Aprender a falar italiano não depende apenas de aulas e exercícios que você faz quando está estudando. Algo que falamos bastante aqui na ITALICA é sobre a importância das estratégias de aprendizagem inseridas no cotidiano. A principal delas, que já mencionamos em uma das nossas lives, é a de imersão e exposição constante a conteúdos que estejam em italiano. Mas, antes mesmo que essas ações iniciem, o que pode ser descoberto, por você estudante do italiano, é a maneira como essa imersão se adequa melhor ao seu cotidiano, e para isso, um elemento é essencial para prosseguirmos: seu estilo de aprendizagem.
Stile di apprendimento
Já ouviram falar desse termo? Os estilos de aprendizagem indicam como cada estudante elabora e internaliza informações e novas habilidades. E isso pode variar de pessoa para pessoa, por isso é natural que existam diferentes abordagens ou percursos para aprender.
Saber quais são esses estilos nos ajuda a conduzir a nossa aprendizagem com mais eficiência, aproveitando melhor o tempo que temos disponível e potencializando nossos pontos fortes. E tenha em mente que o seu estilo também pode variar ao longo da sua vida, ou mesmo ao longo da semana! É possível que você se identifique com um estilo em geral, e mesmo assim haver dias em que você se enquadre melhor em um ou em outro dos estilos que vamos citar adiante. De qualquer maneira, é comum que algum estilo de aprendizagem prevaleça sobre os outros.
Vamos fazer um quiz rápido?
Faremos um teste básico, que vai envolver os seus outros sentidos além da visão, por isso gravamos primeiro um vídeo explorando as imagens e os sons que podem te indicar o seu estilo.
Vamos iniciar aqui e você poderá continuar o teste a partir do vídeo que publicamos no nosso canal no YouTube (link ao final do artigo). E depois de assistir, aproveite para acessar também o Questionari Per La Individuazione Dello Stile Di Apprendimento, que avaliará em detalhes as suas inclinações.
Para começar o nosso exercício do vídeo, vou dizer uma palavra. Pense sobre ela por algum tempo. Aqui vai:
Café — pense na palavra “café” e feche um pouco os olhos.
Alguma outra palavra veio à mente? Alguma imagem? Algum som?
No vídeo que publicamos, você poderá continuar o teste, enxergando e ouvindo os estímulos que indicam seu estilo de aprendizagem. É só clicar aqui para assistir!
Os estilos de aprendizagem
Dependendo de como você experimentou o breve exercício, será possível perceber suas tendências entre os três seguintes tipos, que vimos no vídeo:
Visivi
Pessoas que têm o estilo mais visual de aprendizagem, podem preferir observar, fazer anotações, criar tabelas e resumos, criar associações por meio de imagens, que juntem as palavras à realidade visível de cada contexto. Nesse caso, os conteúdos visuais das aulas, dos livros e de filmes (e até das legendas colocadas em italiano) podem ajudar a fixar os significados de cada novo conhecimento.
Uditivi
Este é o estilo auditivo, portanto canções, podcasts, aulas de conversação e a chance de escutar a própria voz podem potencializar o aprendizado.
Cinestesici
O estilo cinestésico une todos os sentidos que temos, ou seja, até mesmo o olfato, o tato e o paladar podem auxiliar no aprendizado. Esse estilo abrange todas as funções e pode beneficiar as pessoas que aprendam explorando, por exemplo, a culinária italiana e o contato com outras pessoas. Nesse caso, recomendamos atividades mais dinâmicas: fazer jogos reais e mentais, como a lista das compras em italiano, contar em italiano, como as repetições na academia ou qualquer outro número do dia a dia. Pode ser interessante também partilhar o que aprendeu em aula, numa espécie de repetição que auxilia a fixação do conhecimento; para isso, é possível ajudar colegas que estão aprendendo o idioma, ou mesmo tentar ensinar conteúdos de aula a um parente, adulto ou mesmo a uma criança.
Lembre-se: as pessoas não têm um único estilo de aprendizagem, ou seja, não aprendemos de uma só forma. Mas é provável que cada um de nós acabe usando mais um estilo do que os outros dois; são tendências naturais.
ATENÇÃO: isso tudo não significa que você precise usar só as técnicas ligadas ao “seu” estilo. Pelo contrário, é possível aproveitar melhor de todos os estilos se você souber quais são os seus pontos fortes! E assim será possível inclusive saber como se desafiar no contato com os outros estilos de aprendizagem.
É possível aprender um idioma se divertindo, assistindo a filmes e escutando músicas. Essa é uma verdade comprovada diariamente no aprendizado de uma criança. Não é apenas o conteúdo visto em sala de aula que alfabetiza e torna fluentes as crianças de todo o mundo, é também o conteúdo com o qual elas entram em contatoquando estão fora da escola. Por que não aplicaríamos esse mesmo procedimento no nosso processo de aprendizado de uma nova língua durante a vida adulta?
Treinando seu italiano
O primeiro passo para garantir que também você tenha essa experiência concreta de descoberta e aprendizado pode ser resumido numa expressão que já utilizei muitas vezes com os meus alunos: immersione ed esposizione costante!
Isso mesmo, não tem mistério quando se trata de treinar a escuta. Para melhorar a sua capacidade de encontrar mentalmente as palavras que precisa para descrever determinada coisa ou ideia, só mesmo através do que chamamos de imersão e exposição constante. A imersão nos garante o envolvimento necessário com a língua que estamos aprendendo. Qualquer idioma se torna, portanto, mais íntimo e acessível quando nos acostumamos a escutar as palavras de um conteúdo autêntico, isto é: conteúdo feito originalmente na língua que estamos estudando. Trata-se de um produto com as marcas culturais, com o ritmo natural da fala e com uma variedade de expressões muito maior do que aquela que encontraríamos apenas em exercícios ou em conversas de uma sala de aula.
Conteúdos em Italiano
E hoje em dia você conta com muitas ferramentas que tornam esse processo mais prazeroso e pessoal, porque você pode se cercar de conteúdos diversos, de entrevistas de podcast a filmes e séries de produção original da Itália! Essa tarefa de imersão pode acontecer com naturalidade se você selecionar conteúdos que abordem os temas e os tipos de entretenimento que te agradam, que já fazem parte do seu mundo e das necessidades que você tem em outras áreas da sua vida. É possível, portanto, adquirir repertório para aprender os fundamentos da língua enquanto você se diverte!
Por isso, convido você a assistir a uma live que preparamos aqui na ITALICA sobre o tema. Abordamos filmes e séries produzidos na Itália e que estão disponíveis na Netflix. Trata-se então de conteúdos autênticos, com os quais você escutará a pronúncia e o ritmo do italiano dentro de contextos que te ajudarão a assimilar significados e recursos de comunicação sem esforço.
Dicas ITALICA de filmes em italiano
Dividimos essa live em duas partes.
Parte 1
Na primeira parte, tive a companhia de Gabi Salvatto, professora da Squadra ITALICA, que muitos de vocês já conhecem! Além da nossa lista de filmes e séries, também aprofundamos a conversa com detalhes sobre os gêneros cinematográficos e a história por trás do termo “Giallo”, vindo da palavra que significa “amarelo”, mas que também ficou marcada para definir o gênero de filmes de suspense e de tema policial.
Parte 2
Na parte 2, dou continuidade à curadoria da professora Gabi Salvatto. E attenzione: não trago a lista toda para cá pois não se trata apenas de saber quais séries estamos recomendando! Assistir à live é também uma chance de conhecer termos e o vocabulário da área cinematográfica. Te convido a me acompanhar na leitura que destaco nas imagens, notando as sonoridades e o vocabulário usado nas diferentes sinopses de cada um dos filmes e séries que mostro a vocês. É uma chance, desde já, de você ampliar seu conhecimento linguístico.
Lembre-se: o aprendizado sempre acontece da melhor maneira e no melhor ritmo quando garantimos que essa atividade de imersão seja feita com diversão e entretenimento!
Provérbios são especialmente valiosos para se aprender sobre o idioma, a culinária e a cultura italianas. E não se trata simplesmente de aprendermos versões italianas de ditados já conhecidos em outras línguas. É, na verdade, a chance de descobrirmos ideias que não estão registradas em provérbios de nenhum outro idioma!
Provérbios italianos
Para começar, vamos ver um provérbio fácil de se compreender, e que pode ser usado como resposta bem humorada em conversas do cotidiano. Envolve um alimento que, como veremos, está muito presente em outros provérbios italianos, o queijo.
“Anche il groviera ha i buchi e non si lamenta.” (Até o gruyere tem buracos e não reclama.)
Esse provérbio, relativamente novo na longa lista de provérbios italianos, é atribuído ao ator italiano de comédias chamado Totò, conhecido por filmes como I soliti ignoti (Os eternos desconhecidos), de 1958.
Outras centenas de provérbios, porém, datam de séculos atrás e ninguém pode sequer imaginar de quem teria sido a autoria. Alguns não são facilmente traduzíveis porque expressam ideias de contextos que não estão presentes no nosso dia a dia. Veja o desafio de tentar traduzir o seguinte provérbio:
“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”
Se traduzirmos ao pé da letra, fará sentido? Vamos tentar:
Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.
Traduzir não é o suficiente para concluirmos o sentido e o contexto dessa frase. Sem acesso a uma pesquisa detalhada, só nos restaria imaginar, talvez até inventar sentidos. Isso nos aponta uma direção importante. Existe alguma coisa especialmente italiana e histórica nesse e em outros provérbios que surgiram há séculos na Itália? É o que veremos.
Antes de mais nada, é claro que também em italiano encontramos muitos ditados cheios de metáforas, que comunicam aquilo que em português já nos acostumamos a falar quando queremos criar sentidos em variados contextos. Por exemplo:
Cane che abbaia non morde. (Cão que ladra não morde.)
Non tutto il male viene per nuocere. (Há males que vêm para o bem.)
Chi va piano va sano e va lontano. (Devagar se vai longe.)
Chi troppo vuole nulla stringe. (Quem tudo quer, tudo perde.)
Acontece que, no caso de outros muitos provérbios italianos, descobrimos que nem todos são inventados para servir como metáforas úteis em contextos diversos. Alguns ditados seriam registros pontuais sobre um pensamento, sobre uma qualidade, sobre um perigo, sobre os benefícios de uma prática. Podemos encontrar muitos desses valiosos registros no Dicionário de provérbios italianos – 6.000 verbetes e 10.000 variantes dialetais, de R. Schwamenthal e M. L. Straniero. Diante de números tão grandes, é natural então percebermos que a linguagem dos provérbios, desde a Idade Média, também é utilizada para guardar e transmitir a importante herança da culinária italiana.
Estudiosos da área, como Giovanni Ballarini, professor da Universidade de Parma, encontraram mais de 300 expressões idiomáticas e provérbios referentes a alimentos. O que comprova que o ato de comer tornou-se mais do que um fato biológico, mas um ação simbólica na comunicação dos italianos, que se viram capazes de criarem sentido, registrarem conhecimentos e passarem adiante costumes e práticas – em alguns casos até mesmo para garantir boas maneiras no cuidado da saúde, como no seguinte provérbio:
“Il formaggio è cibo sano se ne mangi poco e piano.” (O queijo é um alimento saudável se você comer pouco e devagar.)
Uma curiosidade que Giovanni registrou em seus estudos é que, entre tantas expressões referentes a comida, queijos ocupam um lugar de destaque, com 36 provérbios dedicados a eles.
Essa possibilidade de tornar a alimentação um tema recorrente revela um cuidado e uma sabedoria: frases curtas podiam ser facilmente memorizadas e repassadas de boca em boca, de geração em geração, para então servirem como receitas, destacando qualidades de certos alimentos e fazendo alertas de perigos na alimentação. Um livro que se aprofundou no tema é de autoria de Terence Scully, intitulado The Art of Cookery in the Middle Ages (A arte da culinária na Idade Média), onde foram reunidas centenas de provérbios de conteúdo alimentar da tradição medieval.
Por isso é tão importante notarmos que alguns provérbios podem ter surgido não apenas como metáforas para outros saberes da vida. Alguns que veremos têm características de exaltação de uma prática muito repetida ou de uma atenção aos prazeres de uma boa alimentação.
A sabedoria morava nos provérbios
Dalla tavola non alzarti mai se la tua bocca non ha assaporato il formaggio! (Nunca se levante da mesa se sua boca ainda não provou o queijo!)
A frase acima é uma representação bem humorada de uma prática sendo valorizada, quase como um “bom costume”, uma “etiqueta” da boa refeição e das boas maneiras. Isso significa que a linguagem, por meio da repetição de certas falas, ajuda a construir a identidade de um povo. Também no português, é claro, temos casos em que ouvimos ditados repassados de geração em geração. É como se estivéssemos diante de um guia, escutando as palavras que indicam como é que se deve continuar agindo através dos tempos. No caso da cultura italiana, os provérbios que fazem referência à alimentação demonstram como os conhecimentos acerca dos alimentos eram especialmente valorizados e conservados.
O professor Giovanni Ballarini, em uma de suas notas sobre o assunto, se refere a alguns desses provérbios de queijos como sendo “provérbios-lembretes”, que podiam registrar dicas de culinária, com ensinamentos de truques para a melhor seleção de ingredientes que pudessem garantir o preparo de pratos deliciosos. Outro bom exemplo é: “Formaggio non guasta sapore” (“O queijo não estraga o sabor”).
Assim, diz o professor, os italianos podiam se apresentar como cozinheiros voluntários, exaltando prazeres do paladar, muitas vezes com bom humor, trocando receitas e garantindo a tradição de se partilhar momentos festivos à mesa. O professor também destaca as palavras de Piero Camporesi (historiador e antropólogo italiano, que lecionou literatura italiana na Universidade de Bolonha), que escreveu sobre o valor do provérbio no tempo em que a escolarização não era acessível à vasta parcela da população. Nas palavras do professor, Camporesi diz que “no mundo analfabeto como o camponês, o provérbio condensa o conhecimento do grupo”.
Formaggi per tutti i gusti
Existem tantos provérbios italianos citando alimentos que não seria possível analisar cada um deles aqui, mas vamos finalizar vendo de perto mais três deles, referentes ainda a queijos. E são provérbios que abrem portas para fatos históricos.
“Se la cena non basta alle attese, il formaggio ne paga le spese.”
(Se o jantar não atender às expectativas, o queijo paga a conta.)
Essa pode ser lida literalmente como exaltação do queijo como um elemento do prato que é difícil de errar. Se tudo estiver mal preparado, pelo menos o queijo será saboroso.
“Il formaggio sulla zuppa non guasta mai.”
(Queijo na sopa nunca é demais.)
Essa tem cara de receita. E eu particularmente concordo. Queijo derrete na sopa quentinha e sempre acrescenta sabor especial! Mas é um ditado que nos remete ao tempo medieval e conta sobre um momento em que havia poucos recursos para a alimentação. Na falta de ingredientes, o queijo podia ser a garantia de sabor numa sopa simples.
“Cadere come il cacio sui maccheroni.”
(Cai como queijo no macarrão.)
Teria provérbio de queijo mais italiano do que este? É quase uma lei garantir que não falte um queijo ralado por cima da macarronada. Consigo até ver em câmera lenta. Também podemos imaginar funcionando como metáfora para expressar toda e qualquer coisa que “cai bem”, uma feliz coincidência do dia a dia, que completa uma situação e cai tão bem quanto um queijo no macarrão.
Mas também podemos descobrir nesse provérbio as origens do consumo de massa em Nápoles. O maccheroni era cozido na rua e comido com as mãos. E qual era o tempero jogado diretamente sobre a massa? O queijo. O complemento essencial.
“Formaggio e ricotta fanno le leggi storte.”
(Queijo e ricota fazem as leis tortuosas.)
Nessa aqui, confesso, não vou nem me arriscar. Deixo para vocês como desafio para imaginação. O que será que poderia significar?!
Agora, para compensar o mistério desse último provérbio e falarmos do sabor do formaggio e da ricotta, aproveite para viajar comigo e conhecer de perto justamente uma produção de formaggio na zona de Chianti, na Toscana! É só clicar para assistir nossa descoberta das etapas de produção de queijo artesanal, do formaggio fresco e da ricotta!
Buona visione!
A presto
Fontes
(Aproveite para continuar sua leitura em italiano!)
Existe um tomate especialmente italiano, que só pode ser cultivado em um solo específico da Itália. É o chamado “pomodorino del piennolo del Vesuvio”, também conhecido apenas como “pomodorino vesuviano”.
“Piennolo” é uma referência ao método centenário de cultivo dos tomates, que, após a colheita, são pendurados em cachos, presos em cordas de cânhamo. “Piennolo” significa “pendulo” no dialeto napolitano.
Pomodorino Vesuviano
Esse pomodorino de Nápoles é um tomate cereja tão especial que, em 2009, recebeu a classificação DOP, uma sigla que significa Denominação de Origem Protegida, que serve para indicar os produtos agrícolas que têm vínculos fortes com a terra em que são produzidos. Essa classificação determina que cada etapa da produção deve ocorrer na região especificada.
A principal razão desse valor cultural e gastronômico é que sua área de cultivo se encontra ao redor do Monte Vesúvio, justamente ao pé do vulcão, em um solo vulcânico que é rico em nutrientes essenciais, como potássio e fósforo, devido ao ciclo de matérias depositadas ali ao longo de milênios.
Parque Nacional do Vesúvio
Passeios turísticos por essa área são uma chance, portanto, de conhecer não apenas os vinhedos e as vinícolas que estão ao redor do Monte Vesúvio, mas também de degustar esses raros tomates, descritos como tendo uma polpa de grande consistência e um sabor unicamente agridoce.
O cultivo está na área de mais ou menos 130 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Vesúvio. E a comuna mais próxima acrescenta uma razão especial para o interesse dos viajantes. Essa comuna chama-se Torre del Greco, conhecida por ter recebido, em meados do século 19, o poeta que é visto por muitos como o maior poeta italiano depois de Dante: Giacomo Leopardi.
A casa em que Giacomo Leopardi se hospedou pertencia a Giuseppe Ferrigni, cunhado de Antonio Ranieri, grande amigo de Leopardi. A área do casarão teve inicialmente o nome de Villa Ferrigni, mas foi rebatizada como Villa delle Ginestre, em referência ao título do poema que Leopardi escreveu ali, enquanto viveu o fim de sua vida, inspirado pelas pradarias, pela flores e pelo horizonte marcado pela silhueta imponente e temerosa do vulcão. O nome do poema carrega justamente o nome de uma flor amarela que é facilmente encontrada nascendo do solo ao redor do vulcão: La ginestra, o il fiore del deserto (A giesta ou a flor do deserto).
Poema A giesta ou a flor do deserto
Vamos ver a abertura do poema:
La ginestra, o il fiore del deserto
Qui su l’arida schiena
del formidabil monte
sterminator Vesevo,
la qual null’altro allegra arbor né fiore,
tuoi cespi solitari intorno spargi,
odorata ginestra,
contenta dei deserti. Anco ti vidi
de’ tuoi steli abbellir l’erme contrade
che cingon la cittade
la qual fu donna de’ mortali un tempo,
e del perduto impero
par che col grave e taciturno aspetto
faccian fede e ricordo al passeggero.
A giesta, ou a flor do deserto
[tradução de Luiz Antônio Lindo]
Aqui sobre a árida encosta
do formidável monte
exterminador Vesúvio,
onde nada mais cresce, árvore ou flor,
tuas moitas solitárias ao redor espalhas,
perfumada giesta,
feliz com o deserto. Também te vi
com tuas hastes enfeitar os ermos caminhos
que rodeiam a cidade,
a qual foi senhora dos mortais um dia,
e do perdido império
parecer pelo grave e taciturno aspecto
servir de prova e advertência ao que passa.
Destaques de italiano
Com a pesquisa empreendida pelo próprio tradutor, é possível destacarmos efeitos interessantes no emprego de algumas palavras. É o caso de 3 palavras que vimos nestes primeiros 13 versos: arbor, allegra e anco.
O vocábulo “arbor” é do latim (arbore -> árvore) e foi empregado no lugar de “albero”, que seria mais usual no italiano.
O uso de “allegra” é referente a “allegrare”, no sentido geralmente dito sobre as plantas, de “crescer”, “prosperar”. É uma palavra que, numa leitura rápida, poderia parecer ter apenas o sentido que encontramos em “alegrar” e “alegria”.
“Anco” é uma forma antiga de “anche” (também).
Quarentena
Leopardi se mudou para a vila em Torre del Greco buscando, acima de tudo, uma quarentena, para ficar longe o suficiente da epidemia de cólera que se espalhou em Nápoles em 1836.
A colina onde a casa foi construída é localizada em uma área caracterizada pelo acúmulo de fluxos de lava e das giestas que inspiraram o poeta.
Escrito em 1836, o poema foi publicado depois da morte do autor, em 1845, em uma edição organizada e corrigida, seguindo o último entendimento do autor, sob os cuidados do amigo Antonio Ranieri.
Villa delle Ginestre tornou-se um ponto turístico, muito aproveitado também por residente durante planejamentos de excursões escolares. Além da vista para o Vesúvio e dos jardins com giestas, é possível visitar e adentrar também a casa onde Leopardi viveu por um breve período.
Uma das características da alma italiana é ter uma formação geológica e uma história que mesclam infortúnios e desafios civilizatórios determinantes para a construção de uma identidade resiliente, corajosa e criativa. Naturalmente, também através da poesia encontraremos essas marcas que podem inspirar nossas ações e nossos pensamentos.
Após uma leitura completa dos versos, é notável o convite que Leopardi nos faz para olharmos na direção da beleza que há na fragilidade da flor e da vida que desabrocha tão perto dos perigos – como no caso do perigo de erupções do vulcão que já havia destruído Pompeia e Herculano em 79 d.C. Assim o poeta nos posiciona para olharmos para a nossa própria posição diante da natureza e, também, para os nossos valores cegos de progresso.
Se aceitarmos o fato de que não estamos acima da natureza, o bom cultivo de tudo aquilo que nos mantém em comunhão com a natureza é a única resposta consciente que podemos dar em nosso dia a dia.
A terra que é destruída pela lava é também a terra que se torna especialmente fértil para o cultivo de alimentos. É a terra que vibra com o amarelo de uma flor e que inspira o olhar da poesia. É a terra que nos convida a viajar e a aprender os sons e os significados que outro idioma nos guarda como herança.
Por: Paola Baccin Se você acompanha os artigos que estamos publicando, deve ter percebido que língua e cultura são inseparáveis. Aprender verbos, artigos, pronomes, sem inserir esses elementos linguísticos em una cornice culturale [moldura cultural] nos obriga a decorar e repetir sem compreender perfeitamente quando usá-los.
Hoje vamos apresentar três verbos: essere [ser e estar], chiamarsi [chamar-se] e venire [vir], mas vamos fazê-lo falando sobre comunicação intercultural.
A diferença entre o tratamento formal e informal (trattamento formale e informale) vai retornar várias vezes nos nossos artigos, porque a escolha inadequada de um ou de outro pode prejudicar a comunicação, uma vez que atinge o nosso interlocutor de maneira involuntária.
Imaginem que você, já não mais um adolescente, esteja andando pela rua e uma pessoa se dirija a você com um: fala aí, vei, onde fica o metrô? A comunicação existiu, provavelmente você entendeu a pergunta e sabe responder. O problema está no modo como você se sentiu ao ser abordado dessa forma.
Você lembra da primeira vez que um desconhecido lhe tratou por senhor ou senhora? Nesse caso, também, provavelmente percebemos que o tratamento era inadequado, já que ainda nos considerávamos jovens demais e não estávamos prontos para ouvir. A comunicação existiu, mas a nossa “impressão” sobre a pessoa com quem estávamos falando foi prejudicada.
A nossa visão de mundo determina o que consideramos “normal” na comunicação. No Brasil, achamos “normal” pedir uma informação usando a frase: “Oi, desculpe, você pode me dizer…” ou então, “oi, dá licença, você sabe…”, se nos dirigimos a uma pessoa muito mais velha podemos escolhemos dizer algo como “bom dia, o senhor (a senhora) sabe…”.
Na Itália a escolha do tratamento é um pouco mais complexa. Os materiais didáticos, geralmente nos ensinam que há o “trattamento formale” e o “trattamento informale”, mas há também o que eu chamo de “media formalità”.
Il trattamento informale Para o trattamento informale usamos o pronome tu. Os verbos e os pronomes ficam na segunda pessoa e usamos o primeiro nome:
Verbo essere Tu sei italiano? [Você é italiano?] Sei, tu, Pedro? [É você, Pedro?] Sei già stato in Italia? [Você já esteve na Itália?]
Verbo chiamarsi Ti chiami Pedro de Oliveira? [Você se chama Pedro de Oliveira?] Hai chiamato tua moglie? [Você telefonou para a sua esposa?]
Verbo venire Vieni da Salvador di Bahia? [Você vem de Salvador da Bahia?] Sei venuto in macchina o in treno? [você veio de carro ou de trem?]
O trattamento informale é usado quando falamos com amigos, colegas, entre jovens, quando um adulto fala com uma criança ou com um adolescente. E, nesses casos, corresponde ao uso do “tu” ou do “você” em português.
Em italiano o trattamento informale é empregado quando falamos com parentes, não importa a idade. No Brasil, há famílias nas quais os jovens tratam o pai, o avô, os tios, a mãe, a avó, as tias por “o senhor, a senhora”. Na Itália, todos os familiares são considerados íntimos, portanto, o tratamento será sempre informal:
Outra diferença interessante é que, enquanto no Brasil, nas orações, usamos o pronome “vós”, na Itália emprega-se o tu, já que Deus é pai e Maria é mãe, usa-se o trattamento informal:
Padre nostro, che sei nei cieli… [Literalmente: Pai nosso, você que está no céu…] Ave Maria, piena di grazia, il Signore è con te … [Literalmente: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo…]
Até há alguns anos, era impensável que um commesso [vendedor de loja] ou um barista tratasse um cliente usando tu. Hoje, observa-se que, aos poucos, essa é a escolha para reduzir a distância e indicar que há “uma amizade, uma cumplicidade” com o cliente. Ao entrar em uma loja, ou um bar na Itália você pode ouvir diferentes formas de tratamento:
Em caso de dúvida, se você quer reduzir as distâncias, usando o trattamento informale, pode sugerir no momento da apresentação:
Possiamo darci del tu? Posso darti del tu? [Posso tratá-lo por você?]
Mas, atenção! Nunca use, nem sugira, o tratamento informal quando se dirigir a policiais, médicos, enfermeiros, professores, advogados, engenheiros, funcionários públicos, faxineiros, camareiras e outras pessoas que estejam em um papel profissional ou oficial. Nesses casos, ou na dúvida, use sempre o trattamento formale. Il trattamento formale Para o trattamento formale usamos o pronome Lei e nos dirigimos à pessoa com quem estamos falando, usando o sobrenome e, eventualmente, o título. Os verbos e os pronomes ficam na terceira pessoa. Muitos estudantes confundem o pronome pessoal lei e o pronome de tratamento Lei. O primeiro, lei, é usado apenas para falar de (sobre) pessoas do gênero feminino e corresponde a “ela”, em português. Para falar de ou sobre pessoas do gênero masculino usamos lui [ele]:
Lei è mia figlia Anna e lui è mio figlio, Pietro. [Ela é a minha filha Ana, e ele é o meu filho Pietro.] Mia nonna è italiana e mio nonno è spagnolo. Lei è di Belluno e lui è di Madrid. [Minha avó é italiana e o meu avô é espanhol. Ela é de Belluno e ele, de Madri.] O pronome de tratamento Lei não é usado para falar sobre alguém, mas para se dirigir a alguém, portanto, assim como o tu, é usado tanto para o masculino, quanto para o feminino. Em português, corresponde a “o senhor”, “ a senhora”: Verbo essere Lei è italiano? [O senhor é italiano?] Lei è italiana? [A senhora é italiana?] Lei è Pedro de Oliveira? [O senhor é o Pedro Oliveira?] È già stato in Italia? [O senhor (a senhora) já esteve na Itália?] Verbo chiamarsi Lei si chiama Pedro de Oliveira? [O senhor se chama Pedro de Oliveira?] Lei ha chiamato Sua moglie? [O senhor telefonou para a sua esposa?] Verbo venire Viene da Salvador di Bahia? [O senhor (a senhora) vem de Salvador da Bahia?] È venuto in macchina o in treno? [O senhor (a senhora) veio de carro ou de trem?] No Brasil, há alunos que tratam o professor de “você” e o professor sempre trata o aluno por “você”. Na Itália, em sala de aula, e na relação entre docentes e alunos, emprega-se sempre o tratamento formal. O aluno brasileiro de italiano, pensando em como funciona a língua portuguesa, costuma usar signor e signora como pronome de tratamento. Atenção: Lei já significa “o senhor” ou “a senhora”: Buongiorno, prego, si accomodi. [Bom dia, senhor(a), por favor, fique à vontade.] Em situações de alta formalidade pode-se adicionar signore(a) à frase. Buongiorno, signore(a), prego, si accomodi. [Bom dia, senhor(a), por favor, fique à vontade.] Isso equivale a adicionar o título da pessoa com quem estamos falando. No Brasil, à parte os títulos “professor” e “doutor”, não usamos as profissões quando nos dirigimos a uma pessoa. Em italiano, para mostrar respeito, pode-se fazê-lo: Buongiorno, avvocato, prego, si accomodi. [advogado] Buongiorno, architetto, prego, si accomodi. [arquiteto] Buongiorno, ragioniere, prego, si accomodi. [contador] Buongiorno, ingegnere, prego, si accomodi. [engenheiro] Buongiorno, onorevole, prego, si accomodi. [deputado ou senador] La media formalità Vimos que il tratamento informale (tu) é empregado para falar com pessoas amigas, íntimas, jovens e com a família. Il tratamento formale (Lei) é usado para demonstrar respeito, não apenas em relação à idade do interlocutor, mas ao seu cargo, por isso devemos lembrar de usar sempre o Lei em relações profissionais. Para se dirigir a uma pessoa com a qual não temos intimidade, à qual queremos demonstrar respeito, mas, em relação à qual queremos, ao mesmo tempo, diminuir a distância, podemos usar a media formalità. Usamos a terceira pessoa Lei, mas com o primeiro nome. È o caso de suocero e suocera [sogro(a)]. O genro (genero) ou a nora (nuora) podem optar pela media formalità, ou seja usar o primeiro nome e os verbos na terceira pessoa.
Suocero: Ciao, Francesco, come stai? Genero: Salve, Bruno, bene, grazie. Lei piuttosto, come sta? Le sono passati i giramenti di testa? [Sogro: Oi Francesco, como vai? Genro: Oi Bruno, bem, obrigado. Mas e o senhor? Melhorou da tontura?]
I saluti
Na língua falada, para cumprimentar, usamos as seguintes fórmulas que vão do registro mais formal ao mais informal. Aqui, cabe distinguir as fórmulas para cumprimentar quando se encontra alguém ou para se despedir. Quando encontramos alguém podemos dizer buongiorno ou buonasera. A divisão entre giorno e sera não é precisa. O primeiro é usado durante o dia todo, enquanto há luz, por isso, depende também da estação do ano. No verão podemos dizer buongiorno até as cinco da tarde, enquanto no inverno, quando os dias são mais curtos, às 4 horas já se pode dizer buonasera. Não se usa buonanotte para cumprimentar quando se encontra alguém, pois é uma fórmula de despedida. Existe também o buon pomeriggio, que pode ser usado após o meio-dia. É muito menos frequente do que buongiorno. Além dessas duas expressões, na media formalità podemos empregar também salve e no registro informale, ciao ou salve que correspondem ao nosso “oi” ou “olá”.
Para se despedir, o leque de expressões é muito maior. No tratamento formal e na média formalidade emprega-se: arrivederla ou arrivederci que corresponde ao português “até logo”. Além dessas duas, você pode escolher muitas outras formas para se despedir que podem ser usadas em todos os registros: buona giornata, buon pomeriggio, buona serata, buonanotte. Se encontramos pessoas que estão realizando uma atividade, como amigos em um restaurante ou na fila do teatro, podemos nos despedir dizendo: buon prosseguimento. No âmbito da media formalidade e da informalidade podemos dizer, também: a presto, alla prossima. Para despedidas informais temos ainda: ciao, ci vediamo, ci sentiamo. Lembre-se de não usar ciao para se despedir de profissionais, funcionários e todas as pessoas com as quais deve-se usar o tratamento formal.
Scusa ou scusi?
Essa é uma dúvida que se apresenta sempre e que, no momento da comunicação, deve ser resolvida rapidamente. Scusa – trattamento informale Scusi – trattamento formale
Verbo essere
O verbo essere corresponde aos verbos “ser” e “estar” em italiano, veja nos exemplos abaixo: João: Sono brasiliano e tu di dove sei? Vera: Anch’io sono brasiliana, di Brasilia e sono qui in Italia per motivi di lavoro. João: Sono contento di averti conosciuta, perché sono qui da un mese e non ho fatto ancora molte amicizie. Vera: Sei in Italia per la prima volta? João: Eu sou brasileiro e você de onde é? Vera: Eu também sou brasileira, de Brasília e estou aqui na Itália a trabalho. João: Estou feliz por tê-la conhecido, estou aqui há um mês e ainda não fiz muitas amizades. Vera: Você está na Itália pela primeira vez? Presente Io sono Francesco. [Eu sou o Francesco.] Io sono in Italia per lavoro. [Eu estou una Itália a trabalho.] Tu sei bella. [Você é bonita.] Tu sei contenta? [Você está contente?] Lui è brasiliano. [Ele é brasileiro] Lui è in Brasile. [Ele está no Brasil.] Noi siamo autisti. [Nós somos motoristas.] Noi siamo stanchi di lavorare. [Estamos cansados de trabalhar.] Voi siete amici? [Vocês são amigos?] Voi siete a casa? [Vocês estão em casa?] Loro sono marito e moglie. [Eles são marido e mulher.] Loro sono ammalati. [Eles estão doentes.] No passado os verbos essere [ser, estar] e stare [ficar] têm a mesma forma e, em alguns exemplos, podem corresponder ao verbo “ir” em português, sobretudo a frase “você já foi à Itália?” corresponde a “sei mai (già) stato in Italia?”: Passato
Verbo essere Verbo stare
Io sono stato in Italia l’anno scorso. Io sono stato a casa, non sono uscito. [Eu estive (fui) à Itália o ano passado.] [Eu fiquei em casa, não saí.] Tu sei mai stata in Sicilia? [Você ja esteve (foi) à Sicilia?] Tu sei stata bene a casa loro? [Você ficou bem na casa deles?]
Verbo chiamarsi
O verbo chiamarsi corresponde ao verbo “chamar-se” e na sua forma não reflexiva corresponde também a “telefonar”. Todos os verbos reflexivos pedem o auxiliar essere nos tempos compostos como o passato.
Presente Passato Mi chiamo Mi sono chiamato(a) Ti chiami Ti sei chiamato(a) Si chiama Si è chiamato(a) Ci chiamiamo Ci siamo chiamati(e) Vi chiamate Vi siete chiamati(e) Si chiamano Si sono chiamati(e)
Verbo venire
O verbo venire corresponde ao verbo “vir” pede o auxiliar essere nos tempos compostos como o passato e deve ser considerado sempre em relação ao verbo andare. Em outro artigo trataremos especificamente do emprego desses dois verbos que, em muitos casos, não corresponde ao português. Presente/ Passato
Vengo spesso in Italia. Sono venuto(a) due volte in Italia.
Vieni con me al supermercato? Sei venuto(a) anche tu al supermercato?
Viene anche lei a Roma? È venuto(a) a Roma in treno.
Veniamo domani. Siamo venuti(e) ieri.
Venite dalla nonna? Siete venuti(e) dalla nonna insieme?
Vengono stamattina. Sono venuti(e) ieri mattina.
Texto: Paola Baccin Desenhos: Airam Ribeiro Sobre a autora: Paola Baccin é docente nos cursos de graduação e pós-graduação em língua e literatura italiana da Universidade de São Paulo.