A Itália é uma terra rica em cultura e tradição, e sua contribuição para o mundo do cinema é imensurável. Ao longo dos anos, o cinema italiano conquistou reconhecimento global, inspirou gerações de cineastas e desempenhou um papel fundamental na história da sétima arte. Hoje vamos explorar um pouco mais da fascinante história do cinema italiano e do impacto internacional das mostras de cinema da Itália.
O Nascimento do Cinema Italiano
A história do cinema italiano remonta ao início do século XX, quando os pioneiros irmãos Lumière exibiram seus filmes em Milão e Roma, em 1896. Essas exibições inaugurais deixaram uma impressão duradoura e rapidamente inspiraram cineastas italianos a entrar na indústria nascente. Os primeiros filmes italianos eram, naturalmente, mudos, como os curtas documentais de 1896: Sua Santità papa Leone XIII e Sua Maestà il Re Umberto e Sua Maestà la Regina Margherita a passeggio per il parco a Monza (“Umberto e Margherita de Saboia caminhando no parque”), ambos de Vittorio Calcina. E, logo depois, também filmes com atores, como a dramatização “La presa di Roma,” dirigido por Filoteo Alberini, em 1905, retratando a captura de Roma na unificação de 1870. Esse evento histórico, assim como outros fatos da história italiana, serviam de grande inspiração para as primeiras produções cinematográficas.
La presa di Roma (1905)
O verdadeiro impulso para o cinema italiano veio com a criação de estúdios de produção e a popularização de gêneros como o “Cinema Mudo Cabaré” e o “Cinema Divino.” Filmes como “Cabiria” (1914), dirigido por Giovanni Pastrone, conquistaram plateias tanto na Itália quanto no exterior. A influência do cinema italiano cresceu ainda mais com o desenvolvimento da comédia italiana, representada por artistas como Toto e Alberto Sordi.
Totò, o príncipe da risada
O Neorrealismo Italiano
No final da Segunda Guerra Mundial, o cinema italiano passou por uma revolução com o surgimento do movimento do neorrealismo. Cineastas como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Cesare Zavattini começaram a produzir filmes que retratavam a vida cotidiana das pessoas com grande autenticidade. O clássico “Ladrões de Bicicletas” (Ladri di biciclette) de De Sica, lançado em 1948, é frequentemente considerado um dos melhores exemplos do movimento. Esses filmes capturaram a luta das pessoas comuns e os desafios enfrentados pela Itália no pós-guerra.
Ladri di biciclette
Assista ao trailer de Ladri di bicicletteclicando aqui.
Ladri di biciclette (1948)
A Era Dourada do Cinema Italiano
A década de 1960 viu o surgimento da “Era Dourada” do cinema italiano, quando diretores como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni e Luchino Visconti produziram obras-primas que definiriam o cinema mundial. Fellini cativou o público com filmes como “A Doce Vida” (La Dolce Vita) e “Oito e Meio” (8½), que exploraram a psicologia e a decadência da sociedade.
La dolce vita
Antonioni, por sua vez, dirigiu filmes enigmáticos e introspectivos como “Blow-Up – Depois Daquele Beijo” (Blow-Up) e “A Aventura” (L’Avventura), que desafiaram as convenções narrativas tradicionais. Visconti, conhecido por sua abordagem opulenta e meticulosa, trouxe à vida obras-primas como “O Leopardo” (Il Gattopardo), baseado no romance de mesmo nome, escrito pelo italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Otto e mezzo (1963)
Mostras de Cinema na Itália
Durante todo esse período de ouro, as mostras de cinema na Itália desempenharam um papel vital na promoção do cinema nacional e internacional. A mais prestigiada delas é o Festival Internacional de Cinema de Veneza, fundado em 1932. Veneza se tornou o local onde cineastas de todo o mundo apresentaram suas criações mais recentes. O festival é famoso por seu prêmio principal, o Leão de Ouro, que reconhece a excelência cinematográfica.
Outra mostra significativa é o Festival de Cinema de Cannes. E embora esteja localizado na França, muitos cineastas italianos, incluindo Federico Fellini e Roberto Benigni, receberam prêmios importantes em Cannes. A Itália também tem mostras de cinema dedicadas a gêneros específicos, como o Festival de Cinema de Giallo, que homenageia o cinema de suspense italiano (Giallo, neste caso, é referência ao gênero literário e cinematográfico italiano de suspense e de romance policial, devido ao fato de que o amarelo, giallo, era a cor das capas de uma série de revistas e livros policiais na Itália, publicados a partir de 1929).
Os anos 70 e além
A década de 1970 viu a ascensão de diretores como Bernardo Bertolucci, cujo filme “O Último Tango em Paris” causou grande impacto global. Depois dessa fase, o cinema italiano continuou a evoluir, tendo como influência importante os movimentos políticos, sociais e culturais da época.
Nos anos 80 e 90, explorou uma ampla gama de gêneros e estilos, como as comédias de sucesso de Roberto Benigni, sendo a de maior destaque internacional “A Vida é Bela” (La Vita è Bella), que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1999.
La Vita è Bella
La Vita è Bella (1997)
O Cinema Italiano Hoje
Hoje, o cinema italiano mantém uma presença forte e vibrante na cena cinematográfica global. Cineastas contemporâneos como Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza”) e Matteo Garrone (“Gomorra”) continuam a impressionar o público internacional com seu trabalho.
As mostras de cinema na Itália também estão mais vivas do que nunca. Além de Veneza, o Festival de Cinema de Roma e o Festival de Cinema de Turim são eventos importantes que celebram o cinema em suas diversas formas.Por isso é que, com grande honra, inauguramos a nossa 1ª Mostra ITALICA de Cinema Italiano, de 05 a 08 de outubro de 2023, em que disponibilizamos 4 filmes inéditos em exibição gratuita: “La città invisibile”, “Mi chiamava Valerio”, “Fuori dal coro” e “La finestra di Alice”. Para se inscrever e descobrir como está sendo o nosso evento, é só clicar aqui! Venha assistir com a gente!
É uma história de paixão, criatividade e inovação. Desde seus primeiros dias até o presente, o cinema italiano cativou audiências em todo o mundo com sua beleza, autenticidade e profundidade. As mostras de cinema na Itália desempenham um papel vital na promoção do cinema nacional e internacional, proporcionando um espaço onde as obras-primas do cinema são celebradas e reconhecidas. Por todas essas razões, o cinema italiano continua a ser uma parte fundamental da cultura cinematográfica global e continuará a inspirar cineastas e amantes do cinema por gerações futuras.
A Itália é uma nação que valoriza profundamente a família e as tradições. Uma dessas tradições que encanta os italianos e é motivo de celebração todos os anos é ” la Festa dei Nonni,” o Dia dos Avós. Esta festividade, que por lá acontece no dia de hoje, 2 de outubro, honra e celebra o papel fundamental que os avós desempenham na vida das famílias italianas e na transmissão de valores, de histórias e amor às gerações mais jovens.
Origens da Festa dei Nonni
A Festa dei Nonni é uma celebração relativamente recente na Itália, tendo sido oficialmente instituída em 2005. A data escolhida, 2 de outubro, coincide com a festa religiosa dos Arcanjos Gabriel, Rafael e Miguel, que têm uma conexão com a figura dos avós na tradição cristã. No entanto, a ideia de homenagear os avós e seus papéis na família não é nova na cultura italiana.
A importância dos avós na sociedade italiana remonta a séculos, quando a vida familiar era mais centralizada e as famílias frequentemente viviam juntas em grandes lares multigeracionais. Os avós, portanto, desempenhavam um papel crucial na criação e na educação das crianças, transmitindo tradições, histórias e sabedoria acumulada ao longo de suas vidas.
Reunião em Homenagem aos Avós
Na ocasião da Festa dei Nonni, os italianos têm a chance de expressarem seu amor e gratidão pelos avós de várias maneiras calorosas e afetuosas. As crianças frequentemente fazem cartões e presentes caseiros para seus avós, demonstrando seu carinho e apreço. As escolas e creches também organizam atividades especiais, como apresentações de música e dança, envolvendo os avós e as crianças.
Uma tradição comum é que as famílias se reúnam para uma refeição especial em homenagem aos avós. Os pratos tradicionais italianos, como massas, lasanhas, e sobremesas, como o tiramisù, são preparados com carinho para a ocasião. Não é apenas uma oportunidade de compartilhar uma refeição deliciosa, mas também um momento para compartilhar histórias de família e criar memórias duradouras.
O papel dos avós na sociedade italiana
Os avós desempenham papéis únicos e especiais na sociedade italiana. Como dissemos, eles são como os guardiões da tradição e da cultura familiar. Sua sabedoria acumulada ao longo dos anos é uma fonte inestimável de orientação e aconselhamento para as gerações mais jovens. Por isso, os momentos de reunião familiar são oportunidades para que os avós se expressem e recebam grande atenção, podendo então contar histórias sobre as vivências da família, e sobre suas próprias experiências de vida em eventos passados. Tudo isso ajuda a manter viva a conexão com as raízes familiares.
Além disso, os avós cumprem um papel ativo na educação e no cuidado das crianças. Muitas famílias italianas contam com os avós para ajudar na criação de seus netos, proporcionando um ambiente amoroso e seguro enquanto os pais se dedicam ao trabalho. Essa colaboração intergeracional é uma característica importante da sociedade italiana e fortalece os laços familiares.
Nonni di São Paulo (Mostra sobre avós italianos no Museu da Imigração de SP, em 2020)
Por todas essas razões, é profundo o significado da Festa dei Nonni. Mais do que apenas uma celebração anual, ela carrega a essência do respeito que define os núcleos familiares, um lembrete constante da importância dos avós na vida das famílias italianas, como verdadeiras fontes de amor, conhecimento e estabilidade.
O tempo passado, o presente e a possibilidade de um futuro
A tradição de celebração também ajuda a manter a memória e o legado dos avós que já se foram. Nas conversas e histórias compartilhadas durante a Festa dei Nonni, as lembranças dos avós falecidos são mantidas vivas e continuam a influenciar as vidas de seus descendentes.
Através desta festa, a Itália celebra portanto a sabedoria acumulada em sua cultura e reforça o valor de se buscar manter a família unida. É uma lembrança anual do legado dos avós que continua a moldar a cultura e a sociedade italianas. Afinal, os nonnos e as nonnas são figuras representativas da possibilidade de se existir, cada integrante da família, no tempo presente. Enfatiza-se assim o percurso que garantiu a vida de cada familiar, e por isso a importância da gratidão e da continuidade do trabalho árduo de se manter a vida seguindo bem ao futuro.
Todos esses valores são considerados pilares fundamentais da sociedade italiana e são transmitidos de geração em geração com a orientação amorosa dos avós.
Sabe aquele famoso gesto italiano feito com as pontas dos dedos reunidas e a mão em movimento? Tão famoso que até se tornou um emoji recentemente. Pois é, todo mundo que quer imitar um italiano acaba recorrendo a esse “estereótipo” da gesticulação.
Mas, afinal, o que significa esse gesto? E a gesticulação, de modo geral, será mesmo apenas um estereótipo?
Entendendo os gestos
Vamos começar respondendo à primeira pergunta: esse gesto é geralmente associado ao significado de “Che vuoi?” (“O que você quer?”)
Isso mesmo, uma frase inteira pode ser entendida com um simples gesto. Isso é o que chamamos de linguagem não-verbal e é parte fundamental da comunicação dos italianos, que não têm apenas esse gesto. São tantos outros que podemos dizer, sem exagero, que os italianos sabem falar com as mãos. Pois é, não é apenas um estereótipo!
A expansão da linguagem dos gestos
Existe até livro sobre o assunto. “Mani che parlano: gesti e psciologia della comunicazione”, de Isabella Poggi e Emanuela Magno Caldognetto (1997), faz um apanhado de 250 gestos muito utilizados pelos italianos no cotidiano.
E não é apenas este livro que aborda o tema. O número de publicações passa de uma dezena e isso demonstra a importância da gesticulação para a comunicação na cultura italiana. É como se as palavras não bastassem para expressar tudo que a pessoa está sentindo ou pensando. Ou então, como se fosse possível poupar algumas palavras para que o sentido fosse passado adiante com menos esforço.
E quais as origens históricas dessa característica?
Uma das primeiras publicações a se aprofundarem no tema foi publicada em 1832: “La mimica degli antichi investigata nel gestire napoletano”, de Andrea de Jorio, arqueólogo italiano, o primeiro etnógrafo a estudar a linguagem corporal.
Descobrimos, com essa leitura, que uma das teorias sobre a origem dos gestos remonta à época do Império Romano, que abrangia territórios habitados por povos distintos.
Os gestos, portanto, ajudariam a resolver problemas de comunicação, representando ações, sentimentos, ideias… exatamente como uma lingua de sinais!
No caso específico de um vasto Império, saber gesticular seria uma poderosa estratégia de comunicação, uma ferramenta ao alcance de todos. As pessoas podiam juntar as mãos, levá-las ao rosto, mostrar dedos, fazer movimento rápidos, tudo isso para se somar às palavras e garantir mais efeito e clareza nas conversas.