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Filmes e séries para aprender italiano na Netflix

Filmes e séries para aprender italiano na Netflix

É possível aprender um idioma se divertindo, assistindo a filmes e escutando músicas. Essa é uma verdade comprovada diariamente no aprendizado de uma criança. Não é apenas o conteúdo visto em sala de aula que alfabetiza e torna fluentes as crianças de todo o mundo, é também o conteúdo com o qual elas entram em contato quando estão fora da escola. Por que não aplicaríamos esse mesmo procedimento no nosso processo de aprendizado de uma nova língua durante a vida adulta?

Treinando seu italiano

O primeiro passo para garantir que também você tenha essa experiência concreta de descoberta e aprendizado pode ser resumido numa expressão que já utilizei muitas vezes com os meus alunos: immersione ed esposizione costante!

Isso mesmo, não tem mistério quando se trata de treinar a escuta. Para melhorar a sua capacidade de encontrar mentalmente as palavras que precisa para descrever determinada coisa ou ideia, só mesmo através do que chamamos de imersão e exposição constante. A imersão nos garante o envolvimento necessário com a língua que estamos aprendendo. Qualquer idioma se torna, portanto, mais íntimo e acessível quando nos acostumamos a escutar as palavras de um conteúdo autêntico, isto é: conteúdo feito originalmente na língua que estamos estudando. Trata-se de um produto com as marcas culturais, com o ritmo natural da fala e com uma variedade de expressões muito maior do que aquela que encontraríamos apenas em exercícios ou em conversas de uma sala de aula.

Filmes e séries para aprender italiano

Conteúdos em Italiano

E hoje em dia você conta com muitas ferramentas que tornam esse processo mais prazeroso e pessoal, porque você pode se cercar de conteúdos diversos, de entrevistas de podcast a filmes e séries de produção original da Itália! Essa tarefa de imersão pode acontecer com naturalidade se você selecionar conteúdos que abordem os temas e os tipos de entretenimento que te agradam, que já fazem parte do seu mundo e das necessidades que você tem em outras áreas da sua vida. É possível, portanto, adquirir repertório para aprender os fundamentos da língua enquanto você se diverte!

Filmes para aprender italiano

Por isso, convido você a assistir a uma live que preparamos aqui na ITALICA sobre o tema. Abordamos filmes e séries produzidos na Itália e que estão disponíveis na Netflix. Trata-se então de conteúdos autênticos, com os quais você escutará a pronúncia e o ritmo do italiano dentro de contextos que te ajudarão a assimilar significados e recursos de comunicação sem esforço.

Dicas ITALICA de filmes em italiano

Dividimos essa live em duas partes.

Parte 1

Na primeira parte, tive a companhia de Gabi Salvatto, professora da Squadra ITALICA, que muitos de vocês já conhecem! Além da nossa lista de filmes e séries, também aprofundamos a conversa com detalhes sobre os gêneros cinematográficos e a história por trás do termo “Giallo”, vindo da palavra que significa “amarelo”, mas que também ficou marcada para definir o gênero de filmes de suspense e de tema policial.

Parte 2

Na parte 2, dou continuidade à curadoria da professora Gabi Salvatto. E attenzione: não trago a lista toda para cá pois não se trata apenas de saber quais séries estamos recomendando! Assistir à live é também uma chance de conhecer termos e o vocabulário da área cinematográfica. Te convido a me acompanhar na leitura que destaco nas imagens, notando as sonoridades e o vocabulário usado nas diferentes sinopses de cada um dos filmes e séries que mostro a vocês. É uma chance, desde já, de você ampliar seu conhecimento linguístico. 

Lembre-se: o aprendizado sempre acontece da melhor maneira e no melhor ritmo quando garantimos que essa atividade de imersão seja feita com diversão e entretenimento!

Buona visione!

A presto

Provérbios italianos revelam muito da tradição do formaggio na Itália

Provérbios italianos revelam muito da tradição do formaggio na Itália

Provérbios são especialmente valiosos para se aprender sobre o idioma, a culinária e a cultura italianas. E não se trata simplesmente de aprendermos versões italianas de ditados já conhecidos em outras línguas. É, na verdade, a chance de descobrirmos ideias que não estão registradas em provérbios de nenhum outro idioma!

Provérbios italianos

Para começar, vamos ver um provérbio fácil de se compreender, e que pode ser usado como resposta bem humorada em conversas do cotidiano. Envolve um alimento que, como veremos, está muito presente em outros provérbios italianos, o queijo.

“Anche il groviera ha i buchi e non si lamenta.”
(Até o gruyere tem buracos e não reclama.)

Queijo italiano Gruyere

Esse provérbio, relativamente novo na longa lista de provérbios italianos, é atribuído ao ator italiano de comédias chamado Totò, conhecido por filmes como I soliti ignoti (Os eternos desconhecidos), de 1958.

Filme-italiano-Os-eternos-desconhecidos-de 1958

Outras centenas de provérbios, porém, datam de séculos atrás e ninguém pode sequer imaginar de quem teria sido a autoria. Alguns não são facilmente traduzíveis porque expressam ideias de contextos que não estão presentes no nosso dia a dia. Veja o desafio de tentar traduzir o seguinte provérbio:

“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”

Se traduzirmos ao pé da letra, fará sentido? Vamos tentar:

Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.

Traduzir não é o suficiente para concluirmos o sentido e o contexto dessa frase. Sem acesso a uma pesquisa detalhada, só nos restaria imaginar, talvez até inventar sentidos. Isso nos aponta uma direção importante. Existe alguma coisa especialmente italiana e histórica nesse e em outros provérbios que surgiram há séculos na Itália? É o que veremos.

Antes de mais nada, é claro que também em italiano encontramos muitos ditados cheios de metáforas, que comunicam aquilo que em português já nos acostumamos a falar quando queremos criar sentidos em variados contextos. Por exemplo:

Cane che abbaia non morde.
(Cão que ladra não morde.)

Non tutto il male viene per nuocere.
(Há males que vêm para o bem.)

Chi va piano va sano e va lontano.
(Devagar se vai longe.)

Chi troppo vuole nulla stringe.
(Quem tudo quer, tudo perde.)

Acontece que, no caso de outros muitos provérbios italianos, descobrimos que nem todos são inventados para servir como metáforas úteis em contextos diversos. Alguns ditados seriam registros pontuais sobre um pensamento, sobre uma qualidade, sobre um perigo, sobre os benefícios de uma prática. Podemos encontrar muitos desses valiosos registros no Dicionário de provérbios italianos – 6.000 verbetes e 10.000 variantes dialetais, de R. Schwamenthal e M. L. Straniero. Diante de números tão grandes, é natural então percebermos que a linguagem dos provérbios, desde a Idade Média, também é utilizada para guardar e transmitir a importante herança da culinária italiana.

Dicionario de Proverbios Italianos

Estudiosos da área, como Giovanni Ballarini, professor da Universidade de Parma, encontraram mais de 300 expressões idiomáticas e provérbios referentes a alimentos. O que comprova que o ato de comer tornou-se mais do que um fato biológico, mas um ação simbólica na comunicação dos italianos, que se viram capazes de criarem sentido, registrarem conhecimentos e passarem adiante costumes e práticas – em alguns casos até mesmo para garantir boas maneiras no cuidado da saúde, como no seguinte provérbio:

Il formaggio è cibo sano se ne mangi poco e piano.
(O queijo é um alimento saudável se você comer pouco e devagar.)

Uma curiosidade que Giovanni registrou em seus estudos é que, entre tantas expressões referentes a comida, queijos ocupam um lugar de destaque, com 36 provérbios dedicados a eles.

Essa possibilidade de tornar a alimentação um tema recorrente revela um cuidado e uma sabedoria: frases curtas podiam ser facilmente memorizadas e repassadas de boca em boca, de geração em geração, para então servirem como receitas, destacando qualidades de certos alimentos e fazendo alertas de perigos na alimentação. Um livro que se aprofundou no tema é de autoria de Terence Scully, intitulado The Art of Cookery in the Middle Ages (A arte da culinária na Idade Média), onde foram reunidas centenas de provérbios de conteúdo alimentar da tradição medieval.

A arte da culinária na Idade Media

Por isso é tão importante notarmos que alguns provérbios podem ter surgido não apenas como metáforas para outros saberes da vida. Alguns que veremos têm características de exaltação de uma prática muito repetida ou de uma atenção aos prazeres de uma boa alimentação.

A sabedoria morava nos provérbios

Dalla tavola non alzarti mai se la tua
bocca non ha assaporato il formaggio!
(Nunca se levante da mesa se sua boca ainda não provou o queijo!)

A frase acima é uma representação bem humorada de uma prática sendo valorizada, quase como um “bom costume”, uma “etiqueta” da boa refeição e das boas maneiras. Isso significa que a linguagem, por meio da repetição de certas falas, ajuda a construir a identidade de um povo. Também no português, é claro, temos casos em que ouvimos ditados repassados de geração em geração. É como se estivéssemos diante de um guia, escutando as palavras que indicam como é que se deve continuar agindo através dos tempos. No caso da cultura italiana, os provérbios que fazem referência à alimentação demonstram como os conhecimentos acerca dos alimentos eram especialmente valorizados e conservados.

O professor Giovanni Ballarini, em uma de suas notas sobre o assunto, se refere a alguns desses provérbios de queijos como sendo “provérbios-lembretes”, que podiam registrar dicas de culinária, com ensinamentos de truques para a melhor seleção de ingredientes que pudessem garantir o preparo de pratos deliciosos. Outro bom exemplo é: “Formaggio non guasta sapore” (“O queijo não estraga o sabor”).

Proverbio Italiano e o queijo em livros medievais

Assim, diz o professor, os italianos podiam se apresentar como cozinheiros voluntários, exaltando prazeres do paladar, muitas vezes com bom humor, trocando receitas e garantindo a tradição de se partilhar momentos festivos à mesa. O professor também destaca as palavras de Piero Camporesi (historiador e antropólogo italiano, que lecionou literatura italiana na Universidade de Bolonha), que escreveu sobre o valor do provérbio no tempo em que a escolarização não era acessível à vasta parcela da população. Nas palavras do professor, Camporesi diz que “no mundo analfabeto como o camponês, o provérbio condensa o conhecimento do grupo”.

Formaggi per tutti i gusti

Existem tantos provérbios italianos citando alimentos que não seria possível analisar cada um deles aqui, mas vamos finalizar vendo de perto mais três deles, referentes ainda a queijos. E são provérbios que abrem portas para fatos históricos.

“Se la cena non basta alle attese, il formaggio ne paga le spese.”

(Se o jantar não atender às expectativas, o queijo paga a conta.)

Essa pode ser lida literalmente como exaltação do queijo como um elemento do prato que é difícil de errar. Se tudo estiver mal preparado, pelo menos o queijo será saboroso.

“Il formaggio sulla zuppa non guasta mai.”

(Queijo na sopa nunca é demais.)

Essa tem cara de receita. E eu particularmente concordo. Queijo derrete na sopa quentinha e sempre acrescenta sabor especial! Mas é um ditado que nos remete ao tempo medieval e conta sobre um momento em que havia poucos recursos para a alimentação. Na falta de ingredientes, o queijo podia ser a garantia de sabor numa sopa simples.

“Cadere come il cacio sui maccheroni.”

(Cai como queijo no macarrão.)

Teria provérbio de queijo mais italiano do que este? É quase uma lei garantir que não falte um queijo ralado por cima da macarronada. Consigo até ver em câmera lenta. Também podemos imaginar funcionando como metáfora para expressar toda e qualquer coisa que “cai bem”, uma feliz coincidência do dia a dia, que completa uma situação e cai tão bem quanto um queijo no macarrão.

Mas também podemos descobrir nesse provérbio as origens do consumo de massa em Nápoles. O maccheroni era cozido na rua e comido com as mãos. E qual era o tempero jogado diretamente sobre a massa? O queijo. O complemento essencial.

“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”

(Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.)

Nessa aqui, confesso, não vou nem me arriscar. Deixo para vocês como desafio para imaginação. O que será que poderia significar?! 

Agora, para compensar o mistério desse último provérbio e falarmos do sabor do formaggio e da ricotta, aproveite para viajar comigo e conhecer de perto justamente uma produção de formaggio na zona de Chianti, na Toscana! É só clicar para assistir nossa descoberta das etapas de produção de queijo artesanal, do formaggio fresco e da ricotta

Buona visione!

A presto

Fontes

(Aproveite para continuar sua leitura em italiano!)

(https://www.seminarioveronelli.com/2021/il-formaggio-sulla-bocca-di-tutti/)

(https://www.ruminantia.it/i-proverbi-del-formaggio/)

Poesia ao redor do Vesúvio

Poesia ao redor do Vesúvio

Existe um tomate especialmente italiano, que só pode ser cultivado em um solo específico da Itália. É o chamado “pomodorino del piennolo del Vesuvio”, também conhecido apenas como “pomodorino vesuviano”.

“Piennolo” é uma referência ao método centenário de cultivo dos tomates, que, após a colheita, são pendurados em cachos, presos em cordas de cânhamo. “Piennolo” significa “pendulo” no dialeto napolitano.

Pomodorino Vesuviano

Esse pomodorino de Nápoles é um tomate cereja tão especial que, em 2009, recebeu a classificação DOP, uma sigla que significa Denominação de Origem Protegida, que serve para indicar os produtos agrícolas que têm vínculos fortes com a terra em que são produzidos. Essa classificação determina que cada etapa da produção deve ocorrer na região especificada.

Pomodorino Vesuviano
Pomodorino vesuviano pendurado em cachos

A principal razão desse valor cultural e gastronômico é que sua área de cultivo se encontra ao redor do Monte Vesúvio, justamente ao pé do vulcão, em um solo vulcânico que é rico em nutrientes essenciais, como potássio e fósforo, devido ao ciclo de matérias depositadas ali ao longo de milênios.

‌Parque Nacional do Vesúvio

Passeios turísticos por essa área são uma chance, portanto, de conhecer não apenas os vinhedos e as vinícolas que estão ao redor do Monte Vesúvio, mas também de degustar esses raros tomates, descritos como tendo uma polpa de grande consistência e um sabor unicamente agridoce.

Imagem aérea Vulcão Vesúvio
Imagem aérea Vulcão Vesúvio
Parque Nacional do Vesúvio
Parque Nacional do Vesúvio

O cultivo está na área de mais ou menos 130 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Vesúvio. E a comuna mais próxima acrescenta uma razão especial para o interesse dos viajantes. Essa comuna chama-se Torre del Greco, conhecida por ter recebido, em meados do século 19, o poeta que é visto por muitos como o maior poeta italiano depois de Dante: Giacomo Leopardi.

Villa delle Ginestre Torre Del Greco Vesúvio
Torre Del Greco
Torre Del Greco Vesúvio
Torre Del Greco

A casa em que Giacomo Leopardi se hospedou pertencia a Giuseppe Ferrigni, cunhado de Antonio Ranieri, grande amigo de Leopardi. A área do casarão teve inicialmente o nome de Villa Ferrigni, mas foi rebatizada como Villa delle Ginestre, em referência ao título do poema que Leopardi escreveu ali, enquanto viveu o fim de sua vida, inspirado pelas pradarias, pela flores e pelo horizonte marcado pela silhueta imponente e temerosa do vulcão. O nome do poema carrega justamente o nome de uma flor amarela que é facilmente encontrada nascendo do solo ao redor do vulcão: La ginestra, o il fiore del deserto (A giesta ou a flor do deserto).

Giesta a flor do deserto do Vesúvio
Giesta, a flor do deserto

Poema A giesta ou a flor do deserto

Vamos ver a abertura do poema:

La ginestra, o il fiore del deserto

Qui su l’arida schiena

del formidabil monte

sterminator Vesevo,

la qual null’altro allegra arbor né fiore,

tuoi cespi solitari intorno spargi,

odorata ginestra,

contenta dei deserti. Anco ti vidi

de’ tuoi steli abbellir l’erme contrade

che cingon la cittade

la qual fu donna de’ mortali un tempo,

e del perduto impero

par che col grave e taciturno aspetto

faccian fede e ricordo al passeggero.

A giesta, ou a flor do deserto

[tradução de Luiz Antônio Lindo]

Aqui sobre a árida encosta

do formidável monte

exterminador Vesúvio,

onde nada mais cresce, árvore ou flor,

tuas moitas solitárias ao redor espalhas,

perfumada giesta,

feliz com o deserto. Também te vi

com tuas hastes enfeitar os ermos caminhos

que rodeiam a cidade,

a qual foi senhora dos mortais um dia,

e do perdido império

parecer pelo grave e taciturno aspecto

servir de prova e advertência ao que passa.

‌Destaques de italiano

Com a pesquisa empreendida pelo próprio tradutor, é possível destacarmos efeitos interessantes no emprego de algumas palavras. É o caso de 3 palavras que vimos nestes primeiros 13 versos: arborallegra e anco.

  1. O vocábulo “arbor” é do latim (arbore -> árvore) e foi empregado no lugar de “albero”, que seria mais usual no italiano.
  2. O uso de “allegra” é referente a “allegrare”, no sentido geralmente dito sobre as plantas, de “crescer”, “prosperar”. É uma palavra que, numa leitura rápida, poderia parecer ter apenas o sentido que encontramos em “alegrar” e “alegria”.
  3. “Anco” é uma forma antiga de “anche” (também).

Quarentena

Leopardi se mudou para a vila em Torre del Greco buscando, acima de tudo, uma quarentena, para ficar longe o suficiente da epidemia de cólera que se espalhou em Nápoles em 1836.

A colina onde a casa foi construída é localizada em uma área caracterizada pelo acúmulo de fluxos de lava e das giestas que inspiraram o poeta.

Escrito em 1836, o poema foi publicado depois da morte do autor, em 1845, em uma edição organizada e corrigida, seguindo o último entendimento do autor, sob os cuidados do amigo Antonio Ranieri.

Villa delle Ginestre Vesúvio Leopardi Giacomo
Villa delle Ginestre

Villa delle Ginestre tornou-se um ponto turístico, muito aproveitado também por residente durante planejamentos de excursões escolares. Além da vista para o Vesúvio e dos jardins com giestas, é possível visitar e adentrar também a casa onde Leopardi viveu por um breve período.

Vesúvio Leopardi Giacomo
Giacomo Leopardi

Uma das características da alma italiana é ter uma formação geológica e uma história que mesclam infortúnios e desafios civilizatórios determinantes para a construção de uma identidade resiliente, corajosa e criativa. Naturalmente, também através da poesia encontraremos essas marcas que podem inspirar nossas ações e nossos pensamentos.

Após uma leitura completa dos versos, é notável o convite que Leopardi nos faz para olharmos na direção da beleza que há na fragilidade da flor e da vida que desabrocha tão perto dos perigos – como no caso do perigo de erupções do vulcão que já havia destruído Pompeia e Herculano em 79 d.C. Assim o poeta nos posiciona para olharmos para a nossa própria posição diante da natureza e, também, para os nossos valores cegos de progresso.

Se aceitarmos o fato de que não estamos acima da natureza, o bom cultivo de tudo aquilo que nos mantém em comunhão com a natureza é a única resposta consciente que podemos dar em nosso dia a dia.

A terra que é destruída pela lava é também a terra que se torna especialmente fértil para o cultivo de alimentos. É a terra que vibra com o amarelo de uma flor e que inspira o olhar da poesia. É a terra que nos convida a viajar e a aprender os sons e os significados que outro idioma nos guarda como herança.

Buongiorno ou Buona Giornata: como cumprimentar em italiano

Buongiorno ou Buona Giornata: como cumprimentar em italiano

Por: Paola Baccin
Se você acompanha os artigos que estamos publicando, deve ter percebido que língua e
cultura são inseparáveis. Aprender verbos, artigos, pronomes, sem inserir esses elementos
linguísticos em una cornice culturale [moldura cultural] nos obriga a decorar e repetir sem
compreender perfeitamente quando usá-los.

Hoje vamos apresentar três verbos: essere [ser e estar], chiamarsi [chamar-se] e venire
[vir],
mas vamos fazê-lo falando sobre comunicação intercultural.


A diferença entre o tratamento formal e informal (trattamento formale e informale) vai
retornar várias vezes nos nossos artigos, porque a escolha inadequada de um ou de outro pode
prejudicar a comunicação, uma vez que atinge o nosso interlocutor de maneira involuntária.

Imaginem que você, já não mais um adolescente, esteja andando pela rua e uma pessoa
se dirija a você com um: fala aí, vei, onde fica o metrô? A comunicação existiu, provavelmente
você entendeu a pergunta e sabe responder. O problema está no modo como você se sentiu ao
ser abordado dessa forma.


Você lembra da primeira vez que um desconhecido lhe tratou por senhor ou senhora?
Nesse caso, também, provavelmente percebemos que o tratamento era inadequado, já que ainda
nos considerávamos jovens demais e não estávamos prontos para ouvir. A comunicação existiu,
mas a nossa “impressão” sobre a pessoa com quem estávamos falando foi prejudicada.


A nossa visão de mundo determina o que consideramos “normal” na comunicação. No
Brasil, achamos “normal” pedir uma informação usando a frase: “Oi, desculpe, você pode me
dizer…” ou então, “oi, dá licença, você sabe…”, se nos dirigimos a uma pessoa muito mais velha
podemos escolhemos dizer algo como “bom dia, o senhor (a senhora) sabe…”.


Na Itália a escolha do tratamento é um pouco mais complexa. Os materiais didáticos,
geralmente nos ensinam que há o “trattamento formale” e o “trattamento informale”, mas há
também o que eu chamo de “media formalità”.


Il trattamento informale
Para o trattamento informale usamos o pronome tu. Os verbos e os pronomes ficam na
segunda pessoa e usamos o primeiro nome:

Verbo essere
Tu sei italiano? [Você é italiano?]
Sei, tu, Pedro? [É você, Pedro?]
Sei già stato in Italia? [Você já esteve na Itália?]

Verbo chiamarsi
Ti chiami Pedro de Oliveira? [Você se chama Pedro de Oliveira?]
Hai chiamato tua moglie? [Você telefonou para a sua esposa?]

Verbo venire
Vieni da Salvador di Bahia? [Você vem de Salvador da Bahia?]
Sei venuto in macchina o in treno? [você veio de carro ou de trem?]

O trattamento informale é usado quando falamos com amigos, colegas, entre jovens,
quando um adulto fala com uma criança ou com um adolescente. E, nesses casos, corresponde
ao uso do “tu” ou do “você” em português.

Em italiano o trattamento informale é empregado quando falamos com parentes, não
importa a idade. No Brasil, há famílias nas quais os jovens tratam o pai, o avô, os tios, a mãe,
a avó, as tias por “o senhor, a senhora”. Na Itália, todos os familiares são considerados íntimos,
portanto, o tratamento será sempre informal:

Tratamento informal em italiano
Papà, mi puoi aiutare a fare i compiti?
[Papai, você (o senhor), pode me ajudar a fazer a tarefa?]


Outra diferença interessante é que, enquanto no Brasil, nas orações, usamos o pronome
“vós”, na Itália emprega-se o tu, já que Deus é pai e Maria é mãe, usa-se o trattamento informal:


Padre nostro, che sei nei cieli…
[Literalmente: Pai nosso, você que está no céu…]
Ave Maria, piena di grazia, il Signore è con te …
[Literalmente: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo…]


Até há alguns anos, era impensável que um commesso [vendedor de loja] ou um barista
tratasse um cliente usando tu. Hoje, observa-se que, aos poucos, essa é a escolha para reduzir a
distância e indicar que há “uma amizade, uma cumplicidade” com o cliente. Ao entrar em uma
loja, ou um bar na Itália você pode ouvir diferentes formas de tratamento:

Tratamento formal em italiano

Tratamento formal: Buongiorno, signora (signore), posso aiutarla?
Tratamento informal: Buongiorno, serve aiuto? Posso aiutarti?

Em caso de dúvida, se você quer reduzir as distâncias, usando o trattamento informale,
pode sugerir no momento da apresentação:

Possiamo darci del tu?
Posso darti del tu?
[Posso tratá-lo por você?]


Mas, atenção! Nunca use, nem sugira, o tratamento informal quando se dirigir a
policiais, médicos, enfermeiros, professores, advogados, engenheiros, funcionários públicos,
faxineiros, camareiras e outras pessoas que estejam em um papel profissional ou oficial. Nesses
casos, ou na dúvida, use sempre o trattamento formale.
Il trattamento formale
Para o trattamento formale usamos o pronome Lei e nos dirigimos à pessoa com quem
estamos falando, usando o sobrenome e, eventualmente, o título. Os verbos e os pronomes ficam
na terceira pessoa.
Muitos estudantes confundem o pronome pessoal lei e o pronome de tratamento Lei.
O primeiro, lei, é usado apenas para falar de (sobre) pessoas do gênero feminino e corresponde
a “ela”, em português. Para falar de ou sobre pessoas do gênero masculino usamos lui [ele]:


Lei è mia figlia Anna e lui è mio figlio, Pietro.
[Ela é a minha filha Ana, e ele é o meu filho Pietro.]
Mia nonna è italiana e mio nonno è spagnolo.
Lei è di Belluno e lui è di Madrid.
[Minha avó é italiana e o meu avô é espanhol.
Ela é de Belluno e ele, de Madri.]
O pronome de tratamento Lei não é usado para falar sobre alguém, mas para se dirigir
a alguém, portanto, assim como o tu, é usado tanto para o masculino, quanto para o feminino.
Em português, corresponde a “o senhor”, “ a senhora”:
Verbo essere
Lei è italiano? [O senhor é italiano?]
Lei è italiana? [A senhora é italiana?]
Lei è Pedro de Oliveira? [O senhor é o Pedro Oliveira?]
È già stato in Italia? [O senhor (a senhora) já esteve na Itália?]
Verbo chiamarsi
Lei si chiama Pedro de Oliveira?
[O senhor se chama Pedro de Oliveira?]
Lei ha chiamato Sua moglie?
[O senhor telefonou para a sua esposa?]
Verbo venire
Viene da Salvador di Bahia?
[O senhor (a senhora) vem de Salvador da Bahia?]
È venuto in macchina o in treno?
[O senhor (a senhora) veio de carro ou de trem?]
No Brasil, há alunos que tratam o professor de “você” e o professor sempre trata o aluno
por “você”. Na Itália, em sala de aula, e na relação entre docentes e alunos, emprega-se sempre
o tratamento formal.
O aluno brasileiro de italiano, pensando em como funciona a língua portuguesa, costuma
usar signor e signora como pronome de tratamento. Atenção: Lei já significa “o senhor” ou “a
senhora”:
Buongiorno, prego, si accomodi.
[Bom dia, senhor(a), por favor, fique à vontade.]
Em situações de alta formalidade pode-se adicionar signore(a) à frase.
Buongiorno, signore(a), prego, si accomodi.
[Bom dia, senhor(a), por favor, fique à vontade.]
Isso equivale a adicionar o título da pessoa com quem estamos falando. No Brasil, à
parte os títulos “professor” e “doutor”, não usamos as profissões quando nos dirigimos a uma
pessoa. Em italiano, para mostrar respeito, pode-se fazê-lo:
Buongiorno, avvocato, prego, si accomodi. [advogado]
Buongiorno, architetto, prego, si accomodi. [arquiteto]
Buongiorno, ragioniere, prego, si accomodi. [contador]
Buongiorno, ingegnere, prego, si accomodi. [engenheiro]
Buongiorno, onorevole, prego, si accomodi. [deputado ou senador]
La media formalità
Vimos que il tratamento informale (tu) é empregado para falar com pessoas amigas,
íntimas, jovens e com a família. Il tratamento formale (Lei) é usado para demonstrar respeito,
não apenas em relação à idade do interlocutor, mas ao seu cargo, por isso devemos lembrar de
usar sempre o Lei em relações profissionais.
Para se dirigir a uma pessoa com a qual não temos intimidade, à qual queremos
demonstrar respeito, mas, em relação à qual queremos, ao mesmo tempo, diminuir a distância,
podemos usar a media formalità. Usamos a terceira pessoa Lei, mas com o primeiro nome.
È o caso de suocero e suocera [sogro(a)]. O genro (genero) ou a nora (nuora) podem
optar pela media formalità, ou seja usar o primeiro nome e os verbos na terceira pessoa.

Tratamento formal para conhecidos em italiano


Suocero: Ciao, Francesco, come stai?
Genero: Salve, Bruno, bene, grazie.
Lei piuttosto, come sta? Le sono passati i giramenti di testa?
[Sogro: Oi Francesco, como vai?
Genro: Oi Bruno, bem, obrigado. Mas e o senhor? Melhorou da tontura?]

I saluti

Na língua falada, para cumprimentar, usamos as seguintes fórmulas que vão do registro
mais formal ao mais informal. Aqui, cabe distinguir as fórmulas para cumprimentar quando se
encontra alguém ou para se despedir.
Quando encontramos alguém podemos dizer buongiorno ou buonasera.
A divisão entre giorno e sera não é precisa. O primeiro é usado durante o dia todo,
enquanto há luz, por isso, depende também da estação do ano. No verão podemos dizer
buongiorno até as cinco da tarde, enquanto no inverno, quando os dias são mais curtos, às 4
horas já se pode dizer buonasera. Não se usa buonanotte para cumprimentar quando se encontra
alguém, pois é uma fórmula de despedida.
Existe também o buon pomeriggio, que pode ser usado após o meio-dia. É muito menos
frequente do que buongiorno.
Além dessas duas expressões, na media formalità podemos empregar também salve e
no registro informale, ciao ou salve que correspondem ao nosso “oi” ou “olá”.

Saudação em italiano

Para se despedir, o leque de expressões é muito maior. No tratamento formal e na média
formalidade emprega-se: arrivederla ou arrivederci que corresponde ao português “até logo”.
Além dessas duas, você pode escolher muitas outras formas para se despedir que podem ser
usadas em todos os registros: buona giornata, buon pomeriggio, buona serata, buonanotte.
Se encontramos pessoas que estão realizando uma atividade, como amigos em um
restaurante ou na fila do teatro, podemos nos despedir dizendo: buon prosseguimento.
No âmbito da media formalidade e da informalidade podemos dizer, também: a presto,
alla prossima.
Para despedidas informais temos ainda: ciao, ci vediamo, ci sentiamo.
Lembre-se de não usar ciao para se despedir de profissionais, funcionários e todas as
pessoas com as quais deve-se usar o tratamento formal.

Scusa ou scusi?

Essa é uma dúvida que se apresenta sempre e que, no momento da comunicação, deve
ser resolvida rapidamente.
Scusa – trattamento informale
Scusi – trattamento formale

Verbo essere

O verbo essere corresponde aos verbos “ser” e “estar” em italiano, veja nos exemplos
abaixo:
João: Sono brasiliano e tu di dove sei?
Vera: Anch’io sono brasiliana, di Brasilia e sono qui in Italia per motivi di lavoro.
João: Sono contento di averti conosciuta, perché sono qui da un mese
e non ho fatto ancora molte amicizie.
Vera: Sei in Italia per la prima volta?
João: Eu sou brasileiro e você de onde é?
Vera: Eu também sou brasileira, de Brasília e estou aqui na Itália a trabalho.
João: Estou feliz por tê-la conhecido, estou aqui há um mês
e ainda não fiz muitas amizades.
Vera: Você está na Itália pela primeira vez?
Presente
Io sono Francesco.
[Eu sou o Francesco.]
Io sono in Italia per lavoro.
[Eu estou una Itália a trabalho.]
Tu sei bella.
[Você é bonita.]
Tu sei contenta?
[Você está contente?]
Lui è brasiliano.
[Ele é brasileiro]
Lui è in Brasile.
[Ele está no Brasil.]
Noi siamo autisti.
[Nós somos motoristas.]
Noi siamo stanchi di lavorare.
[Estamos cansados de trabalhar.]
Voi siete amici?
[Vocês são amigos?]
Voi siete a casa?
[Vocês estão em casa?]
Loro sono marito e moglie.
[Eles são marido e mulher.]
Loro sono ammalati.
[Eles estão doentes.]
No passado os verbos essere [ser, estar] e stare [ficar] têm a mesma forma e, em alguns
exemplos, podem corresponder ao verbo “ir” em português, sobretudo a frase “você já foi à
Itália?” corresponde a “sei mai (già) stato in Italia?”:
Passato


Verbo essere Verbo stare

Io sono stato in Italia l’anno scorso. Io sono stato a casa, non sono uscito.
[Eu estive (fui) à Itália o ano passado.] [Eu fiquei em casa, não saí.]
Tu sei mai stata in Sicilia?
[Você ja esteve (foi) à Sicilia?]
Tu sei stata bene a casa loro?
[Você ficou bem na casa deles?]

Verbo chiamarsi

O verbo chiamarsi corresponde ao verbo “chamar-se” e na sua forma não reflexiva
corresponde também a “telefonar”. Todos os verbos reflexivos pedem o auxiliar essere nos
tempos compostos como o passato.

Presente Passato
Mi chiamo Mi sono chiamato(a)
Ti chiami Ti sei chiamato(a)
Si chiama Si è chiamato(a)
Ci chiamiamo Ci siamo chiamati(e)
Vi chiamate Vi siete chiamati(e)
Si chiamano Si sono chiamati(e)

Verbo venire

O verbo venire corresponde ao verbo “vir” pede o auxiliar essere nos tempos compostos
como o passato e deve ser considerado sempre em relação ao verbo andare. Em outro artigo
trataremos especificamente do emprego desses dois verbos que, em muitos casos, não
corresponde ao português.
Presente/ Passato

Vengo spesso in Italia. Sono venuto(a) due volte in Italia.

Vieni con me al supermercato? Sei venuto(a) anche tu al supermercato?

Viene anche lei a Roma? È venuto(a) a Roma in treno.

Veniamo domani. Siamo venuti(e) ieri.

Venite dalla nonna? Siete venuti(e) dalla nonna insieme?

Vengono stamattina. Sono venuti(e) ieri mattina.

Texto: Paola Baccin
Desenhos: Airam Ribeiro
Sobre a autora: Paola Baccin é docente nos cursos de graduação e pós-graduação em língua e
literatura italiana da Universidade de São Paulo.
Diferenças entre a casa italiana e a casa brasileira  (Primeira Parte)

Diferenças entre a casa italiana e a casa brasileira (Primeira Parte)

Por: Paola Baccin

No artigo “casa dolce casa” falamos sobre como alugar uma casa na Itália. Hoje falaremos sobre as características da casa italiana. Quais as surpresas que um brasileiro pode encontrar em uma casa italiana e o que causa estranheza aos italianos que visitam as casas brasileiras. Por fim veremos dois verbos e suas conjugações completas: abitare, vivere.

Todos os aspectos da vida humana são tocados e alterados pela cultura: personalidade, linguagem, modos de pensar, de expressar sentimentos, de se mover, de solucionar problemas; a maneira de construir e de planejar cidades e sistemas de transportes, o sistema econômico e político e as soluções habitacionais. A cultura é determinada pelos valores considerados importantes ou fundamentais para uma sociedade como espaço e tempo; conceito de público e privado; importância da hierarquia; demonstração de status; manifestação de respeito; conceito de família; valor maior ou menor dado à honestidade e a esperteza como valor ou como delito, entre tanto outros.

A linguagem reflete todos esses aspectos. Desse modo, a simples tradução palavra – palavra, não é suficiente para compreender o significado que um determinado termo tem em uma cultura.

A palavra “casa” em português, corresponde a casa em italiano, essa aparente simplicidade na tradução poderia levar os falantes das duas línguas a considerar que existe uma equivalência perfeita:

O dicionário brasileiro Caldas Aulete define:

Casa 1. Construção, ger. com um ou poucos andares, com forma e tamanho diversos, destinada a habitação; (…)

2. Local onde se vive; LAR

Casas brasileiras
Casas Brasileiras

O dicionário italiano Treccani define:

Casa 1. Costruzione eretta dall’uomo per propria abitazione; più propriam., il complesso di ambienti, costruiti in muratura, legno, pannelli prefabbricati o altro materiale, e riuniti in un organismo architettonico rispondente alle esigenze particolari dei suoi abitatori (è, come abitazione, termine generico, che sostituisce talora termini più particolari, come palazzopalazzinavillavillino, ecc.)

Casas Italianas
Casas Italianas

Em italiano, não existe a palavra lar. Casa significa tanto a construção, quanto a habitação, tanto que a frase “lar doce lar”, em italiano equivale a “casa dolce casa”.

Realizei uma pesquisa com mais de 500 entrevistados entre brasileiros e italianos sobre esse tema e gostaria de compartilhar aqui e nos próximos artigos, alguns dos resultados obtidos.

Há um provérbio italiano que resume o sentimento que geralmente se tem sobre a própria casa: casa mia, casa mia, per piccina che tu sia tu mi sembri una badia [casa minha, casa minha, mesmo pequena, para mim você parece uma abadia]. 

Esse sentimento pode ser estendido para o próprio bairro, a própria cidade, o próprio país. No âmbito da percepção, não há certo ou errado, o apreço ou a rejeição são sentimentos que acabam surgindo em uma situação de contato intercultural.

Alguns participantes declaram terem consciência de que cada país encontra soluções específicas para a sua realidade:

La domanda è assurda, perchè nel mondo ci sono situazioni diversissime. ( )É uma pergunta absurda, porque no mundo há situações muito diferentes.
Come potrei descrivere la tipica casa brasiliana? Ma esiste, poi, una tipica casa brasiliana? Perché se dico tipica la devo in qualche modo distinguere da una tipica casa, mettiamo, italiana, francese, americana, giapponese… ce ne saranno alcune più ‘tipiche’ di altre? E la tipica casa di San Paolo, sarà più o meno tipica della tipica casa di Rio, o di Salvador, o dell’interno dello stato? Mà! Comunque, cerco di ritrovare il mio sguardo di venti anni fa, fresca fresca di arrivo a San Paolo, per ricordarmi quello che più mi colpì nelle case brasiliane.( )Como poderia descrever a típica casa brasileira? Mas existe uma típica casa brasileira? Porque se digo típica devo, de alguma forma, distingui-la de uma típica casa, digamos, italiana, francesa, americana, japonesa… haverá algumas mais “típicas” do que outras? E a típica casa de São Paulo, será mais ou menos típica do que a típica casa do Rio, ou de Salvador, ou do interior do Estado? Não sei! Em todo o caso, procuro reencontrar o meu olhar de vinte anos atrás, bem fresquinha, recém-chegada em São Paulo, para lembrar daquilo que mais me impressionou nas casas brasileiras.

As declarações são sempre frutos da percepção subjetiva, no entanto, algumas “impressões” se repetem, demonstrando que se trata de um aspecto compartilhado da cultura. Provavelmente, ao ler os depoimentos, você vai se reconhecer e perceber que, apesar da individualidade, há elementos em comum que permitem que se fale de “casa italiana” e “casa brasileira”.

Vejamos o que italianos responderam quando perguntados sobre a característica das casas italianas e brasileiras:

L’italiano dentro casa manifesta al mondo esterno i propri sentimenti intimi: parla, litiga, ride, piange e cucina e il vicino che passa per strada lo sa, come canta anche Francesco Guccini in Lettera: “All’una in punto si sente il suono acciottolante che fanno i piatti, le tivù sono un rombo di tuono per l’indifferenza scostante dei gatti”. ( )O italiano dentro de casa manifesta ao mundo exterior os seus próprios sentimentos íntimos: fala, briga, ri, chora e cozinha e, como já cantava Francesco Guccini, na canção Lettera, o vizinho que passa pela rua, sabe que: ‘à uma em ponto, se ouve o barulho dos pratos, as tevês são como uma trovoada para a indiferença esquiva dos gatos’.
In una casa brasiliana ci si può perdere, anche se è piccola, perché è divisa in meandri, corridoi angusti, muri, muretti, rientri che la casa italiana non conosce. ( )Em uma casa brasileira, mesmo pequena, pode-se perder, porque é dividida em meandros, corredores estreitos, muros, murinhos, reentrâncias que a casa italiana não conhece.
In Brasile: ci sono un sacco di bagni e sono minuscoli, i frigoriferi sono immensi, le cucine e i bagni sono piastrellati fino al tetto, non c’è il riscaldamento, le finestre delle case hanno le inferriate, la stanza più importante è la sala dove non manca mai il divano e la tele, a volte si ha l’impressione che la casa sia più un dormitorio che un posto in cui trascorrere piacevolmente del tempo, le case contengono pochi soprammobili e più oggetti d’utilità.( )No Brasil: há um monte de banheiros, que são minúsculos; a geladeiras são imensas; as cozinhas e os banheiros são azulejados até o teto; não tem aquecimento; as janelas das casas têm grades; o cômodo mais importante é a sala, onde tem sempre um sofá e a TV. Às vezes se tem a impressão de que a casa seja mais um dormitório do que um lugar para passar agradavelmente o tempo, as casas têm poucos enfeites e mais objetos utilitários.

Ao escolher a palavra casa, independentemente de seu contexto, tocam-se valores culturais fundamentais relativos ao espaço, ao tempo, à diferença entre público e privado, a questões relacionadas ao status e à composição familiar, a disposição e o valor dos objetos, o cuidado com os odores (cozinha e banheiro), a adaptação ao clima, entre outros.

Nos próximos artigos valaremos sobre alguns ambientes que merecem um destaque especial e sobre a limpeza das casas. Hoje, faremos um breve panorama de algumas características.

A maioria das casas italianas tem apenas uma porta de entrada que dá para um hall (em italiano, no feminino: la hall), enquanto as casas brasileiras têm duas entradas: a porta da sala e a porta da cozinha. No Brasil, as duas portas são comuns mesmo em apartamentos, algumas com acessos separados para elevadores sociais e de serviço. Na Itália, sobretudo nos apartamento, essa distinção não existe.

O hall de entrada é importante para deixar casacos, cachecóis, sapatos molhados antes de se entrar na sala, já que durante uma grande parte do ano (primavera, outono e inverno) é preciso realizar essa operação antes de sair de casa e quando se retorna.

A casa italiana é dividida em uma zona giorno que compreende a sala, a cozinha e o banheiro, e uma zona notte que compreende os quartos, ou seja, a divisão da casa é em duas partes, uma parte social e uma parte íntima.

No Brasil, a casa é dividida em área social, área de serviço e área íntima. Essa inclusão de uma parte “de serviço” que não é aberta às visitas e que, em alguns casos, é destinada apenas aos empregados, surpreende o italiano, que, mesmo pertencente à classe média alta, não tem “empregados”. Veja um dos depoimentos sobre essa divisão:

Parlando di appartamenti, la diversità che un italiano nota subito nella pianta [della casa brasiliana] è l’eterna presenza del “quarto da empregada”. Come italiana non abituata alla domestica, io lo detesto: non so cosa farmene. ( )E por falar em apartamentos, a diferença que um italiano nota já na planta, é a eterna presença do “quarto da empregada”. Como italiana não acostumada a ter uma empregada, eu o detesto: não sei o que fazer com ele.

Hoje, na Itália, muitas famílias criam “la camera della badante”, o quarto para a cuidadora de idosos. A presença de um elevador de “serviço” e uma “porta de serviço”, porém, não é comum na Itália.

A área de serviço é um espaço fundamental na casa brasileira, praticamente inexistente nas casas italianas. Muitos brasileiros não conseguem compreender onde lavar e estender a roupa, já que não há um tanque, e a máquina de lavar fica na cozinha ou no banheiro.

Bagno e “banheiro” também seriam duas palavras que aparentemente poderiam ser equivalentes perfeitos. No entanto, é exatamente essa “falsa equivalência” que pode causar no turista brasileiro um desconforto ou até mesmo uma rejeição da cultura italiana.

O banheiro tem funções e “status” diferentes nas duas culturas. Para o brasileiro é um espaço íntimo, não compartilhado, confirmado pela existência de suítes (um banheiro em cada quarto), lavabo para os hóspedes e pelo banheiro da empregada. As janelas do banheiro geralmente são pequenas, no alto para oferecer a máxima privacidade.

Na Itália, o banheiro é um espaço compartilhado para a higiene, ou seja, em locais públicos encontramos muito frequentemente banheiros unissex. A família e os hospedes usam o mesmo banheiro. Até há alguns anos, havia hotéis com banheiro compartilhado por mais de um quarto: havia camere con e senza banho.

Muitos banheiros ainda têm a vasca da bagno [banheira] e para tomar banho é preciso ficar em pé dentro da banheira e lavar-se com a ducha, e o bidê faz parte da higiene íntima diária das famílias italianas. No banheiro pode haver janelas grandes, que permitem ver e ser visto, a privacidade é obtida pelas cortinas.

Banheira italiana
la vasca da bagno

A maioria das casas, sobretudo os apartamentos, não têm lavanderia, a máquina de lavar fica no banheiro, roupas delicadas são lavadas à mão em uma bacia. Para a limpeza do chão, a água suja é jogada no vaso sanitário e enche-se o balde com água limpa na torneira da pia ou da banheira.

Nos dias quentes as roupas podem ser estendidas no terraço (terrazzi e balconi) ou pendurada para fora da janela. Nos dias frios, pode ser estendida dentro de casa, mas muitas famílias optam por comprar uma secadora.

Varal italiano
lo stendino

VERBOS

Deixamos a conjugação de dois verbos relativos à casa: “morar e viver”. O primeiro é regular, pede o auxiliar avere, o segundo tem a forma do particípio irregular “vissuto” e aceita tanto o auxiliar essere quanto o auxiliar avere:

Sono brasiliano, ma vivo (abito) da tanti anni in Italia.

[Sou brasileiro, mas vivo (moro) na Itália há muitos anos.]

Ho abitato (sono vissuto) in Italia per due anni.

[Morei (vivi) na Itália por dois anos.]

Ho vissuto una bell’esperienza.

[vivi uma bela experiência.]

A Accademia della Crusca explica que tradicionalmente o verbo vivere no sentindo de morar deveria ser conjugado com o verbo essere, se o verbo viver tem um complemento (vivi uma bela vida), então deveríamos usar o auxiliar avere. Hoje, aceita-se o auxiliar avere em ambos os casos.

Modo infinito (Presente): ABITARE(Passato): Avere abitato
Modo indicativo
PresentePassato prossimoFuturo sempliceFuturo anteriore
(io) abito (tu) abiti (lui/lei) abita (noi) abitiamo (voi) abitate (loro) abitanoHo abitato Hai abitato Ha abitato Abbiamo abitato Avete abitato Hanno abitatoAbiterò Abiterai Abiterà Abiteremo Abiterete AbiterannoAvrò abitato Avrai abitato Avrà abitato Avremo abitato Avrete abitato Avranno abitato
ImperfettoTrapassato prossimoPassato remotoTrapassato remoto
Abitavo Abitavi Abitava Abitavamo Abitavate AbitavanoAvevo abitato Avevi abitato Aveva abitato Avevamo abitato Avevate abitato Avevano abitatoAbitai Abitasti Abitò Abitammo Abitaste AbitaronoEbbi abitato Avesti abitato Ebbe abitato Avemmo abitato Aveste abitato Ebbero abitato
Modo condizionaleModo imperativo
PresentePassatoAffermativoNegativo
Abiterei Abiteresti Abiterebbe Abiteremmo Abitereste AbiterebberoAvrei abitato Avresti abitato Avrebbe abitato Avremmo abitato Avreste abitato Avrebbero abitato— Abita (tu) Abiti (Lei) Abitiamo (noi) Abitate (voi) Abitino (loro)— Non abitare (tu) Non abiti (Lei) Non abitiamo (noi) Non abitate (voi) Non abitino (loro)
Modo congiuntivo
PresentePassatoImperfettoTrapassato
Che io abiti Che tu abiti Che lui abiti Che noi abitiamo Che voi abitiate Che loro abitinoChe io abbia abitato Che tu abbia abitato Che lui abbia abitato Che noi abbiamo abitato Che voi abbiate abitato Che loro abbiano abitatoChe io abitassi Che tu abitassi Che lui abitasse Che noi abitassimo Che voi abitaste Che loro abitasseroChe io avessi abitato Che tu avessi abitato Che lui avesse abitato Che noi avessimo abitato Che voi aveste abitato Che loro avessero abitato
Modo gerundioModo participio
PresentePassatoPresentePassato
AbitandoAvendo abitatoAbitanteAbitato
Modo infinito (Presente): VIVERE(Passato): Avere vissuto
Modo indicativo
PresentePassato prossimoFuturo sempliceFuturo anteriore
(io) vivo (tu) vivi (lui/lei) vive (noi) viviamo (voi) vivete (loro) vivonoHo vissuto Hai vissuto Ha vissuto Abbiamo vissuto Avete vissuto Hanno vissutoVivrò Vivrai Vivrà Vivremo Vivrete VivrannoAvrò vissuto Avrai vissuto Avrà vissuto Avremo vissuto Avrete vissuto Avranno vissuto
ImperfettoTrapassato prossimoPassato remotoTrapassato remoto
Vivevo Vivevi Viveva Vivevamo Vivevate VivevanoAvevo vissuto Avevi vissuto Aveva vissuto Avevamo vissuto Avevate vissuto Avevano vissutoVissi Vivesti Visse Vivemmo Viveste VisseroEbbi vissuto Avesti vissuto Ebbe vissuto Avemmo vissuto Aveste vissuto Ebbero vissuto
Modo condizionaleModo imperativo
PresentePassatoAffermativoNegativo
Vivrei Vivresti Vivrebbe Vivremmo Vivreste VivrebberoAvrei vissuto Avresti vissuto Avrebbe vissuto Avremmo vissuto Avreste vissuto Avrebbero vissuto— Vivi (tu) Viva (Lei) Viviamo (noi) Vivete (voi) Vivano (loro)— Non vivere (tu) Non viva (Lei) Non viviamo (noi) Non vivete (voi) Non vivano (loro)
Modo congiuntivo
PresentePassatoImperfettoTrapassato
Che io viva Che tu viva Che lui viva Che noi viviamo Che voi viviate Che loro vivanoChe io abbia vissuto Che tu abbia vissuto Che lui abbia vissuto Che noi abbiamo vissuto Che voi abbiate vissuto Che loro abbiano vissutoChe io vivessi Che tu vivessi Che lui vivesse Che noi vivessimo Che voi viveste Che loro vivesseroChe io avessi vissuto Che tu avessi vissuto Che lui avesse vissuto Che noi avessimo vissuto Che voi aveste vissuto Che loro avessero vissuto
Modo gerundioModo participio
PresentePassatoPresentePassato
VivendoAvendo vissutoViventeVissuto
Sobre a autora: Paola Baccin é docente nos cursos de graduação e pós-graduação em língua e literatura italiana da Universidade de São Paulo.