Ao aprender uma nova língua, existe uma capacidade em especial que nos permite adquirir confiança na hora de organizar as ideias e transformá-las em fala ou em escrita. É a capacidade de criar frases com ponderações, que expressem como está estruturado o nosso pensamento sobre determinado assunto. Ou seja, frases que não são apenas afirmações ou perguntas.
Quando conseguimos comunicar incertezas, nosso raciocínio se torna mais compreensível tanto para nós quanto para as pessoas que nos escutam. Se alguém nos faz uma pergunta simples – por exemplo: Cosa farai il prossimo fine settimana? (O que você fará no próximo fim de semana?) – , nem sempre teremos uma resposta simples e certeira para dar. Pode ser que a nossa resposta dependa de alguns outros fatores que não foram mencionados pela pessoa que nos dirigiu a pergunta, ou então nem temos certeza ainda da resposta que queremos dar.
Por essas razões, é fácil percebermos que a fluidez do nosso pensamento depende exatamente da nossa capacidade de calcular os elementos que determinam as diversas possibilidades das nossas ações e da nossa fala. Naturalmente, conhecer as palavras que representam certas “curvas” em nossas ideias é o que pode destravar a nossa própria compreensão do que estamos querendo dizer. É assim que funciona em nossa alfabetização na língua materna, também assim funciona ao aprendermos um novo idioma.
Para avançarmos melhor nos caminhos que o pensamento precisa percorrer ao se habituar ao italiano, ou a qualquer outro idioma, é importantíssimo não decorarmos perguntas e respostas prontas. Frases de uso repetido podem ser muito úteis, claro, são de rápida solução para diversas situações, mas se acrescentarmos algumas palavras extras em nosso vocabulário, podemos notar uma grande expansão na comunicação.
Em outras palavras, o conforto de se expressar em italiano também pode ser medido pela capacidade de criarmos frases que contenham hipóteses e probabilidades. É o que chamamos de discurso de reflexão ou discurso argumentativo.
No italiano existem muitas palavras que servem especialmente a este propósito. Aqui veremos de perto algumas dessas palavras, são elas: può darsi, forse, magari, è capace, può essere, probabilmente e chissà.
Após esta breve leitura, você compreenderá como é a variação do uso de cada uma dessas palavras em frases do cotidiano.
1) Può darsi e può essere (pode ser)
“Può darsi”, diferentemente de algumas palavras que veremos neste artigo, necessita geralmente do acompanhamento do conectivo “che” – da mesma maneira que fazemos com “pode ser que”.
Può darsi che tu abbia ragione, ma vorrei approfondire ulteriormente l’argomento.
Pode ser que você esteja certo, mas gostaria de aprofundar mais o assunto.
Agora observe a diferença de uma frase que não contasse com essa expressão. Se, na falta de domínio deste uso, algum estudante de italiano optasse por falar algo mais direto, poderia acabar parecendo menos cordial. Imagine a seguinte fala:
Non so se hai ragione. Mi piacerebbe approfondire ulteriormente l’argomento.
Não sei se você está certo. Eu gostaria de aprofundar mais o assunto.
Percebe a diferença no efeito de sentido? A utilização de um advérbio como “può darsi” dá à comunicação dessa frase em especial uma qualidade que é a da ponderação. Para o ouvinte fica claro que existe a possibilidade de ele(a) estar certo(a) e que, portanto, não está sendo feito um juízo de valor.
Vejamos outro caso, agora com “può essere”:
Sto leggendo molti libri di fantascienza, può essere che tu ti interessi a questo genere.
Estou lendo muitos livros de ficção científica, pode ser que você se interesse por esse gênero.
Aqui, a falta de domínio do advérbio não necessariamente comprometeria o falante a ponto de alterar o efeito do que está sendo comunicado. É possível criar o mesmo efeito de sentido com uma estrutura semelhante, que utiliza do mesmo raciocínio que já aprendemos:
Sto leggendo molti libri di fantascienza, penso che potresti essere interessato a questo genere.
Estou lendo muitos livros de ficção científica, acho que você pode se interessar por esse gênero.
Em outras situações, podemos utilizar “può essere” para concluir uma ideia, apresentando apenas um complemento para a frase, sem precisarmos utilizar o “che”, algo que não podemos fazer com “può darsi”. Veja:
Penso che il tuo piano sia fattibile, può essere una buona idea.
Acho que o seu plano é viável, pode ser uma boa ideia.
2) Forse (talvez)
Aqui não há mistério: o uso de “forse” se aproxima muito do que fazemos com “talvez”. Casos simples são comuns no dia a dia e, por isso, facilmente podemos incorporar “forse” em nossa fala:
Hai studiato abbastanza, forse supererai l’esame.
Você estudou o suficiente, talvez passe no exame.
Ho preso l’ombrello, forse più tardi pioverà
Eu peguei meu guarda-chuva, talvez chova mais tarde.
É também muito comum utilizarmos no italiano o “forse” como uma maneira respeitosa de iniciar uma ponderação e, assim, apresentar condições de realização de determinado cenário. Como resultado, temos uma fala que pode demonstrar consideração pela pessoa com quem estamos falando. Um bom exemplo seria o seguinte:
Forse, se ti sforzi di più, otterrai risultati migliori negli studi.
Talvez, se você se esforçar mais, obterá melhores resultados nos estudos.
3) Magari (talvez, quem sabe, quem dera, eventualmente)
Esta é uma daquelas palavras mágicas que, dependendo da nossa entonação e do contexto, pode carregar ironia e o sentido de uma frase inteira! É possível utilizá-la, sozinha, para responder a uma pergunta, ou também para apresentar a possibilidade dentro de frases mais longas.
Por essa razão, por ter mais possibilidades de significação, magari acaba sendo menos utilizada no sentido de “talvez”, e é mais comum vermos o uso de “forse” nesse sentido.
Mesmo assim, é possível criar frases do tipo:
Vorrei migliorare il mio italiano, magari potrei iscrivermi a un corso.
Eu gostaria de melhorar meu italiano, talvez eu possa me inscrever em um curso.
E podemos expressar uma ideia de impossibilidade e um certo desejo de que determinada coisa fosse possível. Parece complicado? Na verdade, é simplesmente o que já fazemos com “quem dera!”. Veja o seguinte diálogo:
Andrai in Italia, durante le vacanze di quest’anno?
Você viajará para a Itália nas férias deste ano?
Magari!
Quem dera!
Outra situação bastante interessante é quando utilizamos “magari” para expressar uma possibilidade eventual de que algo se realize. Observe:
Magari riuscirò a visitare tutti i musei di questa città.
Eventualmente, conseguirei visitar todos os museus desta cidade.
4) È capace (é capaz/é possível)
Agora chegamos numa palavra que, por ser muito parecida com a expressão que temos em português, poderia dar a impressão de que não há como errar. Mas vale a pena irmos mais a fundo, até a origem da palavra que herdamos do latim.
O adjetivo “capace” vem do latim “capax”, que deriva do verbo “càpere”, que significa “conter”. Portanto, significava, antes de tudo, algo como “ser capaz de conter”. Ao longo da história, esse verbo se desenvolveu e, a partir do clássico “càpere”, surgiu o latim tardio “capìre”, que entrou no italiano com o mesmo significado (raro) de “conter”, de onde vem, por exemplo, “capiente”; e, principalmente, com o sentido figurado de “conter na mente”, “compreender”, ou seja, “capire”.
Quanto a “capace” e seu derivado “capacità”, temos o significado sobre as capacidades de uma pessoa, aquilo que é sua “habilidade” (abilità). Por isso, preste atenção: neste caso, o uso requer o “di”: a pessoa é “capace di” tocar violino (capace di suonare il violino).
E, finalmente, existe a forma que aqui estamos buscando compreender: “capace” com significado de “possível” (possibile). Neste caso, o uso deve ser seguido pela conjunção “che”.
Exemplos:
Ho ricevuto una buona offerta di lavoro, è capace che accetti.
Recebi uma boa oferta de trabalho, é possível que eu aceite.
Se studi abbastanza, è capace che superi l’esame senza problemi.
Se você estudar bem, é possível que passe no exame sem problemas.
5) Chissà e probabilmente (quiçá e provavelmente)
O uso dessas duas é muito semelhante ao que já temos no português. Ambas as palavras são usadas para expressar diferentes graus de possibilidade. Enquanto “chissà” pode expressar incerteza e a falta de conhecimento sobre algo, “probabilmente” indica uma maior probabilidade ou chance de algo acontecer.
Questo libro è molto interessante, ma chissà se avrò il tempo di leggerlo tutto.
Este livro é muito interessante, mas quem sabe se terei tempo de lê-lo inteiro.
Probabilmente mi fermerò a cena fuori dopo il lavoro.
Provavelmente vou jantar fora depois do trabalho.
A ampliação de vocabulário é um exercício que só se realiza por completo quando fazemos associações pessoais com temas que sejam do nosso interesse. E, é claro, isso sempre varia de pessoa para pessoa. Por isso, o estudo deve ser sempre uma ação consciente, em que os estudantes buscam ampliar seus interesses e, assim, descobrir o que mais, além das palavras, pode ser de grande interesse no aprendizado de determinado idioma.
Aqui na ITALICA entendemos que a cultura cumpre esse importante papel de expansão da mente e dos interesses, pois na bagagem cultural estão todas as manifestações criativas de um povo – como é o caso da música e dos costumes regionais.
Para saber mais sobre a Itália, continue sempre de olho em nossos conteúdos e, aproveitando que está aqui no blog, continue sua leitura de outros artigos, como o Terra fértil e poesia no Vesúvio, em que exploramos um pouco das práticas de cultivo agrícola em solo vulcânico e acabamos descobrindo sobre a imensidão poética de Giacomo Leopardi.
