.
Tradição
A realização da festa, em cada uma das suas etapas, atrai tanto os fiéis quanto turistas e moradores que possam se considerar apenas amantes da cultura e da história. É uma celebração que acolhe a todos e que combina elementos estéticos da história e da religião, numa interação social bastante reveladora do que, ainda hoje, explica o valor incomparável de Florença como um patrimônio da humanidade.
Você gostaria de ver de perto essa festa?
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Artemisia Gentileschi, uma das pintoras mais talentosas do período barroco, deixou uma marca indelével na história da arte italiana e mundial. Sua vida e obra são testemunhos de perseverança, talento e determinação em um mundo dominado por homens. Neste artigo, exploraremos a vida e as contribuições significativas dessa artista extraordinária.
Artemisia nasceu em Roma, em 8 de julho de 1593, filha do pintor Orazio Gentileschi. Desde cedo, demonstrou um talento excepcional para a pintura, e seu pai a instruiu nas técnicas artísticas. Com apenas 17 anos, ela produziu uma de suas obras mais icônicas, “Susanna e i vecchioni” (Susana e os Velhos), que tornou logo incontestável sua habilidade em representar homens e mulheres de forma realista e emocional.
No entanto, a vida de Artemisia não foi marcada apenas pelo talento artístico. As grandes dificuldades enfrentadas por ela, simplesmente por ser uma mulher em uma profissão dominada por homens, marcaram sua história e fizeram dela um nome por muito tempo invisibilizado pela história da arte.
Em 1611, Artemisia foi vítima de um estupro cometido por Agostino Tassi, um pintor que trabalhava com seu pai. O julgamento subsequente, que se tornou um escândalo público, trouxe grande sofrimento e humilhação para Artemisia, mas também demonstrou sua determinação em buscar justiça.
As obras de Artemisia
As pinturas de Artemisia Gentileschi são notáveis pela naturalidade da sua representação realista. Em suas pinceladas é possível encontrar influências do realismo de Caravaggio (com o uso dramático da técnica chamada chiaroscuro, caracterizada pelo jogo de contrastes na utilização de cores claras e escuras). Ao mesmo tempo, não abriu mão da linguagem de cores do barroco, muito difundida na Escola de Bolonha, de onde destacou-se principalmente Annibale Carracci.
As obras de Artemisia muitas vezes apresentam heroínas bíblicas e mitológicas que demonstram força, coragem e resiliência. Um exemplo notável é “Judite decapitando Holofernes”, uma das obras mais famosas de Artemisia, que retrata a heroína bíblica Judite em um ato de coragem ao enfrentar o general assírio para libertar seu povo.
A característica dramática do contraste entre luz e sombra, aliada à visão de mundo que, como mulher, lhe era pessoal, conferia às suas pinturas uma leitura diferente das expressões e dos significados das cenas retratadas e, por consequência, uma qualidade teatral e intensa que a tornou uma das figuras mais importantes do movimento barroco.
Reconhecimento e legado
Ao longo de sua carreira, Artemisia Gentileschi enfrentou desafios extraordinários, mas sua paixão pela arte a impulsionou a continuar pintando. Ela eventualmente conquistou reconhecimento e renome, tornando-se a primeira mulher a ser admitida na Academia de Artes de Florença.
Até os dias de hoje, o legado de Artemisia continua a inspirar artistas, e mesmo mulheres não envolvidas com a arte. Sua habilidade em dar voz e poder às mulheres em suas pinturas desafiou as convenções de sua época e continua a ressoar com o público contemporâneo. Museus e galerias de todo o mundo exibem suas obras, e suas pinturas são frequentemente estudadas como exemplos de empoderamento feminino na arte.
O legado de Artemisia continua a brilhar como um farol para artistas e defensores de uma sociedade justa, lembrando-nos da importância de desafiar as normas e expressar a própria voz. Suas obras não apenas resistem à passagem do tempo, mas também continuam a influenciar e inspirar gerações futuras de artistas e admiradores da arte. Artemisia Gentileschi é uma verdadeira pioneira cuja contribuição à história da arte não pode ser subestimada.
A jornada dessa brilhante artista, desde a infância talentosa até o reconhecimento como uma das principais pintoras do Barroco, é inspiradora e continuará sendo, contanto que não deixemos de citá-la entre os tantos gênios do Renascimento. Sua capacidade de representar mulheres de maneira realista e poderosa, tanto na arte como na realidade da vida cotidiana, pode seguir alcançando gerações e gerações, de todas as culturas. Apesar dos obstáculos que enfrentou como mulher no mundo das artes, sua obra e sua vida registrada em diários, é um testemunho de sua genialidade, sua resiliência e sua determinação.
A história da Itália é repleta de figuras notáveis, e especialmente no período do Renascimento, destacar-se não era uma tarefa para qualquer pessoa; era necessário lançar sua obra a um público acostumado a gigantes como Da Vinci, Michelangelo, Rafael e Caravaggio. Por isso mesmo, é imenso o valor de podermos dizer que a história da arte, italiana e mundial, tem Artemisia como uma das maiores genialidades, uma joia que deixou um legado de influência e de significações que deve ser guardado, lembrado, relembrado e levado adiante, propagado sempre que pensarmos nesse período da História.
Se você quiser ver mais obras de Artemisia Gentileschi, clique aqui, o catálogo está na wikiart.org, que é uma Enciclopédia de Artes Visuais!
Agora aproveite para caminhar pelas ruas de Firenze, onde Artemisia Gentileschi tanto caminhou, quando se inspirava e estudava para as suas criações geniais. Basta se juntar ao Prof. Darius, que explorou as preciosidades que os turistas podem encontrar em Florença, uma das cidades italianas mais conectadas à História da Arte!
É só clicar aqui para começar a sua viagem e anotar as dicas de ouro de tudo que você pode encontrar por lá!